Olimpíadas em Paris: foram investidos 1,4 bilhão de euros na limpeza do Rio Sena. Mas será que funcionou?

O Rio Sena passou com um processo de limpeza de cerca de 1.4 bilhão de euros para sediar as Olimpíadas 2024 em Paris. Mas será que o rio está seguro para receber os atletas?

França
Rio Sena será palco das Olimpíadas 2024 em Paris após um processo de revitalização de 1.4 bilhão de euros. Foto: Tomas Van Houtryeve.

Na última quarta-feira (17), a prefeita de Paris, Anne Hidalgo, nadou no rio Sena antes dos jogos das olimpíadas começarem para provar que o rio está limpo e apto para os atletas do evento.

Isso aconteceu após um ambicioso projeto de limpeza de 1,4 bilhão de euros no rio que servirá como palco para a cerimônia de abertura olímpica, e também para as competições de natação.

Mas como foi realizada a limpeza de um dos rios mais poluídos do mundo?

Era proibido nadar no Rio Sena devido aos altos níveis de poluição

Primeiro temos que voltar um pouquinho no tempo para entender como o rio Sena se tornou tão sujo assim. Durante séculos, o rio foi um depósito de resíduos de sabão em pó, dejetos humanos e restos de animais jogados pelos açougueiros medievais.

Paris
O Rio Sena já era muito poluído no século XIX por causa do resíduos das indústrias e dos esgotos. Foto: EJ Berdford.

No século XIX, as águas residuais de fábricas e provenientes do esgoto eram frequentemente descarregadas diretamente no Rio Sena. A partir de então, um novo sistema de esgoto foi desenvolvido em Paris durante o projeto de renovação urbana do planejador Barão Haussmann ao longo da segunda metade do século XIX. Mas isso se tornou ainda mais tóxico para o Rio Sena.

Por volta de 1991, a Autoridade de Saneamento da Grande Paris realizou grandes investimentos para modernizar as redes de saneamento e revitalizar a infraestrutura na estação de tratamento Seine Aval, responsável por parte das águas residuais da região.

Em 2015, a cidade lançou o plano natação com o intuito de limpar o Sena e torná-lo nadável até as Olimpíadas de 2024.

Conexões ausentes ou defeituosas com o esgoto de mais de 20 mil casas na capital foram restauradas, e cerca de 300 barcos, que antes despejam diretamente no rio, também foram conectados à rede de esgotos. Além disso, sistemas de purificação mais eficientes, utilizando luz ultravioleta, melhoraram o desempenho das estações de purificação.

Mas também foi construída uma grande bacia de 50 metros quadrados, equivalente a 20 piscinas olimpíadas, que será capaz de armazenar parte do esgoto e da água da chuva, e assim, transportá-los através do sistema de bombeamento. O trabalho foi complexo devido a malha de ferrovias existente na cidade.

O Rio Sena estará limpo o suficiente na abertura das Olimpíadas?

Embora a cidade tenha trabalhado duro para limpar o rio, eventos de chuva podem elevar o nível de coliformes fecais além do limite de 900 unidades formadoras de colônias por 100 mililitros, segundo determinação da Federação Mundial de Triatlo.

Testes oficiais da cidade mostraram que os níveis de coliformes na ponte Pont Alexandre III, onde os eventos de triatlo serão realizados, estavam acima dos níveis aceitáveis em 22 dos 30 dias entre 3 de junho e 2 de julho, potencialmente expondo os atletas a sérios riscos à saúde, afirmou Metin Duran, professor de engenharia civil e ambiental na Universidade Villanova.

A prefeita de Paris prometeu que o Sena estaria limpo o suficiente para sediar as competições.

Os testes de qualidade da água ainda não permitem ter certeza de que as condições serão as melhores para competir. Mas as coisas parecem estar melhorando. Em seis dos últimos sete dias de análise da água, entre 10 e 16 de julho, ela foi considerada suficientemente limpa, de acordo com o Conselho Municipal.

Por enquanto resta esperar para saber se a qualidade da água realmente estará apta e segura para receber as competições olimpíadas e paraolimpíadas. Até 2025, a meta é abrir mais 3 pontos de natação públicos ao longo do rio, onde nadar era ilegal há mais de um século.