Onda de calor na Antártica causa rápido derretimento de neve

Após uma intensa onda de calor que fez com que as temperaturas chegassem a valores recordes, a Ilha Eagle, na Península Antártica, perdeu cerca de 20% de neve e gelo em apenas 9 dias! Satélites da NASA capturaram as drásticas mudanças.

Derretimento de gelo na Antártica
Fotos da Ilha Eagle no dia 04 de fevereiro (esquerda) e 13 de fevereiro (direita) registraram o drástico derretimento de gelo. Fotos: Landsat 8/NASA.

O verão de 2019/20 tem sido marcado por extremos recordes no continente antártico. No dia 06 de fevereiro a temperatura chegou a 18,3°C na Base Esperanza, um novo recorde histórico de temperatura máxima! Este não foi um registro isolado, já que outras estações, principalmente no extremo norte da Península Antártica, registraram temperaturas entre 15 e 20°C entre os dias 5 e 13 de fevereiro.

Alguns dias depois desse registro, no dia 09 de fevereiro, uma estação de pesquisa brasileira na Ilha Seymour fez uma medida de 20,7°C, porém essa medida ainda não foi oficialmente verificada pela Organização Meteorológica Mundial (OMM). Se verificada, esse será o primeiro registro de temperatura acima de 20°C na Antártica e também em toda região ao sul de 60 ° de latitude.

Imagens registradas pelo satélite Landsat 8, da NASA, capturaram o rápido derretimento de neve da Ilha Eagle, localizada na Península Antártica, decorrente das altas temperaturas. As imagens adquiridas nos dias 04 e 13 de fevereiro ilustram o drástico antes e depois. No dia 04 a ilha estava quase toda coberta por gelo e neve enquanto que no dia 13 já era possível observar grandes extensões de terra e partes azuis, que representam regiões em que a neve foi saturada pela água devido ao derretimento.

Mauri Pelto, glaciologista da Faculdade Nichols, disse ao Earth Observatory da NASA que derreteram 106 milímetros de neve no total entre 4 a 13 de fevereiro, isso quer dizer que cerca de 20% da acumulação sazonal de neve na região derreteram em apenas 9 dias! De acordo com Pelto, esses tipos de eventos de derretimento costumam ocorrer geralmente no Alasca e na Groelândia, mas não na Antártica.

A onda de calor de fevereiro foi o terceiro evento de forte aquecimento durante este verão, houve grandes aquecimentos como este em novembro de 2019 e janeiro de 2020. Além do calor recorde e do rápido derretimento, um iceberg de mais de 300 km², tamanho similar ao da cidade de Belo Horizonte, se desprendeu da geleira da Ilha Pine.

Essa onda de calor foi causada pela combinação de alguns fatores meteorológicos. Uma crista de alta pressão se instalou entre o Cabo Horn, no extremo sul da América do Sul, e a Península Antártica, permitindo o transporte de calor para a Antártica. Este tipo de padrão é comum de ocorrer, porém normalmente a Península Antártica é protegida pelos fortes ventos de oeste que sopram nos altos níveis da atmosfera. No entanto estes ventos estavam mais fracos que o normal nesse período, permitindo a entrada de calor no continente gelado. Além disso, a temperatura da superfície do mar entorno da região esteve 2 a 3°C acima da média e os fortes ventos secos, chamado ventos Foehn, também contribuíram com a elevação das temperaturas.

De acordo com os cientistas, o evento desse ano pode não ser tão significativo, mas revela uma tendência que tem sido observada nos últimos anos, de aumento de extremos de calor no continente antártico. Embora a Antártica como um todo não tenha esquentando tanto desde meados do século 20, em algumas estações ao longo da Península Antártica as temperaturas subiram quase 3°C entre os anos de 1950 e os anos 2000, superando a taxa média de aquecimento global!