Ondas de calor em pleno inverno atingem países da América do Sul com temperaturas de quase 40°C

Tudo ao contrário! Temperaturas quentes de verão sendo registradas em pleno inverno do Hemisfério Sul. O que está causando essas ondas de calor? Qual a tendência para o futuro?

Altas temperaturas no inverno
Você já imaginou uma temperatura de 39°C na estação do inverno? Cidades da América do Sul estão enfrentando uma onda de calor atípica.

O inverno do Hemisfério Sul corresponde aos meses de junho a setembro, apresentando as temperaturas mais baixas do ano. Porém, essa temporada tá diferente! As temperaturas em partes do Chile e no norte da Argentina subiram de 10°C a 20°C acima da média nos últimos dias.

Temperaturas de verão no inverno

Cidades na Cordilheira dos Andes atingiram 38°C ou mais, enquanto Buenos Aires registrou temperaturas acima dos 30°C, quebrando o recorde anterior de agosto em mais de 5°C.

Na cidade de Rivadavia, na Argentina, as temperaturas atingiram um pico de 39°C em pleno inverno austral.

É válido lembrar que é no meio do inverno nesta parte do planeta (hemisfério sul), e tão ao sul que as variações sazonais têm um impacto significativo nas temperaturas. Buenos Aires, por exemplo, está tão ao sul quanto o Japão, o Tibete ou o estado do Tennessee, nos Estado Unidos, estão ao norte.

Em Vicuña, uma das cidades dos Andes chilenos que recentemente atingiu 37.3°C, um dia típico de agosto pode ser de 18°C ou mais, agora imagine que está 20°C mais quente que o normal no local que você reside. Somente em agosto de 1951 foi registrada uma temperatura mais alta que 37.3°C, em Copiapó, no Chile

Em termos de desvio das temperaturas que você pode esperar em um determinado local e época do ano, essa onda de calor é comparável, se não maior, às recentes ondas de calor no sul da Europa, nos EUA e na China.

Qual o motivo desse calor extremo?

Nos últimos seis dias, uma área persistente de alta pressão (anticiclone) permaneceu a leste dos Andes, também conhecido como um sistema de bloqueio, é o principal fator do calor intenso.

O bloqueio de anticiclones pode gerar ondas de calor de várias maneiras, e uma delas é o transporte do ar mais quente na região do equador em sua direção.

Segundo, o sistema também comprime e retém o ar, aquecendo-o, como foi o caso da onda de calor de 2021 no noroeste do Pacifico, que quebrou o recorde canadense de temperatura em quase 5°C.

Finalmente, a alta pressão significa que há pouco ar ascendente e, portanto, pouca cobertura de nuvens. Isso permite que o sol aqueça a terra continuamente durante o dia, acumulando o calor.

A influência do El Niño

A onda de calor no Chile e na Argentina pode ter sido ocasionada pelo desenvolvimento do El Niño no Oceano Pacífico. Os eventos de El Niño, que normalmente ocorrem a cada quatro anos, são caracterizados por temperaturas quentes e anomalias da superfície do mar no Pacifico tropical centro-leste.

As temperaturas no Pacifico central estão atualmente cerca de 1°C acima da média para a época do ano.

Mas o que essas temperaturas elevadas significam? Elas tornam o ar menos denso sobre o Pacífico central, provocando a ascensão desse ar. Isso leva a mudanças nos padrões de circulação atmosférica mais longe, e para a América do Sul, significa pressão mais alta e temperaturas de inverno mais quentes.

Além disso, a mudança climática piorou! O sistema de bloqueio que impulsiona o calor extremo provavelmente teria levado a temperaturas mais quentes, mesmo na ausência de mudanças climáticas antropogênicas. No entanto, o rápido aquecimento da mudança climática permitiu que a onda de calor se tornasse verdadeiramente sem precedentes.

Inverno cada vez mais quente

O Chile já experimentou os efeitos da mudança climática recentemente por meio de uma forte onda de calor no final do verão, resultando em várias mortes por incendios florestais, bem como uma mega-seca de uma década. Os especialistas esperam ver os recordes de temperaturas quebrados à medida que o planeta continua a aquecer. Isso ocorre porque a distribuição de temperaturas possíveis está mudando cada vez mais alto.

As temperaturas mais altas agora parecem ter diminuído amplamente nos Andes. Porém, as temperaturas ainda estão bem acima da média no norte da Argentina, Bolívia e Paraguai, e assim permanecerão pelo próximos cinco dias.

Os impactos das ondas de calor do inverno são menos compreendidos do que as ondas de calor no verão. Para o Chile, o impacto mais provável é o acúmulo de neve nas montanhas, que fornece água para o consumo, agricultura e geração de energia. Assim, qualquer derretimento da camada de neve provavelmente também afetará a diversidade da fauna e flora encontradas nos Andes.