Os efeitos da poeira do Saara pelo mundo
Densas plumas de poeira têm deixado o deserto do Saara rumo às Américas. Entenda os efeitos disso em regiões remotas como a floresta amazônica em território nacional, por exemplo.
Nos últimos dias, a fase da Oscilação do Atlântico Norte está auxiliando o transporte de poeira do Saara para a América do Sul. Isso ocorre porque durante a fase positiva do fenômeno, a Alta Subtropical do Atlântico Norte (Alta dos Açores) se fortalece e se aproxima do norte africano.
Com os ventos alísios (chamados de Harmattan no Saara) intensificados sobre as vastas terras áridas do maior deserto quente do mundo, a turbulência gerada próximo a superfície suspende a poeira na atmosfera, que logo em seguida inicia uma longa viagem que pode superar 6.000 km em direção ao continente sul americano, dependendo do seu local de origem.
Estudos mostram que um dos elementos da poeira é o fósforo, nutriente importante para a manutenção da floresta. Segundo a agência espacial americana (NASA), a quantia de fósforo enviada anualmente para a amazônia é na ordem de 22 mil toneladas. Além disso, o material particulado como o sal e a poeira transportados para a América do Sul atuam como núcleo de condensação na floresta amazônica. Os núcleos de condensação são partículas minúsculas suspensas na atmosfera, sendo essenciais no processo de formação de nuvem.
Durante a temporada de furacões do Atlântico Norte, o ar seco do Saara pode suprimir o desenvolvimento dos ciclones tropicais. Os cientistas reconhecem que mais da metade dos grandes furacões que atingem os Estados Unidos, tem como origem as perturbações tropicais provenientes da monção africana. Ao longo da viagem para oeste, os distúrbios tropicais encontram condições mais quentes e úmidas no oceano, e se transformam em grandes furacões. No entanto, quando atingem o ar seco do Saara no Atlântico, perdem intensidade e podem se dissipar.
O arquipélago do Cabo Verde é a região fora da África que mais está sendo afetada pela poeira do Saara. No dia 1 de março, as imagens do satélite GOES-16 revelaram uma nova pluma passando pelo país. Em terra, algumas câmeras registraram o sopro intenso dos ventos alísios, assim como o material particulado presente no ar através da coloração marrom do céu.
Um outro fenômeno visto na imagem de satélite do dia 1 de março são os vórtices de Von Kármán. Esses vórtices se formam a partir de uma perturbação do escoamento ao desviar das ilhas. Mas as nuvens em forma de redemoinhos são vistas somente a jusante do Cabo Verde, onde a atmosfera torna-se mais úmida.