País-sede da COP 30, Brasil entra em contradição ambiental com planos de explorar petróleo na Amazônia
Pressão do governo por exploração de petróleo na foz do Rio Amazonas gera polêmica no Brasil e põe em risco compromissos ambientais do país diante da crise climática e pressões internacionais por sustentabilidade.

O Brasil, que será o país-sede da 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudança Climática (COP 30), em novembro de 2025, se vê envolvido em uma polêmica crescente com seus planos de explorar petróleo na região da Amazônia. A pressão do governo federal para autorizar a exploração de petróleo na bacia do Amazonas gerou críticas de ambientalistas e organizações da sociedade civil, que apontam a contradição entre o discurso e compromissos internacionais firmados pelo país com a sustentabilidade e suas ações no campo energético.
Governo defende exploração como estratégia econômica e energética
O governo brasileiro defendeu a exploração do petróleo, afirmando que as reservas encontradas na região são importantes para a economia do país e para a segurança energética.
“Talvez essa semana ainda vá ter uma reunião da Casa Civil com o Ibama e nós precisamos autorizar a Petrobras faça pesquisa [na Margem Equatorial]. É isso que queremos. Se depois vamos explorar é outra discussão. O que não dá é ficar nesse lenga-lenga. O Ibama é um órgão do governo, parecendo que é um órgão contra o governo”, afirmou o presidente Luiz Inácio Lula da Silva em entrevista a Rádio Diário FM, de Macapá, no início de fevereiro.
Segundo o ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, "o Brasil tem o direito de explorar suas riquezas naturais de forma responsável, garantindo o desenvolvimento econômico e a geração de empregos. A exploração de petróleo é uma necessidade estratégica, e a Amazônia tem recursos que podem contribuir para a nossa soberania energética", afirmou em coletiva de imprensa.
Críticas crescem frente à contradição com compromissos ambientais do Brasil

No entanto, essa visão entra em desacordo com o compromisso do Brasil em sediar a COP 30, evento que tem como um dos seus principais focos a luta contra as mudanças climáticas e a preservação do meio ambiente. A Amazônia, um bioma estratégico para o combate à crise do clima, tem sido uma das regiões mais afetadas por desmatamento e queimadas nos últimos anos, o que coloca em risco a biodiversidade local e agrava as emissões de gases de efeito estufa na atmosfera.
Organizações socioambientais, como o Greenpeace Brasil, não tardaram a criticar a decisão. "É inacreditável que, em pleno contexto de crise climática, o Brasil insista em explorar petróleo na Amazônia. Isso não é apenas uma contradição com os princípios que o país deveria defender ao sediar a COP 30, mas também uma ameaça direta à preservação de um dos ecossistemas mais importantes do planeta", declarou a coordenadora da campanha de Amazônia do Greenpeace, Fabiana Alves.
Pressões internacionais aumentam e a imagem do Brasil é questionada
Além disso, a pressão internacional sobre o Brasil aumenta à medida que outros países, como a França, Dinamarca e outros membros da União Europeia, também reforçam suas políticas ambientais mais rigorosas e sustentáveis. Durante as discussões pré-COP, muitos desses países têm questionado a coerência das ações do Brasil, apontando o risco de uma imagem contraditória no cenário global.
O Brasil já foi alvo de críticas por sua gestão ambiental nos últimos anos, especialmente durante o governo anterior, que enfraqueceu políticas ambientais e aumentou o desmatamento. A nova gestão federal, liderada por Luiz Inácio Lula da Silva, tem procurado reverter alguns desses danos e restabelecer compromissos com a proteção ambiental, mas a exploração de petróleo na Amazônia parece ser um obstáculo a esse discurso.
A campanha de organizações como a WWF Brasil destaca que, além dos impactos diretos da exploração de petróleo, a decisão também pode afetar o cumprimento das metas do Brasil no Acordo de Paris, especialmente no que se refere à redução das emissões de carbono. "A exploração de petróleo na Amazônia contradiz as metas climáticas do Brasil e compromete o futuro do planeta. Precisamos investir em soluções sustentáveis, como as energias renováveis, para garantir que o Brasil cumpra seu papel como líder no enfrentamento das mudanças climáticas", afirma o diretor-executivo da WWF Brasil, Mauricio Voivodic.
Desafios para conciliar crescimento econômico e preservação ambiental
Enquanto o governo federal argumenta que a exploração petrolífera pode ser feita de forma responsável, ambientalistas ressaltam que a Amazônia já carrega um custo ambiental alto devido ao desmatamento e que a expansão da indústria de petróleo poderá intensificar ainda mais essa destruição. A expectativa é de que a pressão sobre o governo aumente nos próximos meses, à medida que a COP 30 se aproxima e o mundo aguarda um posicionamento mais claro do Brasil sobre suas políticas ambientais e energéticas.
A decisão de explorar petróleo na Amazônia, portanto, coloca o Brasil em uma posição delicada, onde a necessidade de conciliar crescimento econômico e preservação ambiental se torna um desafio ainda mais complexo. O desfecho dessa questão poderá definir a imagem do país perante o mundo e sua capacidade de liderar um futuro sustentável.
Referências da notícia
CNN. Lula critica “lenga-lenga” e diz que Ibama parece atuar contra governo. 2025
Sagres. Exploração na Foz do Amazonas e Opep+: organizações ambientais criticam decisões do governo sobre petróleo. 2025