Partículas no ar podem contribuir para a disseminação do coronavirus
Um estudo recente mostrou que o novo coronavírus pode se associar à aerossóis e sobreviver por algumas horas no ar. Sua resistência se mostra superior ao outro coronavírus humano. O alerta também fica para partículas produzida dentro de casa que podem contribuir para a disseminação do vírus.
Após pouco mais de 3 meses desde o primeiro caso identificado em Wuhan, China, o novo coronavírus (SARS-CoV-2) já se espalhou ao redor do mundo . Grupos de cientistas trabalham incessantemente para entender cada vez mais a origem, comportamento do vírus e principalmente sobre sua dispersão , com intuito de ajudar os governos a tomar decisões que podem salvar vidas. Um artigo publicado por cientistas estadunidenses mostra evidências de que o vírus pode sobreviver no ar através de partículas de aerossóis.
Segundo o trabalho, o SARS-CoV-2 pode se associar a aerossóis e "sobreviver" por até 3 horas no ar . O estudo também mostrou por quanto tempo o material viral viável permanece em diferentes superfícies : 3 dias em aço inox e plástico, 4 horas em cobre e 1 dia em cartolina. Nesse aspecto, o novo coronavírus se mostra mais resistente que o outro coronavírus humano que conhecemos, o SARS-CoV-1.
No entanto, essas descobertas ainda estão passando por intensas revisões científicas . Uma das maiores dúvidas é qual seria a concentração de vírus necessária para infectar um humano . Segundo os próprios autores, mesmo que a transmissão via aerossol possa ocorrer, é improvável que ela seja o principal culpado pelo rápido espalhamento do vírus. Eles reforçam que ainda é consenso científico que a maior transmissão ocorre via secreções respiratórias através de gotículas.
É importante destacar que o trabalho em questão não fez nenhuma avaliação sobre o transporte do vírus pelo ar . O movimento do ar acaba funcionando como agente de dispersão do material viral , diminuindo a concentração do vírus. Nesse sentido, a transmissão através de aerossóis seria mais efetiva em ambientes mais fechados, sem ventilação.
A poluição e a transmissão do vírus
Uma das principais fontes de aerossóis na grandes cidades é a poluição . Através do que se sabe sobre a natureza dessas particulas, podemos associar determinados poluentes à propagação do coronavírus . Na semana passada o Prof. Dr. Pedro Luiz Côrtes, da Escola de Comunicações e Artes (ECA) e do Programa de Pós-Graduação em Ciência Ambiental do Instituto de Energia e Ambiente (IEE) da Universidade de São Paulo (USP), falou sobre isso em entrevista no Jornal da USP no ar,disponível em texto e áudio aqui.
A fuligem , por exemplo, é um material particulado que resulta da queima de combustíveis fósseis como gasolina, carvão e gás. Essa partícula, por si só, já prejudica nosso sistema respiratório. No entanto, ela também auxilia no transporte de outros poluentes para dentro dos nossos pulmões através de um mecanismo chamado adsorção . Segundo Côrtes, a adsorção também pode servir como meio de transporte para material biológico , como vírus, principalmente em ambientes fechados.
Apesar das notícias sobre a redução das emissões de poluente durante a quarentena, grandes centros urbanos, como São Paulo, estão longe de um bom nível de qualidade do ar. Cortês ainda alerta para a produção de fuligem doméstica, e de sua contribuição para a disseminação do vírus em ambientes confinados . A fuligem doméstica é produzida pela queima do gás de cozinha . Dessa forma, é recomendado que se mantenha o ambiente ventilado , principalmente durante o preparo de alimentos para promover uma troca de ar em sua residência .