Pedra de Stonehenge vem da Escócia e não do País de Gales: descoberta levanta questões

A pedra do altar deveria ter vindo originalmente do País de Gales, como muitas das outras "pedras azuis" de Stonehenge. Cientistas estão “surpresos” com o que encontraram. O que isso revela sobre os mistérios de Stonehenge?

Pedra de Altar em Stonehenge
O altar de pedra de Stonehenge está bastante escondido à primeira vista. Crédito: English Heritage.

A pedra do altar de Stonehenge, de seis toneladas e cinco metros de altura, que fica no centro, veio na verdade da Escócia, e não do País de Gales, mostrou uma nova pesquisa, surpreendendo até mesmo os cientistas que chegaram a essa conclusão. De alguma forma, ela foi transportada por mais de 725 quilômetros de distância.

Muitas das pedras em Stonehenge supostamente vieram do País de Gales, tendo sido transportadas 200 quilômetros até onde estão agora, na planície de Salisbury, em Wiltshire. Uma das pedras centrais, a "pedra do altar", não é galesa, mas sim escocesa, vindo do nordeste da Escócia.

Os cientistas ficaram surpresos e chocados com a descoberta. A pedra enormemente pesada deve ter sido arrastada ou flutuada na água do extremo nordeste do país. Esta distância é quase quatro vezes maior que o País de Gales.

Tipos de pedras

As pedras menores em Stonehenge são chamadas de pedras azuis, talvez porque algumas tenham uma tonalidade azulada. Acredita-se que todas tenham vindo das colinas Preseli, no sudoeste do País de Gales. A ciência recente mostrou que esta suposição não poderia estar mais errada, e isso pode ser claramente visto com a nova descoberta das origens da pedra do altar.

A pedra do altar deve ter sido trazida por povos pré-históricos pelo menos de Inverness, talvez de Orkney. Feita de arenito vermelho antigo, um tipo de rocha reconhecido localmente nessas regiões da Escócia, ainda é classificada como pedra azul, mas um tipo "não local". Originalmente pensada para ter origem no País de Gales, como muitas outras pedras de lá, presume-se que algumas tenham vindo das Colinas Preseli em Pembrokeshire.

Como resolveram o problema

Nick Pearce, professor de geografia e ciências da terra na Universidade de Aberystwyth, é um dos coautores que considerou a conclusão completamente inesperada.

Para “decifrar o código” das origens secretas da Pedra do Altar, eles analisaram a geoquímica e a idade da composição mineral dentro dos fragmentos de pedra. Os resultados da análise geoquímica foram consistentes com os de afloramentos rochosos conhecidos no nordeste da Escócia, onde a diferença em relação ao leito rochoso galês era evidente.

O estudo, liderado pela Universidade de Curtin e com o trabalho de Anthony Clarke, foi publicado na revista Nature como resultado dos esforços realizados por especialistas da Austrália, de País de Gales e da Inglaterra.

“Nossa análise descobriu que grãos minerais específicos na Pedra do Altar têm, em sua maioria, entre 1 bilhão e 2 bilhões de anos de idade, enquanto outros minerais têm cerca de 450 milhões de anos”, disse o estudante de doutorado Anthony Clarke.

Isso fornece uma assinatura química distinta que sugere que a pedra vem de rochas na Bacia Orcadiana, na Escócia, a pelo menos 750 quilômetros de Stonehenge.

Dada a sua origem escocesa, os achados levantam questões fascinantes, considerando as limitações tecnológicas da era Neolítica, sobre como uma pedra tão grande foi transportada por grandes distâncias por volta de 2.600 a.C.

Clarke acrescentou porque a descoberta foi pessoal. “Esta descoberta também tem um significado pessoal para mim. Cresci em Mynydd Preseli, no País de Gales, de onde vêm algumas das pedras de Stonehenge. Visitei Stonehenge pela primeira vez quando tinha um ano de idade e agora, aos 25, voltei da Austrália para ajudar a fazer esta descoberta científica. Poderia dizer que fechei o círculo no círculo de pedras", disse ele.

Implicações e segredos

O fato de a pedra ter sido transportada ainda mais longe do que o País de Gales mostra que deviam existir métodos de transporte surpreendentes naquela época, há cerca de 5.000 anos. Esses métodos parecem ser “inesperadamente avançados” para os arqueólogos.

O professor Chris Kirkland é outro coautor do estudo, e refletiu sobre o iluminismo dos antigos habitantes da Grã-Bretanha: “Nossa descoberta das origens da Pedra do Altar destaca um nível significativo de coordenação social durante o período Neolítico e ajuda a 'pintar' um quadro fascinante da história da Grã-Bretanha pré-histórica.

Transportar uma carga tão grande por terra da Escócia até o sul da Inglaterra teria sido extremamente difícil, indicando uma provável rota marítima ao longo da costa da Grã-Bretanha.

Isto implica redes comerciais de longa distância e um nível de organização social mais elevado do que se acredita ter existido durante o período Neolítico na Grã-Bretanha.

A descoberta do “código” geoquímico da Pedra do Altar muda completamente o que se supunha sobre Stonehenge e suas origens, agregando ainda mais à sua imponência, em vez de diminuir o seu mistério.

A busca ainda não acabou. Agora começou a corrida para descobrir de onde realmente veio a pedra no nordeste da Escócia. Também precisam responder a outras perguntas, como: Por que a Pedra do Altar foi movida do extremo norte da Grã-Bretanha, a mais de 700 quilômetros do que hoje é aquela parte de Wiltshire?