Pesquisadores brasileiros relatam que gelo no Ártico pode desaparecer com o aumento da temperatura do planeta

O degelo encontrado por pesquisadores brasileiros que foram ao Polo Norte na primeira expedição brasileira oficial é muito maior do que esperavam encontrar. Cientistas alertam que gelo marinho pode desaparecer com o aquecimento do planeta.

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Calor e degelo no Ártico , um clima totalmente diferente do que era comum na região anos atrás— Foto: Paulo Câmara

São diversas as preocupações quanto ao aquecimento do planeta e os recordes de temperatura cada vez mais assustadores e sem precedentes na história da humanidade. As causas desse aquecimento global são debatidas há anos e muitas tentativas de frear o avanço dessa mudança desastrosa já foram realizadas.

Apesar das leis de combate e de controle, pouco resultado tem sido de fato registrado, ao invés disso, o que os pesquisadores relatam é o aumento cada vez mais desenfreado dos prejuízos ao planeta, ao bioma, a natureza. O que mais será que falta acontecer para o ser humano e principalmente os governantes enxergarem a realidade que a Terra está ficando cada vez mais inóspita para nossa sobrevivência?

Pela primeira vez, houve uma expedição brasileira oficial em que professores de Brasília foram ao Polo Norte neste último mês de julho. Os pesquisadores puderam presenciar com os próprios olhos as mudanças climáticas e relataram que o degelo marinho é muito maior do que esperavam encontrar. A preocupação é real quando ao gelo do Ártico desaparecer com o aumento das temperaturas do planeta.

Primeira expedição brasileira ao Círculo Polar Ártico

Foi a primeira vez que pesquisadores brasileiros estiveram de forma oficial ao Círculo Polar Ártico, os quais foram negativamente surpreendidos pela condição atual da região que vem sofrendo fortes impactos das mudanças climáticas e o aquecimento global. Um lugar que antes era frio e gelado agora está quente e sofrendo degelo em uma velocidade preocupante.

A viagem aconteceu no último mês de julho e foi composta por uma equipe de pesquisadores da UFMG, da UnB e da PUC Brasília, em que dois deles já estiveram no Polo Norte em 2016. Aliás, os mesmos puderam viver cenários completamente diferentes nessas expedições. Lá atrás, o clima era chuvoso e sempre muito frio, mas este ano chegaram a usar até mesmo mangas curtas com temperaturas em torno de 10°C durante o dia.

Apesar de 10°C parecer uma temperatura baixa, para o Polo Norte é considerada uma temperatura totalmente anômala e causadora de problemas na região, especialmente o degelo uma vez que normalmente durante o verão no Ártico, a temperatura média fica entre 2°C e 4°C. Segundo a professora Micheline Carvalho Silva, do departamento de Botânica da Universidade de Brasília (UnB), estava muito quente e muito diferente do que imaginavam e esperavam encontrar durante a expedição.

Degelo marinho em alta velocidade

As previsões são bastante pessimistas e graves quanto ao degelo marinho e a possibilidade desse gelo desaparecer completamente nos próximos anos. Cientistas apostam que esse desastre possa acontecer já no verão de 2030, uma previsão bem diferente da que foi realizada anteriormente, quando um estudo que foi publicado na revista Nature Communications, analisou mudanças de 1979 a 2019 na região.

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Fonte: Centro Nacional de Dados de Neve e Gelo dos EUA/Universidade do Colorado Boulder

Esse estudo que comparou diferentes dados de satélite e modelos climáticos, revelou que ainda que fossem feitos cortes significativos nas emissões de gases de efeito estuda, o degelo não ia parar e o Ártico poderia enfrentar verões sem gelo marinho até 2050. Com o estudo atual, esse número reduziu absurdamente de 2050 para 2030, ou seja, está mais perto do que imaginamos. Na recente visita dos pesquisadores brasileiros puderam perceber a velocidade do degelo marinho e a mudança no clima que antes era úmido e frio e que agora está seco e quente.

A gente conseguiu perceber que os topos das montanhas estavam bem descongelados, e tivemos a oportunidade de visitar uma geleira. A geleira está retraindo com o derretimento. Ela ainda existe, mas é uma geleira pequena, conta Micheline.

O professor Paulo Câmaera que também é do departamento de Botânica da UnB esteve no Ártico nos dois períodos assim como Micheline e afirma que quando comparam as duas idas ao Polo Norte, a impressão que teve é que agora está muito mais quente, tem muito menos água, muito menos neve, muito menos gelo. Inclusive, não foi possível nem fazer a coleta de amostras de neve e gelo para a pesquisa e talvez tenham que retornar, mas ao retornar, o cenário pode estar ainda pior.

Do gelo ao semiárido

Imagine um lugar que antes era úmido e gelado e que agora está seco e quente. Apesar das muitas tentativas, o último lugar que pensamos é o Círculo Polar Ártico. Pois é, mas segundo o pesquisador Câmara, o clima no Ártico agora já é quase um semiárido. Inclusive, o mesmo relata que esse aumento da temperatura na região está bem documentada e que não é nenhuma novidade, principalmente dentro da comunidade científica,

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Calor e degelo no Ártico — Foto: Paulo Câmara

Apesar de ser considerado ainda um grande desastre por conta do aquecimento do planeta, esse derretimento das geleiras já está sendo estudado de forma comercial, em que navegações que não podiam passar pelo Ártico antes, agora podem ter novas rotas comerciais que vão encurtar a distância.

O Brasil pode ser afetado lá na frente com esse derretimento, não do Ártico, mas sim da Antártica que já começou a sofrer processos de degelo semelhantes. O professor da UnB diz que o grupo de pesquisa está interessado em entender essas mudanças para que possam se preparar para o que pode acontecer na Antártica também, o que aí sim pode afetar a vida de todos no Brasil uma vez que nosso país é o sétimo mais próximo da Antártica.

O professor Marcelo Ramada, da Universidade Católica de Brasília, reforça a importância da preservação e conservação do meio ambiente, seja lá onde for. É preciso cuidar agora para evitar desastres maiores no futuro, principalmente quando sabemos que a Antártica é o local que tem mais de 50% de toda a água potável do mundo, ou seja, se acontece todo o derretimento essa água vai fazer com o nível dos oceanos suba absurdamente, regiões costeiras vão desaparecer e a situação será cada vez mais catastrófica.

Aliás, a Antártica pode se tornar um dos poucos locais de terra do mundo ainda habitáveis daqui alguns anos dependendo do nível de aquecimento que o planeta tiver. Claro que isso será catastrófico para a humanidade e não é algo que nossa geração deva enfrentar, porém, a ciência existe e trabalha já pensando nas próximas gerações e como a humanidade em si pode ou não sobreviver a um planeta cada vez mais inóspito.