Pesquisadores da USP criam mapa interativo de sítios arqueológicos do estado de São Paulo

O mapa interativo é resultado de um projeto desenvolvido na Universidade de São Paulo (USP) e mostra os sítios arqueológicos de povos indígenas no Estado de São Paulo.

O mapa interativo. Uma de suas vantagens é a possibilidade de observar regiões onde não há informações arqueológicas (em amarelo no mapa menor): ao norte, todo o baixo curso do Rio Tietê e sua margem direita; ao sul, o vale do Rio do Peixe. Crédito: LEVOC/(MAE/USP).

Uma pesquisa que vem sendo desenvolvida pelo Museu de Arqueologia e Etnologia (MAE) da Universidade de São Paulo (USP) deu origem ao primeiro panorama sobre a arqueologia de povos indígenas no Estado de São Paulo.

O mapa interativo é um dos resultados do projeto intitulado “A ocupação humana do Sudeste da América do Sul ao longo do Holoceno: uma abordagem interdisciplinar, multiescalar e diacrônica” financiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP).

Trata-se da criação de um mapa interativo com uma visão espacial dos sítios arqueológicos indígenas em todo o território paulista. Ele foi desenvolvido por pesquisadores do Laboratório Interdisciplinar de Pesquisas em Evolução, Cultura e Meio Ambiente (LEVOC) vinculado ao MAE. Veja mais informações sobre o mapa abaixo.

O mapa interativo

O mapa possui mais de 2 mil informações, as quais foram obtidas a partir de uma compilação de teses, artigos e relatórios, e a partir de dados coletados no Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) e na biblioteca do MAE. O banco de dados que alimenta o mapa será atualizado regularmente, podendo ampliar as informações disponíveis.

O banco de dados do mapa foi criado utilizando coordenadas de localização UTM e dados WGS 84, disponíveis em aparelhos de GPS. Em sítios arqueológicos mais antigos, cuja localização não é precisa, as coordenadas utilizadas foram as coordenadas do centro do município onde ele se situa.

O termo “indígenas” é usado ao invés de “pré-coloniais” por um motivo simples, segundo os pesquisadores: o recorte não é cronológico, mas cultural.

Uma das vantagens do mapa é a possibilidade de observar regiões onde não há informações arqueológicas no estado: ao norte, todo o baixo curso do Rio Tietê e sua margem direita; e ao sul, o vale do Rio do Peixe (as manchas amarelas no mapa menor da imagem inicial nesse artigo).

Outro diferencial do mapa é a preocupação em apresentar a filiação cultural, informando sempre que possível o grupo indígena e o tipo de artefato encontrado, como pedras, lascas ou cerâmicas.

Pesquisadores
Pesquisadores do laboratório LEVOC da USP. Crédito: LEVOC/(MAE/USP).

Letícia Corrêa, uma das pesquisadoras envolvidas no projeto, disse: “No banco de dados podem ser consultados desde os sítios pré-coloniais até sítios mais recentes, do início do século 20. É a primeira compilação que unifica todas as informações, nunca tivemos isso e é um grande avanço tanto para o conhecimento científico quanto para a comunidade em geral”.

“Creio que iniciativas como esta são imprescindíveis para o futuro da arqueologia, por um simples motivo: o cérebro humano funciona muito melhor em termos visuais. Geólogos têm mapas geológicos, geógrafos têm mapas topográficos, mas os arqueólogos não tinham nada semelhante. Agora temos” - Astolfo Araújo, geólogo e mestre e doutor em arqueologia pelo MAE.

Contudo, os pesquisadores se depararam com um problema na criação desse mapa. “Infelizmente, uma quantidade significativa de sítios foi cadastrada sem nenhuma informação sobre sua filiação cultural. Isso até seria aceitável nos primórdios da arqueologia brasileira, digamos até os anos 1960, mas de lá para cá já há um grande volume de conhecimentos e a atribuição dos sítios a algum referente cultural é quase uma obrigação”, explicou Astolfo Araújo, geólogo e mestre e doutor em arqueologia pelo MAE, que participou do projeto.

O objetivo do projeto é analisar os processos relacionados à ocupação, sucessão e convivência do sudeste brasileiro pelos primeiros grupos humanos que chegaram às Américas, abrangendo todo o período do Holoceno (de 11 mil anos atrás até o presente).

E futuramente, o mapa arqueológico deve ser expandido para outros estados brasileiros.

O mapa pode ser acessado clicando aqui.

Referência da notícia:

Araujo, A. et al. Interactive map of indigenous archaeological sites from São Paulo state - Brazil. Zenodo, 2024.