Por que a neve ficou rosa numa geleira dos alpes italianos?
Uma geleira na Itália está ficando com uma coloração rosa devido a presença de algas, um fenômeno chamado de neve rosa ou neve de melancia. Apesar de ser algo natural, essa mudança na coloração poderá acelerar o derretimento de neve.

A geleira Presena, localizada no norte da Itália, ganhou uma colação rosa que intrigou cientistas. O registro foi feito pelo cientista italiano Biagio Di Mauro, do Instituto de Ciências Polares do Centro Nacional de Pesquisa da Itália, no início desse mês durante uma pesquisa de campo.
A chamada “neve rosa” ou “neve de melancia” é um fenômeno comum nos Alpes durante os meses de primavera e verão austral, porém ela surgiu de forma mais acentuada neste ano. Di Mauro disse a CNN que acredita que uma alga chamada Chlamydomonas nivalis é responsável por essa mudança de cor. Essa alga também foi responsável pelo registro da chamada “neve de sangue” na Antártica em fevereiro desse ano, associados aos recordes de temperaturas registrados.
#Snow #algae sampling at Presena #glacier
— Biagio Di Mauro (@DiMauro_b) July 6, 2020
: @22n23 pic.twitter.com/DtmkaAgElR
Durante o inverno essas algas ficam adormecidas ao serem cobertas pela neve. Na primavera o aumento de luz solar e a neve derretida estimulam sua germinação. Nesse ano, a primavera e verão tiveram baixa queda de neve e temperaturas mais altas que o normal, condições que estimularam ainda mais a proliferação dessas algas.
Apesar de ser um fenômeno natural, a proliferação dessas algas é preocupante, já que ao alterar a coloração da neve, o processo de derretimento de gelo pode ser acelerado. A neve pura tem um albedo muito alto, refletindo quase toda a luz solar que recebe (cerca de 80%). Porém, à medida que ela é escurecida seu albedo diminui e ela passa a absorver mais luz, essa energia absorvida se torna calor, aquecendo a neve.
Dessa forma, ao deixar a neve rosa, as algas contribuem para o aquecimento e o consequente derretimento da neve na geleira. Com mais neve derretida, as algas crescem e se desenvolvem ainda mais, agravando ainda mais esse efeito de derretimento do gelo.
Di Mauro já havia estudado o surgimento de outra alga chamada Ancylonema nordenskioeldii que transformou o gelo em roxo na geleira de Morteratsch na Suíça, e que também foi encontrada na Groenlândia, Andes e Himalaia. Cientistas alertam que o surgimento dessas algas poderá se tornar um problema se passar a ocorrer com maior frequência
An Italian glacier is covered with giant white sheets to slow melting. The Presena glacier has lost more than a third of its volume since 1993.https://t.co/qadGPBjuTl pic.twitter.com/umfy6PUDfq
— Stuart Wallace (@StuartLWallace) June 21, 2020
A geleira de Presena já tem sofrido muito com o derretimento de gelo acelerado, perdendo mais de um terço de seu volume desde 1993. Para tentar frear esse derretimento, todo verão parte da geleira é coberta com grandes lonas brancas que servem para aumentar a reflexão da luz solar e manter a temperatura da neve menor que a do ar superior, preservando o maior volume de neve possível.