Por que está chovendo tanto no Nordeste?
É no término do verão que a Zona de Convergência Intertropical (ZCIT) apresenta sua máxima posição ao sul. Entretanto, vários elementos influenciam a magnitude do seu deslocamento em direção ao Nordeste. As fortes chuvas das últimas semanas geraram problemas nas rodovias, cidades e zonas rurais nordestinas.
A chuva entre março e abril na parte norte da Região Nordeste, tomou espaço na mídia nas últimas semanas devido aos vários impactos associados, sobretudo nos Estados do Piauí e Maranhão. Em 24 de março, um casarão veio ao chão no centro histórico de São Luís. Neste mesmo dia, foram reportados deslizamentos de terra, inundações e pelo menos 10 famílias estiveram desabrigadas na capital maranhense.
De acordo com o portal de notícias “Piauí Hoje”, no dia 26 de março, 17 açudes de criação de peixes se romperam na região dos Cocais após uma chuva de 190 mm. Embora não foram registradas vítimas fatais, os produtores de peixes estimaram um prejuízo superior a R$ 100 mil, onde grande parte do produto seria comercializado neste feriado de Páscoa. A enxurrada associada, danificou estradas e impediu o trânsito em trechos tomados pela água. Março encerrou com precipitação acima da média e estragos também em parte do Ceará. Segundo a Fundação Cearense de Meteorologia e Recursos Hídricos (FUNCEME), Fortaleza registrou 512,4 mm, valor que é 58% superior à média climatológica do mês.
Ainda com relação aos impactos decorrentes do mau tempo, um dos casos mais graves ocorreu no dia 4 de abril no Piauí, quando chuvas que vinham caindo em Teresina provocaram o transbordamento de uma lagoa dentro de um clube desativado. Com o rompimento do muro do clube e do terreno de uma via local, uma enxurrada violenta foi liberada no bairro Parque Rodoviário, na zona sul da cidade. Cerca de 100 casas foram atingidas, 40 pessoas ficaram feridas e três morreram. Mais recentemente, no Maranhão, o transbordamento de um açude no povoado de Cocalinho rompeu um trecho da BR-316 na última terça-feira (16). Apesar de interditar o trânsito local, felizmente não houve feridos e mortes. Muitas famílias estão desalojadas nos Estados citados anteriormente em função das inundações.
Razões para tanta chuva
O movimento meridional (norte-sul) da ZCIT acompanha a sazonalidade do Sol e as respectivas mudanças na circulação geral da atmosfera. Contudo, uma variabilidade natural do clima chamada Dipolo do Atlântico, está afetando diretamente a posição do sistema. Entende-se por dipolo, o padrão de anomalias de sinais opostos da temperatura da superfície do mar entre os hemisférios no Atlântico tropical. A fase atual do dipolo é a negativa, isto é, as águas quentes estão ao sul do equador, enquanto as águas frias estão ao norte.
Conforme a primavera se desenvolve no Hemisfério Norte rumo ao verão, é de se esperar que o sistema volte a se afastar gradativamente do Hemisfério Sul. Mas até que isso não aconteça, as águas quentes do Atlântico tropical associadas ao dipolo estão mantendo a ZCIT próxima ao Brasil (por vezes com banda dupla). Além disso, entre o final de março e o começo de abril, os ventos alísios de nordeste ficaram mais intensos do que os alísios de sudeste, em média (comum durante a fase negativa do dipolo). Esse é outro fator importante de ser considerado com relação ao posicionamento mais ao sul.
A convecção intensa na região da ZCIT ajudou a intensificar o jato subtropical do Hemisfério Norte, contribuindo para um feedback positivo das trovoadas (aumento dos movimentos ascendentes na região equatorial). Todos esses fatores mencionados, junto ao padrão de ventos sobre o Nordeste e a umidade do ar elevada, explicam as fortes chuvas registradas em terras nordestinas entre o final de março e o começo de abril. A previsão para as próximas semanas, é que a ZCIT se mantenha ao sul provocando chuvas no norte do Nordeste.