Por que os cientistas não usam lápis e canetas no espaço?

Uma lenda que surgiu durante una corrida espacial entre los Estados Unidos y la União Soviética, em meados do século 20, sobre a maneira como os astronautas escreviam no espaço com a gravidade reduzida. Como eles escreviam? Contamos aquí.

astronauta, espaço, caneta
A astronauta da NASA, Pamela Melroy, examinando uma lista de procedimentos na cabine de comando do ônibus espacial Atlantis com uma caneta esferográfica, em 2002. Crédito: NASA.

Quando os humanos viajaram para o espaço pela primeira vez na década de 1960, eles rapidamente perceberam que as canetas esferográficas que usamos aqui na Terra não eram eficazes lá no espaço. Aí é que vem uma história não muito verdadeira…

Então, diz a lenda que a Administração Nacional da Aeronáutica e Espaço, a NASA, investiu seis meses desenvolvendo uma caneta revolucionária que funcionaria em um ambiente de micro gravidade, enquanto os russos supostamente contornaram o problema de forma simples, usando um lápis.

Fato é que os lápis comuns poderiam quebrar e ficar flutuando no espaço, criando um ambiente perigoso para os astronautas e componentes eletrônicos sensíveis da espaçonave. Então, era crucial evitar o uso de materiais perigosos a bordo. Por isso, a lenda acima é uma mentira!

O que realmente aconteceu?

Inicialmente, os astronautas da NASA até usaram lápis no espaço, nas primeiras missões. Mas não era um lápis comum; era uma lapiseira fabricada pela empresa Tycam Engineering Manufacturing Inc. O problema é que o objeto era muito caro e gerou especulações sobre um gasto desnecessário. Depois, a NASA também gastou muito dinheiro pesquisando sobre a viabilidade de uma caneta projetada especificamente para uso no espaço, mas logo desistiu do projeto, pois os custos de produção seriam muito altos e não iria valer a pena.

espaço, caneta Fisher Space pen
Caneta AG7 Fisher Space Pen®, modelo que foi usado na missão Apollo 7 em 1968. Crédito: Wikimedia Commons/Cpg100.

Então, em 1965, a empresa privada Fisher Space Pen Co. desenvolveu, de forma independente, a Fisher Space Pen, uma caneta esferográfica que funcionava no espaço graças a uma carga pressurizada. Ela era equipada com cartuchos de tinta pressurizados, que continham uma espécie de resina, desafiando as limitações das canetas normais, e podiam funcionar perfeitamente sob várias condições, incluindo temperaturas extremas e até mesmo em superfícies gordurosas.

A caneta da Fisher Space Pen era chamada de 'AG7’ (‘Anti-Gravity’), e resistia a temperaturas que iam de -50 a +120 ºC, funcionava em qualquer posição, não falhava e escrevia em qualquer superfície. A tinta de secagem rápida não borrava e a carga não dependia de gravidade.

A agência americana ficou impressionada com a capacidade da caneta, e a submeteu a testes rigorosos, adotando-a em missões futuras. Então, a Fisher Space Pen acabou sendo usada pelos astronautas no final dos anos 1960, estreando durante a missão Apollo 7 em 1968.

Por que não se pode usar lápis e canetas convencionais no espaço?

Quaisquer partículas minúsculas que possam se alojar em equipamentos sensíveis da espaçonave são um perigo, e as partículas que saem dos lápis são motivo de grande preocupação.

Os lápis podem quebrar e seus detritos são materiais perigosos que podem ficar flutuando dentro da espaçonave. O chumbo pode se soltar, lascas de madeira inflamáveis podem também flutuar, partículas microscópicas de grafite eletricamente condutivo que se desprendem do lápis enquanto se escreve… tudo isso traz perigos para a espaçonave.

canetas, lápis, astronauta, NASA, espaço
Comandante da Expedição 22, Jeff Williams, a bordo da Estação Espacial Internacional em 2010. Atrás dele, à esquerda da foto, instrumentos de escrita de vários tipos podem ser vistos presos a um quadro com velcro. Crédito: NASA-ISS Program Office.

Gotas de tinta também é algo que não se deseja ver flutuando dentro da nave. Da mesma forma, o líquido pode vazar e adentrar em equipamentos. As canetas esferográficas na época de 1940 ofereciam perigos; até existiu um modelo que foi comercializado, mas ele “vazava a tinta por toda parte”, então deixou de ser usado.

As canetas Fisher Space são fabricadas até hoje, inclusive tem vários outros modelos. E elas podem ser compradas no site da empresa, por valores a partir de 63 dólares.

Contudo, com o avanço da era digital, o problema da escrita no espaço foi resolvido com o uso da "escrita digital" em tablets especiais desenvolvidos especialmente para o ambiente espacial. Hoje, além da Fisher Space Pen, os astronautas também utilizam canetas Sharpie e lápis, sim… mas do tipo mecânico, e não o de madeira tradicional.