Preço do milho dispara: entenda por que o grão está mais caro e como isso afeta o Brasil

O milho registrou em março de 2025 o maior preço dos últimos três anos no Brasil. A combinação de estoques baixos, demanda aquecida e atraso na colheita preocupa produtores e impacta diretamente o bolso do consumidor.

Milho, Brasil, cadeia produtiva
Milho atinge maior valor em três anos; cenário reflete oferta limitada, demanda crescente e desafios logísticos no Brasil.

Nos últimos meses, o milho voltou ao centro das atenções no cenário agropecuário brasileiro. O grão, que tem papel estratégico na alimentação animal e na indústria, atingiu em março de 2025 o maior preço registrado nos últimos três anos, ultrapassando a marca simbólica de R$ 90 por saca em Campinas (SP), segundo dados do Cepea/Esalq-USP.

Esse movimento de valorização é observado justamente em um momento de transição de safra, o que acende o alerta entre produtores, consumidores e analistas de mercado.

A alta nos preços não acontece por acaso. Vários fatores se somam para explicar esse salto: menor disponibilidade no mercado interno, estoques iniciais baixos, demanda aquecida de setores como o de proteínas animais e biocombustíveis, além de atrasos na colheita da safra de verão em alguns estados produtores.

milho, CONAB
Mesmo com boa produtividade prevista, atrasos na colheita e estoques baixos impulsionam a alta histórica nos preços.

Instituições como a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) e universidades como a USP e a UFLA (Universidade Federal de Lavras) acompanham de perto essa movimentação, já que ela tem impactos tanto econômicos quanto sociais.

Oferta menor, demanda crescente

Tradicionalmente, o início do ano é um período de menor disponibilidade de milho no Brasil, uma vez que a colheita da segunda safra (a chamada “safrinha”) ainda está distante. Neste ano, essa janela crítica se intensificou devido a atrasos na colheita nos estados do Sul e Sudeste.

Em Santa Catarina, por exemplo, apenas 62% da área plantada foi colhida até meados de março, bem abaixo da média de 72% dos últimos cinco anos, segundo a Conab.

Ao mesmo tempo, a demanda não dá sinais de trégua. Setores como o de aves, suínos e ovos, que utilizam o milho como base na formulação da ração, têm ampliado a produção, pressionando ainda mais o consumo. As usinas de etanol à base de milho, em franca expansão no Centro-Oeste, também elevam a competição pelo grão. O resultado? Preços em disparada e preocupação com o repasse dos custos ao consumidor final.

O que mostram os números da Conab

O 6º levantamento da safra 2024/25 divulgado pela Conab reforça esse cenário. Apesar da estimativa de aumento de 6,1% na produção de milho em comparação à safra anterior, o crescimento não foi suficiente para frear a valorização dos preços neste momento de entressafra.

Confira na tabela abaixo os principais dados:

Tipo de safraÁrea (mil ha)Produtividade (Kg/ha)Produção (mil toneladas)
1ª Safra3.745,8
6.63624.857,3
2ª Safra (safrinha)16.748,65.70395.515.8
3ª Safra649,43.6762.387,1
Total21.143,85.806122.760,3

Fonte: CONAB.

Mesmo com o aumento na produtividade média, os estoques iniciais de milho em 2025 ficaram em apenas 2,04 milhões de toneladas, contra 7,2 milhões em 2024, uma queda expressiva de 71%. Essa redução nos estoques deixa o mercado mais vulnerável a oscilações, principalmente em anos de clima instável ou problemas logísticos.

Impactos no bolso e na cadeia produtiva

O aumento no preço do milho afeta diretamente o custo da alimentação animal e, por consequência, pressiona os preços da carne, do leite e dos ovos para o consumidor brasileiro. Além disso, a logística encarece ainda mais o cenário: como o milho compete espaço nos armazéns e no transporte com a soja que está em plena colheita, muitos compradores preferem aguardar, o que reduz a liquidez no mercado.

Veja os principais efeitos percebidos atualmente:

  • Aumento do custo de produção para granjas e criadores de suínos
  • Redução da margem de lucro dos produtores de proteína animal
  • Alta nos preços de alimentos derivados, como ovos e carnes
  • Crescimento do interesse na importação de milho, especialmente da Argentina
  • Dificuldade de escoamento do milho armazenado em regiões distantes dos centros consumidores

Milho em alta: e agora?

A valorização do milho em 2025 não é apenas um fenômeno de mercado: ela aponta para a necessidade de melhor planejamento logístico e de armazenamento no país.

O Brasil, que é um dos maiores produtores e exportadores do grão no mundo, precisa investir em infraestrutura para evitar gargalos que elevem artificialmente os preços durante a entressafra. Além disso, o episódio serve como alerta sobre a dependência de insumos agrícolas e a importância de políticas públicas para estabilizar o mercado.

Referência da notícia

Acompanhamento da safra brasileira de grãos: Safra 2024/25 – 6º levantamento (Vol. 12, No. 6). 13 de março, 2025. Companhia Nacional de Abastecimento (Conab).