Qual o efeito dos incêndios florestais na formação de tempestades?

Até mesmo as tempestades mais distantes são influenciadas por incêndios florestais. É o que um novo estudo mostra, um incêndio aqui pode influenciar tempestades a uma distância que nem imaginamos.

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Formação de intensas tempestades teria influência de incêndios florestais?

Uma nova pesquisa mostrou que incêndios no oeste dos EUA estão favorecendo a ocorrência de mais granizo e chuvas fortes em áreas distantes, a quase 2.400 quilômetros, mas como isso é possível? É o que vamos desvendar agora. Seca e calor sem precedentes nos EUA estão causando novos extremos, um deles tem a ver com os incêndios florestais que estão ficando maiores de uns anos para cá.

Jiwen Fan, cientista do Pacific Northwest National Laboratory e responsável pelo novo estudo, fala que é gritante a forma em que as regiões afetadas pelo clima estão conectadas. A forma como os incêndios aumentaram no oeste dos EUA e as tempestades de chuva forte e granizo aumentaram em lugares distantes dali é impressionante.

O calor, cinzas, gases e outras partículas minúsculas lançadas no ar durante as queimadas, estão afetando padrões climáticos em larga escala. Um estudo aponta um aumento de 38% nas tempestades a centenas de quilômetros.

Vale ressaltar que há anos os cientistas acompanham os resultados dos incêndios florestais que estão se intensificando ultimamente, e que as nuvens de fumaça que são lançadas na atmosfera superior podem afetar as temperaturas até mesmo de forma global.

Como os padrões climáticos viajam de um lado para o outro

Existe uma tendência natural sobre os principais padrões climáticos nos EUA, que viajam de oeste para leste devido a direção predominante dos ventos. Aliás, sabendo disso, durante a devastadora temporada de incêndios da Califórnia em 2018, Jiwen Fan começou a se questionar como os incêndios mais frequentes e intensos no oeste americano estariam afetando o clima não só ali, mas até 1.500 milhas a favor do vento.

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Para investigar o assunto foram examinados 10 anos de dados climáticos e também de incêndios de grandes proporções registrados na tentativa de encontrar alguma correlação com grandes tempestades.

Porém, tal "coincidência" era considerada rara, uma vez que a temporada de tempestades na região central dos EUA ocorre no início do verão, enquanto que a temporada de incêndios florestais estaria aumentando entre agosto e setembro. Entretanto, os fogos começaram a se alastrar cada vez mais cedo, alimentados pela estiagem e pelo calor provocados pelas mudanças climáticas.

Desde 2010, foram encontradas várias grandes tempestades centrais em períodos que coincidiam com grandes incêndios florestais no oeste dos EUA.

No estudo, a equipe se concentrou em uma grande tempestade que aconteceu em 2018, e usando um modelo climático em que adicionaram os efeitos do calor e da fumaça natural de um incêndio, uma simulação foi feita de várias maneiras diferentes: em situação real com grandes incêndios acontecendo no Ocidente, em uma situação como se esses fogos não existissem, e por último, uma situação com uma série de experimentos que incluíam e excluíam o efeito de alguns incêndios menores de forma local que estão acontecendo na época.

O resultado foi drástico: o impacto combinado entre os incêndios florestais no extremo oeste americano e os incêndios locais, aumentou a incidência das chuvas mais fortes em 38%. Além disso, quedas de granizo com pedras quase do tamanho de uma bola de beisebol, ocorreram 34% a mais em condições de queimadas.

Como de fato os incêndios impactam as tempestades?

Notaram a existência de uma zona de alta pressão atmosférica ao redor dos incêndios florestais no Ocidente, que provavelmente sofreu influência da enorme liberação de calor, gases e partículas que são lançadas durante as queimadas. Com o ar fluindo de alta para baixa pressão, o que chamou a atenção foi que a alta pressão no oeste do país amplificou os ventos que fluíam para o leste em direção a zona de tempestade.

Vale salientar que para alimentar uma tempestade forte os principais ingredientes são ar extremamente úmido e ventos fortes, em que conforme o ar úmido sobe, a água muda de um gás para uma gota, um processo que libera calor adicional no ar circundante. Enquanto que à medida em que o ar quente sobe, qualquer calor extra faz com que ele suba mais rápido e de forma mais explosiva, espremendo ainda mais calor e chuva. Os ventos fortes geralmente aumentam as forças de torção na atmosfera, reforçando as tempestades.

Também como resultado do fogo, além de outras partículas, o espesso manto de cinzas flutuou a favor do vento seguindo a direção da zona de tempestade. Pablo Saide, cientista atmosférico da Universidade da Califórnia UCLA que não esteve envolvido na pesquisa, diz que é importante lembrar que não é a fumaça que desencadeie o evento, apenas o intensifica, ou seja, é um bom exemplo de como as mudanças climáticas influenciam o clima, uma vez que não acrescentam mais fenômenos, mas mudam o caráter daqueles que ainda estão ocorrendo, geralmente pra pior.

Mudanças climáticas e suas influências globais

Na mesma pesquisa foi possível ressaltar ainda mais a forma como as mudanças climáticas estão ligando comunidades distantes umas das outras, como a ação de um país por exemplo, afeta outros lugares do globo. Além disso, os pesquisadores disseram que existe muito mais para se desvendar.

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Bombeiro na luta contra um incêndio florestal.

Um fato é certo, o de que a atividade dos incêndios florestais está projetada para aumentar ainda mais com os efeitos das mudanças climáticas. Aliás, até mesmo os bombeiros da Califórnia já alertaram que não existe mais uma temporada de incêndios florestais, e sim que são possíveis a cada vez mais comuns ao longo do todo o ano. Enquanto isso, não ficando para trás, as temporadas de tempestades também estão se prolongando.