Recordes de temperatura nos oceanos favoreceu os últimos eventos extremos
Já são quatros anos consecutivos com temperaturas cada vez mais elevadas nos oceanos e recordes quebrando recordes. Entenda o que isso tem de impacto nos desastres ocorridos em 2022.
Nos últimos dias um termo meteorológico ganhou bastante destaque ao redor do mundo: rios atmosféricos. Sabe-se que pela terceira semana consecutiva, eventos climáticos extremos estão afetando a Califórnia, nos Estados Unidos.
Um dos efeitos colaterais que mais chamaram a atenção sob influência desses rios atmosféricos foi inundação que atingiu a costa do Pacífico com chuvas absurdamente superiores a climatologia, cerca de 400 a 600% acima da média em algumas regiões mais afetadas.
Segundo um novo estudo, esse e outros eventos extremos têm explicação, uma delas é com relação às temperaturas, sendo que 2022 foi um dos anos mais quente da história para os oceanos da Terra desde que se têm registros, segundo informações publicadas na revista Advances in Atmospheric Sciences.
A influência sobre os eventos extremos
É importante frisar que à medida que as altas temperaturas registradas nos oceanos saem atingindo recordes jamais vistos, as tempestades “comuns” ganham mais energia e mais umidade para alimentá-las, o que as tornam tempestades extremas.
Kevin Trenberth, pesquisador do Centro Nacional de Pesquisa Atmosférica dos EUA e um dos autores do novo estudo do Washington Post relata que as influências desse calor nos oceanos têm sido perceptíveis nos efeitos das tempestades que atingem a Califórnia e que as fortes chuvas são consequência direta dessas temperaturas anômalas.
Um ponto bastante importante para ressaltar àqueles que ainda não entenderam o problema é que eventos extremos não estão atingindo apenas a Califórnia. Chuvas extremas, inundações, furacões estão atingindo diferentes regiões ao redor do mundo, algo que aconteceu bastante em 2022.
Por mais perceptíveis a olho nu que sejam os desastres, prejuízos e perdas irreparáveis, parece que os grandes governos só aceitam e enxergam as mudanças climáticas e suas consequências, quando tocam no bolso. Bom, vamos lá. De acordo com a NOAA, o clima totalmente adverso e extremo que atingiu os EUA no último ano gerou um custo aos seus cofres de cerca de 165 bilhões de dólares, sendo o terceiro mais caro dos anos nesse sentido, perdendo apenas para os anos 2017 e 2005.
Os verdadeiros impactos das mudanças climáticas
Tal aquecimento anômalo dos oceanos não provoca apenas tempestades segundo os autores do estudo Advances, mas também agrava o aumento do nível do mar, altera os padrões de salinidade e os níveis de nutrientes, além de causar a morte da vida marinha, ou seja, os oceanos noz dizem muito a respeito do planeta Terra como um todo.
Um fato que chama a atenção é que em comparação com o ar, a água absorve e libera calor mais lentamente. Aliás, as médias globais de temperatura do ar e da superfície estão, sem dúvida, aumentando ao longo do tempo, porém variam ano a ano. Os oceanos, porém, são menos maleáveis nesse sentido.
Pesquisadores ressaltam que os oceanos estão arcando com o peso do desequilíbrio gerado pelas mudanças climáticas impulsionadas pelas emissões de gases de efeito estufa pelo homem, o que gera um desigualdade energética no sistema climático da Terra.
Inclusive, ressaltam que o calor dos oceanos é uma métrica particularmente robusta das mudanças climáticas, pois pesquisas anteriores determinaram que cerca de 90% do excesso de energia (ou seja, calor) despejado no sistema climático da Terra acaba armazenado no oceano.
Uma tendência nada animadora para o futuro da Terra
Mesmo que 2022 não tenha sido o ano mais quente já registrado na história, isso aconteceu recentemente, em 2016, e o destaque é que os últimos oito anos consecutivos foram os mais quentes já registrados, de acordo com uma análise recente de cientistas da União Europeia.
Trenberth, Abraham e seus colegas foram os responsáveis pela descoberta dos novos recordes, uma vez que analisaram a temperatura dos 2.000 metros superiores da água oceânica do mundo usando dados da Academia Chinesa de Ciências e da Administração Nacional Oceânica e Atmosférica dos EUA.
Muitos devem questionar esses recordes de calor nos oceanos visto que o fenômeno La Niña está instalado há três anos no Pacífico, o que tornou algumas regiões excepcionalmente frias, porém, essa anomalia não muda a tendência geral de aquecimento dos oceanos e do planeta.
Aliás, mesmo que o aquecimento e resfriamento do oceano seja consistente, não é uniforme, pois enquanto o Pacífico Leste e Central estão frios, quatro bacias globais (o Pacífico Norte, o Atlântico Norte, o Mar Mediterrâneo e os oceanos do sul) estão aquecendo particularmente rápido e tiveram anos recordes de calor em 2022, o que pode explicar eventos extremos como as ondas de calor em toda a Europa e mudanças climáticas no nordeste dos EUA.
Tarde demais
Mesmo que os governantes ao redor de todo o mundo tomem as medidas necessárias já discutidas e determinadas, ainda que de forma drástica para evitar as piores consequências das mudanças climáticas, é fato de que o aquecimento dos oceanos provavelmente permanecerá nos próximos 75 anos, segundo o novo estuado do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas da ONU.