Recuperação da camada de ozônio e restauração da circulação de ventos
A camada de ozônio está se recuperando e, consequentemente, restabelecendo o padrão de circulação atmosférica. Pesquisadores mostram que a tendência de deslocamento da circulação em direção aos polos observada no século XX no Hemisfério Sul estão parando devido ao sucesso do Protocolo de Montreal.
A preservação da camada de ozônio é essencial para nossa saúde, pois barra raios solares nocivos para os seres vivos. No entanto, na última década, estudos mostraram que ela também tem um grande efeito na circulação atmosférica do planeta. Diversos trabalhos revelaram que as células de circulação atmosférica do Hemisfério Sul migraram para sul no século XX devido, principalmente, à degradação da camada de ozônio sob Antártica.
Um trabalho publicado na Nature, em maio deste ano, usou diversas reanálises que cobrem um período de 1980 a 2017. Reanálise é um produto que usa resultados de modelos numéricos com a assimilação de dados observados para ficar mais próximo à realidade. Os pesquisadores analisaram a tendência na variabilidade de três parâmetros: (1) a latitude central do jato de média latitudes; (2) o índice da Oscilação Antártica ou Modo Anular Sul; (3) a latitude da borda da célula de Hadley.
Os resultados mostram a clara tendência de deslocamento do jato e expansão da célula de Hadley para sul e tendência negativa do índice Modo Anular Sul até o ano 2000, assim como reportado por inúmeros trabalhos na última década. Porém, após 2000, as tendências ficam nulas ou levemente positivas. Os autores mostram também, através de experimentos numéricos, que a pausa nas tendência do século passado estão associadas à recuperação da camada de ozônio.
Isso mostra uma quebra no padrão de mudanças na circulação do Hemisfério Sul observadas no século XX. Agora, o desafio dos cientistas é entender como serão as tendência na circulação atmosférica com atual evolução da concentração de CO2 e a contínua recuperação da camada de ozônio. Isso porque há evidência que o aumento do CO2 também contribui para a migração da circulação em direção aos polos e sendo assim, os efeitos desses dois mecanismos podem se contrapor.
Protocolo de Montreal
O Protocolo de Montreal foi assinado em 1987 e estabeleceu as diretrizes para a redução na produção e uso de produtos que comprovadamente, destroem a camada de ozônio na estratosfera. A principal meta foi acabar com todos os tipos de clorofluorcarbonetos (CFC) e encontrar um substituto que não fosse associado à degradação do ozônio.
É um dos acordos internacionais mais bem sucedidos, como podemos perceber pelo estudo da Nature. No início dos anos 2000, se registrou uma queda significativa nas concentrações de CFC na atmosfera, que coincide com o ponto inicial da recuperação da camada de ozônio em escala global e da pausa nas tendência na circulação do Hemisfério Sul.