Sobre as ressacas no litoral Sul e Sudeste do Brasil
Os eventos de ressaca que assustaram os banhista no fim de semana do carnaval em alguns lugares do litoral Sudeste de Sul do Brasil foram causados pela passagem de um ciclone extratropical na nossa costa. Entenda mais sobre esse evento que, ao que tudo indica, tende a ficar mais frequente no futuro.
O mar trouxe "surpresas" não muito agradáveis nesse carnaval. Entre sábado (22) e domingo (23), uma forte ressaca atingiu pontos do litoral sul e sudeste do Brasil. Um ciclone extratropical que atuava ao largo da nossa costa foi o responsável pelo evento que causou prejuízos e deixou alguns feridos em algumas localidades.
Ressaca marítima é o termo usado para eventos de grandes ondas e "mar bravo" que causam inundações costeiras e destruição da orla. Ela é causada, principalmente pela interação oceano-atmosfera através de sistemas sinóticos como os ciclones e anticiclones, associados a ventos fortes. A variação do nível do mar devido ao efeito deste sistemas é chamada de maré meteorológica.
A maré meteorológica pode ser vista facilmente quando separamos o nível do mar medido do previsto pelas constantes harmônicas da maré astronômica. O efeito do vento no nível do mar, nessa escala de tempo de dias, se dá através de dois fatores principais:
- Agitação marítima: O vento constante e intenso desses sistemas atmosféricos gera ondas na superfície do mar, que se propagam em várias direções. Essas ondas, com diferentes características, dispersam sua energia na região costeira quando quebram na praia, em costões rochosos ou em barreiras artificiais.
- Empilhamento de água: A água do mar também pode ser transportada via "transporte de Ekman", que é resultado de um balanço entre o efeito de rotação da Terra e o vento. O transporte de Ekman ocorre sempre em sentido perpendicular à direção do vento: para a esquerda no Hemisfério Sul, e para a direita no Hemisfério Norte. No Brasil, esse efeito pode aumentar o nível do mar na região costeira quando há ventos de sul/sudeste paralelos a costa.
O que aconteceu no litoral sul e sudeste do Brasil no último fim de semana foi o efeito combinado de marés astronômica e meteorológica contribuindo para o aumento do nível do mar na costa. Um ciclone extratropical gerou ondas que se propagaram em direção a costa, que juntamente com seu posicionamento contribuiu para o empilhamento de águas no litoral. O aumento do nível do mar na costa permite com que as ondas tenham uma maior abrangência, já que elas quebram com a redução de profundidade. Assim, as ondas maiores, que quebrariam mas afastado da linha de costa, alcançaram pontos mais próximos com mais força.
Estamos preparados para eventos desse tipo?
Diversas pesquisas científicas mostram que as ondas estão ficando mais fortes e eventos de ressaca como esse já estão mais frequentes. As cidades brasileiras litorâneas precisam ter um plano de adaptação às mudanças climáticas para reduzir os prejuízos em eventos futuros, inclusive de perdas humanas. Além disso, é preciso maior atenção aos alertas dados pela Marinha do Brasil, que emitiu um aviso de ressaca.
No mais, o investimento em pesquisas de base, que auxiliem na previsão e entendimento desses eventos, é fundamental para evitar "surpresas" como essa. Existe ainda um longo caminho para a melhora na previsão de eventos extremos de onda desse tipo, que são cruciais para os planos de gerenciamento de cidades costeiras.
As previsões numéricas mostram a passagem de uma frente fria, com chances do desenvolvimento de um ciclone na região oceânica na latitude do Uruguai entre quarta (26) e quinta-feira (27). O que poderá trazer grande agitação marítima ao litoral Sul e Sudeste do Brasil. No entanto, é importante acompanhar os avisos de mau tempo da Marinha do Brasil, uma vez que a interação e propagação dessas ondas em regiões costeiras é complexa e nem sempre prevista corretamente por todos os modelos.