Rio Grande do Sul pode levar até 40 anos para recuperar o solo, após as enchentes de 2024

Segundo levantamento, a Serra Gaúcha perdeu mais de 85% do seu estoque de carbono no solo de pomares, e a reposição deste importante nutriente pode demorar de 14 a 40 anos.

Enchente no Rio Grande do Sul em abril de 2024. Crédito: Ricardo Stuckert/PR.

Em 2024, o Rio Grande do Sul passou pela maior (e pior) tragédia climática da sua história. Entre final de abril e maio do ano passado, chuvas intensas e persistentes causaram severas enchentes, as quais provocaram 183 mortes e afetaram mais de 2,3 milhões de pessoas ao atingir 478 municípios, o equivalente a quase 95% de todas as cidades gaúchas. Mais de 442 mil moradores tiveram que deixar suas residências.

E segundo um estudo apresentado no seminário RS Resiliência e Sustentabilidade, realizado na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) na última sexta-feira (14), a região da Serra Gaúcha perdeu mais de 85% do estoque de carbono no solo após essas enchentes, e pode levar de 14 a 40 anos para se recuperar. Veja abaixo mais informações.

Solo gaúcho prejudicado pelas enchentes de 2024

As informações do estudo foram divulgadas por Gustavo Brunetto, professor de agronomia da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM). Ele explicou que as enchentes devem comprometer o trabalho do produtor rural no sentido de fertilidade nas plantações. As cidades da Serra Gaúcha (como Caxias do Sul e Bento Gonçalves, por exemplo) ficaram entre as regiões mais afetadas pelas chuvas em curto espaço de tempo.

O primeiro dano direto das enchentes foi a perda de solo, principalmente da camada superficial, já que nem toda a água conseguiu infiltrar. “Isso estimulou o escoamento da água na superfície, a transferência de solo de partes mais altas para partes mais baixas e, com isso, nós tivemos importantes consequências e danos”, explicou Brunetto.

Deslizamento de terra na Serra Gaúcha, entre Veranópolis e Bento Gonçalves, devido às fortes chuvas de abril de 2024. Crédito: Nicolas Rossi De Lemos.

E foi isso que fez o solo perder seus nutrientes tão importantes para os cultivos, como o fósforo e o carbono; parte da matéria orgânica e dos nutrientes foi para as partes mais baixas do relevo e também, em alguns casos, levada pelas águas superficiais.

“Se as áreas que foram degradadas pelo excesso de chuva forem incorporadas novamente à agricultura, o produtor vai ter que comprar mais fertilizante. Com isso ele vai ter um aumento, provavelmente, do seu custo na propriedade”, explicou o pesquisador.

E como fazer o solo se tornar nutritivo novamente?

Segundo Brunetto, é necessário utilizar técnicas como a calagem (prática para corrigir a acidez, neutralizar o alumínio e fornecer cálcio e magnésio) e a adubação. “É preciso executarmos o uso de plantas de cobertura que podem ser utilizadas”, acrescentou ele.

Ele aponta ainda que, de início, é preciso fazer um nivelamento do solo para que o produtor consiga novamente cultivar a sua área afetada. Práticas de manejo chamadas de conservacionistas também são importantes agora, por exemplo: além do uso de plantas de cobertura, o uso de terraços, de culturas frutíferas perenes no solo. Isso é uma forma de reter a água no solo e estimular a sua infiltração, segundo ele.

Além disso, ele sustenta que são necessárias estratégias para que, no futuro, se esse evento extremo ocorrer novamente, haja possibilidades de minimizar esse problema no solo.

Referência da notícia

Após enchentes, Serra Gaúcha pode levar 40 anos para recuperar o solo. 15 de março, 2025. Luiz Cláudio Ferreira/Agência Brasil.