Rochas formadas por plástico são encontradas na Ilha da Trindade, Espírito Santo

Pesquisadores brasileiros encontraram rochas formadas por plásticos, mais especificamente, resíduos de redes de pesca, na Ilha da Trindade, no Espírito Santo, um local remoto e de difícil acesso aqui em nosso país.

Ilha de Trindade, na costa do Espírito Santo
Pesquisadores brasileiros encontraram rochas idênticas às naturais, mas compostas por plástico, na Ilha de Trindade, na costa do Espírito Santo. Foto: Marinha do Brasil.

Isso é o que afirma um estudo publicado na revista científica Marine Pollution Bulletin, feito por uma equipe de pesquisadores da Universidade Federal do Paraná (UFPR), da Universidade de São Paulo (USP) e da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), através de atividades de mapeamento geológico na ilha.

Os pesquisadores encontraram rochas idênticas às naturais mas compostas por plásticos na Ilha da Trindade, costa do Estado do Espírito Santo, um território remoto e de difícil acesso. O arquipélago é inabitado, administrado pela Marinha do Brasil, e fica a 1.140 quilômetros da capital Vitória.

Devido à sua origem vulcânica, a Ilha da Trindade apresenta lavas, cinzas e areias vulcânicas. A última erupção vulcânica ocorreu há aproximadamente 50 mil anos.

As rochas estão localizadas na superfície da praia, próximo à maior região de ninhos da tartaruga-verde (Chelonia mydas) e de recifes de moluscos marinhos, e foram sedimentadas com resquícios de redes de pesca. Segundo Fernanda Santos, geóloga e autora principal do estudo, a estrutura dessas rochas é formada por plástico queimado, semelhante a uma lava vulcânica, que começou a incorporar os fragmentos da praia e formar essas novas ocorrências na geologia.

Os tipos de detritos plásticos encontrados

Foram identificados três tipos de detritos plásticos nas rochas, diferindo em composição e na aparência. O estudo é o primeiro relato no Brasil desses detritos com aparência de rocha; em outros locais do mundo já foram encontrados alguns deles.

Esses materiais foram observados em campo em 2019 e possuem, no máximo, duas décadas de existência. As amostras coletadas passaram por análises laboratoriais que permitiram reconhecer os diferentes tipos de detritos plásticos.

Fragmentos de piroplásticos, rocha de plástico, Ilha da Trindade
Fragmentos de piroplásticos encontrados na Ilha de Trindade. Foto: Fernanda Avelar Santos.

O tipo plastiglomerados são análogos às rochas sedimentares. Eles se formam quando diversos materiais como fragmentos de rochas, minerais, conchas e plástico são aquecidos, sendo cimentados pelo plástico derretido.

O outro tipo é o plastistone, com composição predominantemente plástica, e similar às rochas ígneas, aquelas formadas pela solidificação de rochas derretidas, como a lava vulcânica.

rocha com resíduos plásticos, Ilha de Trindade
Pedaço de uma rocha de resíduos plásticos coletado na Ilha de Trindade. Foto: Fernanda Avelar Santos.

O terceiro, mas não menos importante, detrito plástico observado foi o piroplástico. Ele é semelhante a rochas naturais e é formado pelo aquecimento de material jogado no meio ambiente, principalmente por meio de fogueiras e queima de lixo.

De quem é a responsabilidade?

De acordo com a geóloga, os dados levantados pelo estudo comprovam que o homem está interferindo nos ciclos naturais, nos ciclos geológicos, provocando a geração de novas rochas a partir da poluição marinha.

A coautora do estudo Giovana Diório também afirma que “as ocorrências mostram que o impacto humano, assim como os seus resíduos, estão tão presentes no meio ambiente que começaram a influenciar processos antes considerados essencialmente naturais, a exemplo da formação de rochas”.

Para o geólogo Carlos Conforti Ferreira Guedes, também coautor do artigo, com o descarte de lixo e plásticos ocorrendo de forma discriminada na natureza, eles passaram a se acumular junto às rochas. “Quando os geólogos do futuro forem analisar as rochas deste período, poderão reconhecer o impacto humano na Terra pela identificação desses materiais não-naturais junto aos materiais naturais”, explica ele.

Contudo, apesar de ainda não ser possível esclarecer os impactos ambientais dessas formações, a autora principal sugere que os estudos da Geologia comecem a considerar a ação humana como atributo fundamental nos processos recentes de formação.