Rover Perseverance encontra minerais inesperados em Marte que apontam para a possibilidade de vida

A tecnologia atual permite que cientistas explorem a superfície marciana, analisem dados e façam descobertas científicas. Recentemente, o rover Perseverance da NASA cavou uma rocha, revelando descobertas surpreendentes.

percurso do Rover perseverance
Percurso do rover Perseverance e detecção de rochas flutuantes de tons claros. Crédito: Royer, et al. (2024).

Quando o especialista em exploração de Marte Roger Wiens, professor de Ciências da Terra, atmosféricas e planetárias na Universidade de Purdue, fez o rover Perseverance da NASA direcionar seu laser para algumas rochas estranhamente claras na superfície marciana, ele descobriu que elas eram compostas de um teor anormalmente alto de alumínio associado ao mineral caulinita.

Isso foi interessante por si só, mas o que tornou a descoberta mais fascinante é que esse mineral normalmente se forma apenas em ambientes muito quentes e úmidos. A descoberta, publicada na revista Communications Earth & Environment, sugere que Marte pode ter sido mais quente, úmido e diferente do que os cientistas suspeitavam.

"Na Terra, esses minerais se formam em lugares onde há chuvas intensas e um clima quente, ou em sistemas hidrotermais como fontes termais. Ambos os ambientes são condições ideais para a vida como a conhecemos", disse Wiens. "Esses minerais são o que resta quando a rocha fica em água corrente por eras. Com o tempo, a água morna lixivia todos os elementos, exceto aqueles que são realmente insolúveis, deixando para trás o que encontramos em Marte. É fascinante. É inesperado em um planeta frio e seco como Marte", disse ele.

Analisando rochas marcianas surpreendentes

Wiens trabalhou com os rovers em Marte por décadas e literalmente liderou o Perseverance. A projeção quadrada no topo do veículo espacial, que superficialmente lembra o pescoço e a cabeça de um quadrúpede, é a SuperCam, um instrumento desenvolvido por uma equipe internacional de pesquisadores e engenheiros que Wiens liderou.

O SuperCam é o resultado de uma colaboração entre o Laboratório Nacional de Los Alamos e o Instituto Francês de Pesquisa em Astrofísica e Planetologia. O instrumento usa um conjunto de técnicas para analisar a superfície marciana. Agora, Wiens lidera a equipe de pesquisa que usa as ferramentas da SuperCam para fazer descobertas em Marte.

Os pesquisadores notaram as pedras claras no solo marciano no primeiro dia em que o rover pousou, mas a equipe estava ocupada demais trabalhando em outras coisas para notar as pedras estranhas.

Por fim, os cientistas observaram algumas rochas maiores, de cor semelhante, que estavam na superfície e não faziam parte do leito rochoso, sob as rodas do veículo espacial. Os geólogos chamam essas rochas soltas de "rochas flutuantes" porque elas estão "flutuando" no leito rochoso, fora do lugar onde foram formadas.

Depois que o laser da SuperCam escaneou as rochas, os membros da equipe perceberam que tinham feito uma descoberta interessante. "Essas rochas são muito diferentes de tudo que já vimos em Marte. Elas são um enigma", disse Wiens.

Hipóteses sobre a origem, alteração e colocação final de material rico em alumínio (Al) na Cratera Jezero, Marte. Crédito: Royer, et al. (2024).

A equipe passou a analisar as rochas mais profundamente para obter informações sobre sua composição e estrutura, e encontrou mais de 4.000 dessas pedras e seixos brancos espalhados pela superfície marciana. O mineral que compõe muitas dessas rochas é chamado de caulinita.

O que mais entusiasma os cientistas é que essas rochas normalmente se formam em ambientes quentes e úmidos, propícios a algumas formas de vida microbiana. Na Terra, são encontradas em depósitos sedimentares resultantes de solos e litorais antigos e em ambientes hidrotermais intensos, e o mineral é bastante macio.

Em Marte, as rochas são brancas, mas não tão macias, possivelmente devido a outros processos que podem ter as endurecido. Elas também contém espinélio, provavelmente de alumínio, que pode se formar em ambientes ígneos e metamórficos e pode ser encontrado como remanescentes em rochas sedimentares. Wiens e sua equipe não têm certeza do que aconteceu aqui: se o espinélio se formou a partir da caulinita ou se a caulinita se formou ao redor do espinélio.

Era uma vez um Marte azul

"As grandes questões sobre Marte têm a ver com a água", disse Wiens. "Quanta água havia lá? E por quanto tempo? Considerando o quão frio e seco Marte é agora, para onde foi toda a água? Como um mineral, a caulinita tem muita água presa em sua estrutura. É possível que muita dessa água ainda esteja lá em Marte, presa nos minerais".

"Embora não tenhamos visto essas rochas 'no lugar' no leito rochoso com o rover, e não tenhamos certeza de onde elas vêm, sabemos por satélites que há rochas ricas em caulinita na borda da Cratera de Jezero", disse Candice Bedford, coautora da pesquisa.

Essas descobertas podem ajudar os humanos a encontrar os primeiros sinais verdadeiros de vida extraterrestre antiga, já que, até onde sabemos, a vida não pode existir sem água. Ao estudar o presente de Marte, os cientistas descobrem pistas sobre seu passado (e o da Terra), bem como informações sobre onde procurar sinais de vida no futuro.

Referência da notícia

Intense alteration on early Mars revealed by high-aluminum rocks at Jezero crater. 07 de novembro, 2024. Royer, et al.