Safra de trigo 2024: expectativa ou preocupação? Diego Portalanza analisa os dados do GEOGLAM e da CONAB
A safra de trigo 2024 no Brasil promete grandes desafios climáticos e hídricos. Dados da GEOGLAM e CONAB revelam variações regionais significativas, destacando regiões com potencial produtivo, enquanto outras enfrentam dificuldades devido à falta de chuvas e geadas.
A perspectiva para a colheita de trigo no Brasil em 2024 desperta grande interesse, considerando o papel estratégico do país tanto no abastecimento interno quanto no mercado global. Os dados fornecidos pela GEOGLAM, através dos indicadores agrometeorológicos (AGMET) e observações por satélite, oferecem uma visão detalhada das condições atuais das lavouras, revelando variações significativas entre as diferentes regiões produtoras. Ao mesmo tempo, o boletim da Companhia Nacional de Abastecimento (CONAB) oferece um panorama complementar, destacando fatores semelhantes que afetam o desempenho das lavouras de trigo em 2024.Indicadores e
Esses dados são essenciais para monitorar em tempo real o desenvolvimento das lavouras e prever a produção final. De forma geral, as regiões de São Paulo, Minas Gerais, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul estão apresentando desempenhos distintos, influenciados pelas condições climáticas e pela disponibilidade de água no solo.
São Paulo e Minas Gerais: desafios hídricos
São Paulo e Minas Gerais enfrentam dificuldades significativas relacionadas à escassez hídrica. Em ambas as regiões, o NDVI está abaixo da média dos últimos cinco anos, refletindo o impacto negativo da baixa precipitação. Em Minas Gerais, as reservas de água no solo, tanto na superfície quanto no subsolo, estão em níveis muito baixos, limitando o desenvolvimento das plantas.
Em termos de produtividade, estima-se que São Paulo tenha uma queda de 10-15% em relação à média histórica, com rendimentos esperados entre 2,4 e 2,7 toneladas por hectare (T/ha). Em Minas Gerais, a situação é ainda mais crítica, com uma queda de 10-20%, resultando em produtividades entre 2,2 e 2,4 T/ha. Esses números estão alinhados com as preocupações da CONAB, que também apontam para uma colheita abaixo da média devido à falta de água.
Paraná: geadas e baixa precipitação
No Paraná, onde tradicionalmente os rendimentos de trigo variam entre 2,61 e 3,30 T/ha, a safra de 2024 enfrenta desafios ainda mais severos. A combinação de geadas e a escassez de chuvas prejudicou o desenvolvimento das lavouras, especialmente nas regiões Norte e Noroeste do estado.
Com isso, é provável que a produtividade caia entre 10-15%, resultando em rendimentos estimados entre 2,4 e 2,7 MT/ha, conforme confirmado tanto pelos dados da AGMET quanto pelo boletim da CONAB.
Santa Catarina e Rio Grande do Sul: perspectivas positivas
Em contraste, as regiões de Santa Catarina e Rio Grande do Sul estão demonstrando sinais de recuperação após um início de safra desfavorável, marcado por chuvas excessivas. O NDVI em ambas as regiões está agora em recuperação, e a fração de água no solo está adequada para o crescimento saudável das lavouras. A melhora nas condições climáticas deve resultar em uma produção dentro da média histórica ou até levemente superior.
Historicamente, essas regiões registram rendimentos entre 2,90 e 3,94 T/ha. Com a recuperação observada, a safra de 2024 poderá alcançar de 3,2 a 3,4 MT/ha em Santa Catarina e até 3,5 T/ha no Rio Grande do Sul. As boas condições hídricas, somadas a um índice de estresse evaporativo relativamente baixo, sugerem uma safra promissora no Sul do país.
Estimativa geral de produção
Com base nas projeções para cada região, a produção total de trigo no Brasil em 2024 deverá ser levemente inferior à de 2023, que foi de aproximadamente 9,7 milhões de toneladas. Devido à redução esperada em São Paulo, Minas Gerais e Paraná, a safra de 2024 pode ficar entre 9,0 e 9,3 milhões de toneladas. As oscilações regionais, causadas principalmente pela falta de precipitação e impacto de geadas, serão determinantes para o resultado final da colheita.
A CONAB reforça esses desafios em seu boletim, destacando que a baixa precipitação e as variações térmicas são fatores críticos que impactam o desenvolvimento das lavouras de trigo em várias regiões. As próximas semanas serão decisivas para confirmar essas previsões, especialmente nas regiões mais afetadas pelo estresse hídrico.
A produção nacional pode ser ligeiramente inferior à de 2023, mas as próximas semanas, especialmente em termos de precipitação, serão cruciais para determinar o resultado final. A comparação entre os dados da AGMET e as previsões da CONAB ajuda a formar um panorama preciso, permitindo que agricultores e gestores planejem suas atividades com maior eficiência.