Saiba os riscos da Gripe Aviária, recentemente detectada em rebanhos leiteiros dos Estado Unidos

Casos de Gripe Aviária de Alta Patogenicidade (IAAP) foram registrados em rebanhos leiteiros no Kansas, Michigan e Texas (Estados Unidos). No Texas, um caso foi registrado em um trabalhador que teve contato com animais infectados.

gripe aviária
Casos de Gripe Aviária foram registrados em rebanhos leiteiros no Kansas, Michigan e Texas, com um indivíduo infectado, por contato com esses animais.

Na última semana, casos de Gripe Aviária de Alta Patogenicidade (ou Influenza Aviário de Alta Patogenicidade - IAAP) foram anunciados pelo Departamento de Agricultura e Desenvolvimento Rural de Michigan (MDARD), nos Estados Unidos.

A fazenda recebeu recentemente gado de uma instalação afetada no Texas, antes que o rebanho mostrasse qualquer sinal de doença - MDARD

Segundo as autoridades, o gado estava assintomático no momento da transferência do Texas para Michigan. Em 26 de março, o IAAP havia sido encontrado "em amostras clínicas não pasteurizadas de leite de vacas doentes em duas fazendas leiteiras no Kansas e uma no Texas", segundo a USA Today.

Possível fonte da transmissão

Atualmente, as autoridades de saúde investigam a possibilidade de aves migratórias selvagens estarem transmitindo o vírus para outros animais, como mamíferos, uma vez que foi relatada a presença de aves selvagens mortas nessas propriedades.

Segundo o Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC), estima-se que 82.048.806 aves foram detectadas com o IAAP, entre elas, aves aquáticas selvagens, aves comerciais e rebanhos de quintal. Os registros iniciaram em 2022, antes disso, as últimas detecções tinham sido em 2016.

Algumas dessas aves apresentaram o IAAP A(H5N1) do clado 2.3.4.4, o qual apresenta modificações genéticas que podem facilitar uma adaptação do vírus em infectar mamíferos.

Espalhamento entre mamíferos

Em um texto recente para o The Conversation, comentei e fiz um panorama da trajetória do IAAP em 2022 através de detecções em fazendas de visons, na Europa, em mamíferos marinhos, na costa da América do Sul e até mesmo em aves silvestres, no sul do Brasil.

No final de 2023, os casos observados na América Latina, em países da América do Norte, inclusive em condores, espécie em extinção, e até mesmo na Antártica, com a detecção inédita em ursos polares, alertam para a necessidade de um preparo global para possíveis surtos entre diferentes espécies, incluindo a nossa.

Risco Global

Entre 22 a 28 de março de 2024, a Organização Mundial da Saúde (OMS) recebeu a notificação de um caso de IAAP em humanos na região ocidental do Pacífico. Entre 22 de dezembro de 2023 a 26 fevereiro de 2024, 5 casos de IAAP em humanos foram registrados.

Segundo o documento da OMS, o indivíduo não alega contato com aves mortas ou doentes (apesar de ter exposiçaõ a aves selvagens em sua cidade natal) nem com ninguém com sintomas semelhantes.

Ao todo, entre 01 janeiro de 2003 a 26 de fevereiro de 2024, foram reportados 887 casos de IAAP em humanos, em 23 países. Desses 887, 462 evoluíram para óbito, levando a uma estimativa da taxa de letalidade em 52%.

Ainda não se tem registro de transmissão sustentada entre humanos, portanto, segundo a OMS, o risco global permaneceria baixo por conta disso. Mas casos esporádicos, especialmente por contato com animais infectados, podem acontecer e trazer riscos.

Alertas e preocupações

O IAAP é um vírus altamente contagioso, e pode alcançar grandes distâncias geográficas, a partir da transmissão em animais migratórios. A principal via de transmissão atual é a partir do contato com animais infectados e suas secreções.

Apesar de muitos casos humanos terem ocorrido por exposição a animais infectados, há suspeitas de transmissão entre humanos desse vírus, segundo alguns exemplos do CDC.

Cabe reforçar que a transmissão sustentada entre humanos ainda não foi registrada.

A principal preocupação é que, com as adaptações que o vírus pode adquirir ao infectar diferentes espécies, há risco para a aquisição daquelas que pode facilitar a infecção e transmissão sustentada entre humanos.

Por isso, a vigilância de vírus e seus genomas, bem como de novos casos em diferentes espécies, incluindo a nossa, é relevante. Ainda, o desenvolvimento de vacinas para humanos e outros animais também é fundamental, como medida preventiva e para o preparo de possíveis surtos.

A pergunta principal não é se teremos um surto ou epidemia de gripe aviária. É quando isso irá acontecer e se estaremos preparados para isso, considerando o conhecimento atual.