Seca de 2024 é a maior e mais intensa no Brasil desde 1950, segundo análise do Cemaden

Monitoramento do Cemaden mostra que o Brasil está passando pela seca mais abrangente e mais intensa em mais de 70 anos!

seca onda de calor Brasil
A longa estiagem que o país vem enfrentando tem refletido em consequências graves para o nível dos rios, a qualidade do ar e a produção agropecuária.

A longa estiagem que o país vem enfrentando tem refletido em consequências graves para o nível dos rios, a qualidade do ar e a produção agropecuária.

O relatório mais recente do Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden), vinculado ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), mostra que a seca que assola o Brasil entre os anos de 2023 e 2024 já abrange a gigantesca área de cerca de 5 milhões de quilômetros quadrados, o que representa mais da metade de todo o território nacional!

Ainda segundo o relatório, o mês de agosto de 2024 contabilizou 3.978 municípios em estado de seca com diferentes intensidades, desde fraca a extrema. Isso significa que mais de 70% dos municípios do país estão em uma condição de seca, sendo que destes, 201 encontram-se em situação de seca extrema.

A maior e mais intensa seca em mais de 70 anos

O relatório do CEMADEN destaca que, desde que começou a ser realizado o monitoramento operacional do fenômeno no Brasil (em 2012), as secas apresentavam uma característica mais regional, ou seja, eram mais restritas a certas áreas do país. Porém, a seca que se iniciou em 2023 e persiste em 2024 tem um caráter bem mais abrangente, cobrindo praticamente todo o país (principalmente as regiões Sudeste, Centro-Oeste e Norte) e apresentando uma grande área de intensidade severa a extrema.

CEMADEN, distribuição de secas, histórico
Entre 2012 e 2022, as secas foram mais localizadas, com regiões menores de valores extremos. Entre 2023 e 24, a seca extrema se ampliou.

Outro dado preocupante trazido pelo CEMADEN é que esta seca, além de cobrir a maior área, também é a mais intensa desde 1950. Dados sobre a área total do Brasil do índice SPEI (Índice de Precipitação-Evapotranspiração Padronizado), que mede o balanço entre a quantidade de água que chove e a quantidade de água que é evaporada do solo e liberada pelas plantas, indicam que estamos vivendo um período com predomínio seco desde os anos 1990, mas que a maior intensidade do fenômeno ao longo destas mais de sete décadas está ocorrendo agora, em 2024.

gráficos, CEMADEN
Acima: série de períodos chuvosos (azul) e secos (vermelho) desde 1950. Abaixo: área coberta pela seca em quatro eventos fortes do fenômeno.

Em comparação com outros anos secos importantes, como 1998, 2015 e 2020, o ano de 2024 não só apresenta uma intensidade maior da seca, como também uma área coberta muito maior (destacando-se as secas severas e extremas), como mostra o gráfico acima.

Esta condição extrema no país está associada tanto a oscilações naturais do clima terrestre, como o El Niño Oscilação Sul e a Oscilação Multidecadal do Atlântico, como também às mudanças climáticas e ações antropogênicas.

As mudanças climáticas, causadas pela ação humana (antropogênica), torna estes eventos extremos mais frequentes, e mais fortes. Este é um padrão que já vem sendo observado nos últimos anos, e tende a se tornar cada vez mais comum em um planeta que está passando por um processo anômalo de aquecimento global.

Consequências para o nível dos rios, agropecuária e qualidade do ar

A grave condição enfrentada pelo nosso país pode ser vista em diversas circunstâncias. Os longos períodos de estiagem que se sucedem desde o ano passado estão provocando abaixamento dos níveis de rios em diversas áreas do país. As piores situações são nos rios do Norte do Brasil: os Rios Negro e Solimões (no estado do Amazonas), por exemplo, estão mais de 4 metros mais baixos do que há um ano atrás.

A agropecuária também sofre com o tempo seco: segundo dados do Cemaden, 963 municípios dos estados de Minas Gerais, São Paulo e Mato Grosso tiveram no mês passado mais de 80% da sua área produtiva comprometida pela estiagem.

A falta de chuvas e as altas temperaturas são propícias para a formação e alastramento de incêndios, que além de destruir a fauna e a flora das regiões onde acontecem, tem tornado a qualidade do ar péssima em grande parte do Brasil, como vem sendo amplamente noticiado e divulgado.

Perspectivas para o relatório do mês de setembro

A expectativa para o relatório do CEMADEN sobre a situação da seca no Brasil não é nada animadora.

A temperatura da superfície do mar no Oceano Atlântico, mais quente que o normal, provavelmente causará um atraso na chegada da estação chuvosa, agravando ainda mais a condição de seca ao longo de todo este mês. Podem ocorrer episódios de chuva na segunda quinzena, mas não será suficiente para reverter o quadro que vem se apresentando.

Referência da notícia:

SEI-CEMADEN. Nota Técnica Nº529/2024, de 05 de setembro de 2024.