Seca e incêndios deixam em risco a produção de açúcar e de etanol, segundo Cepea
A safra de açúcar 2024 enfrenta grandes incertezas devido à seca e queimadas que devastam plantações no Brasil. Esses fatores pressionam os preços e geram preocupação sobre o impacto na produção de açúcar e etanol nos próximos meses.
A produção de açúcar e etanol no Brasil enfrenta grandes desafios na safra 2024/25, impulsionados por uma combinação de fatores climáticos extremos, como a seca, altas temperaturas e incêndios. Esses eventos trouxeram incertezas significativas sobre o volume de cana-de-açúcar que será processado, impactando diretamente os preços desses produtos no mercado interno e internacional.
No final de agosto de 2024, uma forte onda de calor e um longo período de estiagem afetaram grandes regiões produtoras de cana-de-açúcar, especialmente no estado de São Paulo. Além do calor intenso, incêndios devastaram cerca de 80.000 hectares de plantações de cana, resultando em uma perda estimada de 5 milhões de toneladas do produto. Esse cenário trouxe preocupações quanto à quantidade de cana disponível para processamento, tanto para a produção de açúcar quanto de etanol.
Segundo dados da Conab (Companhia Nacional de Abastecimento), a estimativa de produção para o ciclo foi revisada para 42 milhões de toneladas de açúcar, um volume menor do que o inicialmente previsto, devido aos danos causados pelo clima adverso.
Efeitos nos preços do açúcar
O impacto climático, associado às incertezas de produção, provocou um aumento nos preços do açúcar. De acordo com o Cepea/Esalq, os preços do açúcar cristal branco em São Paulo voltaram a subir, atingindo R$ 137,06 por saca de 50 quilos no início de setembro de 2024. Esse valor representou um retorno aos níveis de dois meses atrás, quando as primeiras preocupações sobre a safra começaram a surgir.
Esse aumento de preço também reflete o comportamento dos compradores, que têm buscado garantir estoques de açúcar temendo uma nova elevação nos valores. A alta demanda pontual, motivada pelo receio de falta de produto no curto prazo, não representa um aquecimento do mercado, mas sim uma resposta às condições desfavoráveis da safra.
Situação do etanol
A produção de etanol também está sendo afetada pelos mesmos fatores climáticos. No entanto, o cenário de preços não é o mesmo que o do açúcar. Na última semana de agosto, a demanda pelo etanol hidratado, um dos tipos de etanol mais usados nos postos de combustíveis, foi considerada baixa. Isso resultou na comercialização de um dos menores volumes do biocombustível em São Paulo na temporada de 2024/25.
Os dados do Cepea/Esalq mostram que o preço do etanol hidratado caiu 1,88% no início de setembro, fechando em R$ 2,50 por litro. Em contrapartida, o etanol anidro, que é misturado à gasolina, teve uma leve alta de 0,65%, atingindo R$ 2,93 por litro.
Apesar dos problemas no Brasil, a produção de açúcar no Centro-Sul do país, até meados de agosto de 2024, mostrou um aumento de 5,4% em relação ao ano anterior, atingindo 23,91 milhões de toneladas.
No entanto, a destruição de parte das plantações no final de agosto pode pressionar os preços para cima no médio prazo, conforme o impacto total dos incêndios for sentido nas próximas semanas.
No cenário internacional, o Brasil ainda enfrenta a concorrência da Índia, que, por sua vez, teve uma boa safra devido às fortes monções e mantém grandes estoques de açúcar. No entanto, o governo indiano ainda impõe restrições às exportações para garantir o abastecimento interno, o que pode ajudar a manter o equilíbrio no mercado global.
A safra 2024/25 de cana-de-açúcar no Brasil está marcada pela incerteza. O clima adverso e os incêndios afetaram significativamente as plantações, levando a um aumento nos preços do açúcar e criando um cenário de alerta para produtores e consumidores. Enquanto o Brasil busca equilibrar sua produção, o mercado global observa de perto os desdobramentos dessa safra, que será determinante para os preços de açúcar e etanol nos próximos meses.