seca pode comprometer as colheitas do milho e do trigo no Brasil, aponta o relatório GEOGLAM

O relatório de agosto da GEOGLAM destaca o impacto potencial da seca nas safras de soja e trigo no Brasil, com condições adversas previstas para afetar significativamente a produção agrícola.

Milho, agricultura, trigo.
Mapa global de condições de cultivo sintetizando informações para todas as quatro safras AMIS em 28 de julho. Fonte: CROPMonitor

À medida que o Brasil enfrenta os meses decisivos de desenvolvimento agrícola, o relatório de agosto da GEOGLAM revela importantes desafios climáticos impactando as principais culturas do país, como milho, soja e trigo. A análise profunda do relatório destaca as condições adversas e examina as consequências das previsões de seca para as práticas agrícolas brasileiras, sugerindo medidas adaptativas cruciais para enfrentar um período potencialmente árido.

Milho

O relatório ressalta preocupações agudas com a colheita de milho nas regiões centro oeste (Mato Grosso, Goiás, Mato Grosso do Sul) e norte do Paraná. Neste ano, a combinação de escassez de chuvas e temperaturas elevadas durante os períodos críticos de desenvolvimento e reprodução das plantas tem afetado drasticamente os rendimentos. Esta situação é ainda mais preocupante devido às previsões de uma seca persistente ao longo de agosto, o que pode intensificar a redução nos volumes de produção de uma das culturas mais vitais do país.

Milho, trigo, agricultura
As condições da cultura do milho nas principais áreas de cultivo são baseadas em informações de analistas de culturas nacionais e regionais. Fonte: CROPMonitor

Impacto Potencial: A falta de chuvas prevista para o mês de agosto aponta para um cenário onde a recuperação dos campos de milho será provavelmente limitada. Esta condição adversa tem o potencial de impactar severamente não apenas o abastecimento interno, mas também o segmento de exportações do Brasil.

Produtores e comerciantes poderão enfrentar desafios significativos, aumentando a pressão sobre os preços no mercado interno e afetando a competitividade do milho brasileiro nos mercados globais. A situação exige uma vigilância constante e possivelmente a implementação de estratégias de irrigação e manejo adaptativo para mitigar os efeitos da seca prolongada.

Trigo

A semeadura do trigo está sendo concluída sob condições inicialmente favoráveis, mas uma recente onda de frio tem retardado o desenvolvimento das primeiras etapas da cultura. Apesar do bom início, as previsões de uma temporada seca emergem como uma grande preocupação, especialmente para as etapas subsequentes de semeadura e desenvolvimento. Este cenário sugere a necessidade de uma atenção especial às práticas de manejo para garantir a viabilidade do cultivo nas fases críticas que estão por vir.

Trigo, milho, Brasil, GEOGLAM
As condições da cultura do trigo nas principais áreas de cultivo são baseadas em informações de analistas de culturas nacionais e regionais. Fonte: CROPMonitor

As implicações a longo prazo das condições de seca são preocupantes. A falta de umidade adequada pode comprometer seriamente a semeadura e a germinação do trigo, ameaçando as safras futuras e, consequentemente, a disponibilidade do grão no mercado.

Este fator pode não apenas afetar a segurança alimentar interna, mas também a posição do Brasil como fornecedor de trigo no mercado internacional.

Assim, torna-se essencial para os agricultores implementar estratégias de gestão de água e escolha de variedades de trigo mais resilientes às condições de estresse hídrico.

Influências climáticas: período de transição ENSO

No Brasil, as condições climáticas estão atualmente neutras em relação ao fenômeno ENSO, mas há uma probabilidade significativa de que a La Niña se desenvolva nos próximos meses, com o CPC/IRI prevendo uma chance de 70 a 81% de ocorrer entre agosto de 2024 e fevereiro de 2025. Isso tem implicações diretas para a agricultura brasileira, especialmente considerando que a La Niña frequentemente resulta em precipitação abaixo da média no sul da América do Sul durante a parte final do ano.

O impacto esperado da La Niña poderá agravar as condições já desafiadoras para os agricultores brasileiros, ampliando os riscos de seca em algumas regiões e potencialmente aumentando as chuvas em outras áreas do norte do país. Além disso, o contexto global de calor extremo, com junho de 2024 sendo o junho mais quente já registrado e um dos cinco anos mais quentes no registro, sugere que os agricultores também precisarão lidar com o estresse térmico nas culturas. Este calor extremo pode prejudicar as culturas durante períodos críticos de estresse hídrico e fases reprodutivas, afetando diretamente os rendimentos.

La niña, agricultura, previsto
Localização e momento de provável precipitação acima e abaixo da média relacionada aos eventos de La Niña. Fonte: NOAA

A perspectiva de um padrão contínuo de extremos climáticos, juntamente com uma temporada de furacões no Atlântico particularmente ativa prevista para 2024, sublinha a necessidade de estratégias robustas de gestão de risco e adaptação climática no setor agrícola brasileiro. As previsões indicam que a resiliência e a capacidade de adaptação das práticas agrícolas serão testadas nos próximos meses, exigindo preparação e resposta proativa para mitigar os impactos potenciais dessas condições adversas.