Sim, o desmatamento na Amazônia provoca redução de chuvas na América do Sul

Há anos sendo estudado por cientistas, o impacto do desmatamento da Amazônia foi confirmado como provocativo de redução das chuvas em áreas da América do Sul. Em fevereiro, novo recorde de desmate foi registrado.

desmatamento
A mineração ilegal causa desmatamento e poluição de rios na floresta amazônica perto da Terra Indígena Menkragnoti. - Pará, Brasil

Não é de agora que cientistas procuram meios de estudar e relacionar o aumento dos desmatamentos em florestas tropicais com a redução das chuvas, o que é completamente alarmante para o futuro da civilização, uma vez que o desmate continua batendo recordes mesmo em meio às fiscalizações e regras mais rígidas com relação a proteção e preservação ambiental.

Recentemente, um novo estudo provou que o desmatamento em grande escala no sul da Amazônia está relacionado com a redução das chuvas em toda a região. Este resultado também foi observado em outras florestas tropicais pelo mundo, como por exemplo, as florestas do Congo e as florestas do Sudeste Asiático, que também vem registrando aumentando no desmatamento nas últimas décadas.

A falta de chuva afeta a agricultura familiar, provoca diminuição nas produtividades, deixa os pastos secos e aumenta também o número de queimadas. Tudo está duramente interligado.

O artigo com a nova confirmação foi publicação na revista Nature e traz ainda mais rumores sobre uma fase já crítica da degradação da Amazônia. Nesse ritmo, a própria floresta tropical não será mais capaz de gerar sua chuva e a vegetação secará. O principal autor do relatório, Callum Smith, da Universidade de Leeds, disse: "podemos chegar a um ponto em que as florestas tropicais não podem mais se renovar".

O papel fundamental das florestas tropicais

As florestas tropicais são chamadas com frequência como pulmão do mundo, mas o fato é que elas desempenham um papel fundamental na moderação do clima local, regional e global, graças ao seu impacto nos ciclos de energia, água e carbono.

Com tudo isso afetado pelo desmatamento, a chuva reduz, a vegetação seca, as queimadas aumentam, a produtividade agrícola diminui, os animais morrem de fome e de sede. O que mais desejamos ver para entender de uma vez por todas que nossas vidas dependem da preservação das florestas mais ricas e importantes do mundo?

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A equipe liderada por Smith coletou dados de precipitação obtidos de estimativas de satélite entre 2013 e 2017 nos biomas da Amazônia, Congo e Sudeste Asiático. Ao analisar os dados, eles verificaram que a derrubada maciça de árvores atrapalha o ciclo da água e reduz significativamente as chuvas, principalmente nas estações chuvosas. Essa situação, somada à degradação do bioma localizado na América, pode fazer com que a selva não consiga gerar sua própria chuva e, consequentemente, a vegetação seque.

Através desse estudo também foi possível descobrir que em regiões a favor do vento dessas extensas florestas, como o sudoeste da Amazônia, até 70% da precipitação pode vir da evapotranspiração contra o vento. Grande parte das chuvas do norte e da costa argentina é alimentada pela umidade gerada pela vegetação amazônica dessa região.

Se nada for feito, o que esperar no futuro?

Você sabia que se a exploração madeireira na Amazônia continuar como antes, pode haver quedas anuais de precipitação de mais de 8% até 2050 na América do Sul? Enquanto no Congo a precipitação local será reduzida entre 8% e 10% até 2100. São números alarmantes segundo o novo estudo, que ainda mostra que as reduções na precipitação em áreas de floresta tropical também devem levar a uma perda adicional de floresta, além de afetar a composição de espécies, o sequestro de carbono e a frequência de incêndios.

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Vista aérea de drones de incêndios na floresta amazônica, desmatamento ilegal para criar terras para agricultura e pastagem de gado no Pará, Brasil. Conceito de ecologia, meio ambiente. IA generativa

Segundo o INPE (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), o desmatamento na Amazônia bateu recorde em fevereiro. Para se ter uma ideia, os alertas de desmatamento atingiram mais de 320 quilômetros quadrados, é como se Belo Horizonte inteira fosse destruída, um crescimento de 62% em relação ao mesmo período do ano passado, que antes havia sido considerado o mais alto dos registros históricos que começaram em 2016.

De todo o desmatamento registrado em fevereiro na Amazônia, metade de toda a área de floresta tropical derrubada foi no estado de Mato Grosso. Vale ressaltar que ainda que no acumulado total do ano, o desmatamento em 2023 até agora mostra uma queda de 22% em relação aos dois primeiros meses de 2022, o que não torna a situação menos preocupante.

Como uma relação direta, o desmatamento ajuda no aumento das queimadas, e como o estado de Mato Grosso foi o que mais desmatou até o momento, também é ele que ocupa o primeiro lugar no ranking nacional de queimadas do INPE, com 1061 focos registrados desde o início do ano até agora.