Sistema Cantareira entra em alerta hídrico com volume abaixo de 40%

O sistema Cantareira atingiu o volume de 39,7% na última sexta-feira (13). Volume igual ou maior do que 30% e abaixo de 40% caracteriza o estado de alerta para a Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp). Níveis baixos apontam para nova crise de abastecimento em 2022.

sistema cantareira
O volume de armazenamento do sistema Cantareira está abaixo do esperado e há indícios de uma nova crise hídrica em 2022.

Esta semana, o sistema Cantareira entrou em alerta após sua capacidade de armazenamento ficar abaixo de 40%. Na prática, o estado de alerta reduz a quantidade de água que a Sabesp pode retirar do manancial. A determinação de volume máximo de água a ser retirada é da Agência Nacional de Águas (ANA) e deve ser cumprida sempre a partir do primeiro dia do mês seguinte.

Em nota, a Sabesp afirma que não há risco de desabastecimento neste momento na Região Metropolitana de São Paulo, mas reforça a necessidade do uso consciente da água.

O período entre final de abril até meados de setembro é considerado o mais seco do ano para boa parte do Brasil, principalmente para o centro-oeste e parte do sudeste (o qual também inclui a área do manancial do sistema Cantareira). Isso reflete, naturalmente, no volume de água do sistema Cantareira para esta época do ano, que, historicamente, registra os menores acumulados de chuva neste período.

Porém, a vazão atual do manancial está abaixo da média histórica devido ao déficit de precipitação que tem sido observado. A precipitação acumulada durante os meses secos, de abril a julho de 2021, baseado nas redes pluviométricas cobrindo as sub-bacias de captação do Sistema Cantareira, foi 96 mm, o que representa 25% da média histórica (1983-2020) da estação seca (378 mm, abril – setembro).

A média de vazão afluente ao Sistema Cantareira de abril a julho de 2021, de acordo com dados da SABESP e da ANA foi 12 m³/s, 40% da média histórica para a estação seca (30 m³/s). Para o mesmo período, a média de vazão de extração total dos reservatórios foi 30 m³/s e a média de vazão de interligação com o Sistema Paraíba do Sul foi 7,6 m³/s.

Previsão de chuva

A bacia de captação do Sistema Cantareira já se encontra em pleno período seco. Nesse período as chuvas ocorrem apenas em decorrência de passagens de frentes frias. Em particular, nos próximos 3-10 dias não há previsão de chuvas expressivas o que, em função da época do ano, não representa uma anomalia. As previsões (tendência) de chuva para a segunda semana, também indicam um cenário de precipitações dentro da média do período.

Com a possível chegada de um evento de La Niña no pacífico equatorial entre novembro e janeiro de 2022, a situação pode se agravar, já que anos de La Niña tendem a apresentar chuvas abaixo da média no centro-sul do Brasil.

O baixo volume de armazenamento preocupa especialistas, que temem uma nova crise de abastecimento na região metropolitana de São Paulo. Para efeito de comparação, na sexta (13), o manancial Cantareira operava com 39,7% de armazenamento. No mesmo dia 13 de agosto de 2013, ano anterior à crise hídrica, o Cantareira operava com 51,1% de seu armazenamento. No ano seguinte, 2014, a capital paulista teve crise de abastecimento. Se não chover o suficiente, o cenário atual aponta para uma nova crise no ano que vem.

Projeções de armazenamento

A figura abaixo apresenta as projeções da evolução do volume útil armazenado nos reservatórios do Sistema Cantareira para cinco cenários de precipitação: 50% (verde) e 25% (azul claro) abaixo da média histórica, na média histórica (cinza) e 25% acima da média histórica (azul escuro) e cenário crítico (laranja).

Nesta simulação considera-se a vazão de aporte da interligação com a bacia do Rio Paraíba do Sul com média igual a 5,13 m³/s. A linha magenta mostra a evolução do armazenamento observado do Sistema Cantareira em 2020 e a linha roxa no período de janeiro a julho de 2021. As faixas coloridas referem-se às faixas de operação do reservatório de acordo com a resolução conjunta da ANA/DAEE Nº 925.

As projeções indicam que o reservatório deverá operar na faixa de operação “alerta” (armazenamento entre 30% e 40%) nos próximos meses. Entretanto, considerando o cenário de precipitação 25% acima da média, o reservatório retornará no final do horizonte de projeções (dezembro de 2021) para a faixa de operação “atenção” (armazenamento entre 40% e 60%). Em dezembro de 2020, o reservatório operou com 36% da capacidade. Importante salientar que, operando abaixo de 30% de armazenamento, o reservatório entra na faixa de “restrição”.