Alerta no Sistema Cantareira: manancial opera com nível abaixo dos 40%
O déficit de 20% de chuva na região do Sistema Cantareira em um ano, fizeram reacender o alerta sobre uma nova crise hídrica. A seca no manancial pode indicar problemas de abastecimento de água e encarecer o custo da energia em 2021.
A região do Sistema Cantareira, interior de São Paulo, teve um déficit de 20% de chuva de 2019 a novembro de 2020. Entre 2016 e novembro deste ano, choveu 85% do esperado para o período, de acordo com dados da Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp).
O nível do Cantareira está abaixo dos 40% desde o dia 7 de outubro, caracterizando situação de alerta. Esse baixo percentual do manancial não é apenas com o Cantareira, em todos os reservatórios da região metropolitana de São Paulo houve uma redução de 12% no volume agregado, de acordo com dados da Sabesp.
O Sistema Cantareira abastece cerca de 7,5 milhões de pessoas por dia, 46% da população da Grande São Paulo, segundo a Agência Nacional de Águas (ANA). Logo, o baixo nível de água pode indicar problemas de abastecimento em 2021, caso não haja chuvas suficientes e uso racional da água pela população.
Além do atraso das chuvas neste ano, a pandemia de Covid-19 fez aumentar o consumo residencial de água na região de São Paulo. Segundo a Sabesp, houve uma elevação de 4% do consumo médio por família, passando de 122 a 127 litros por pessoa/dia, entre os meses de janeiro e novembro.
Outro fator que será influenciado com o baixo volume de água nos reservatórios será a cobrança pela energia. A redução da capacidade de geração de energia hidroelétrica faz com que a geração térmica seja mais utilizada. Devido ao custo operacional maior, a conta de luz ficará mais cara.
Segundo análises do professor Pedro Luiz Cortês, da Universidade de São Paulo (USP), haverá uma certa recomposição dos volumes dos mananciais entre dezembro e janeiro, porém ainda não será o suficiente para reverter o cenário atual do Cantareira.
Por que está chovendo menos?
Uma das causas para que esteja chovendo menos na região Sudeste é a influência do fenômeno La Niña. De acordo com o professor Antônio Carlos Zuffo do Departamento de Recursos Hídricos da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), as chuvas previstas para este ano atrasaram em razão do fenômeno climático.
Outro fator que pode estar contribuindo para que chova menos, é o desmatamento da Amazônia. Segundo o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), houve um aumento de 9,5% de área desmatada entre agosto de 2019 e julho de 2020.
A diminuição das chuvas acontece devido à diminuição da umidade transportada pelos Rios Voadores. Quando ocorre o desmatamento, a pastagem ou o cultivo não conseguem repor a umidade na atmosfera, como as árvores de grande porte conseguem através da transpiração. O resultado é menos umidade transportada para o Sudeste e, consequentemente, menos chuva.
Sabesp cita melhorias no sistema
Para enfrentar a crise hídrica pós 2014, a Sabesp adotou medidas como a concessão de bônus ou aplicação de multas ao consumidor, a captação de menos água do que o limite máximo das represas e de mais água de rios, além da interligação dos sistemas de captação.
Dentre as diversas obras para otimizar os recursos hídricos da região, o Cantareira passou a contar com uma fonte adicional de água, a bacia do rio Paraíba do Sul, inaugurada em março de 2018. As obras agregaram 445 bilhões de litros de água para a grande São Paulo.
Apesar dessas mudanças na gestão desde a crise, o professor Côrtes alerta que o Sistema Cantareira segue com dificuldade de se recuperar.