Situação dos rios na Mata Atlântica é muito preocupante, aponta pesquisa
Estudo da SOS Mata Atlântica revela a degradação crescente dos rios da Mata Atlântica, com nenhum dos 112 rios analisados alcançando qualidade de água considerada boa, impactando saúde e meio ambiente.

Uma pesquisa realizada pela Fundação SOS Mata Atlântica revela a preocupante situação dos rios da Mata Atlântica, com 112 rios analisados em 14 estados do Brasil durante 2024. Os resultados apontam que nenhum dos rios pesquisados obteve qualidade de água considerada "boa" ou superior. A maioria apresentou qualidade "regular", enquanto uma pequena parte foi classificada como "ruim" ou "péssima", destacando a crescente degradação dos recursos hídricos no país.
O estudo, que envolveu 145 pontos de coleta em 67 municípios, mostrou uma ligeira piora em relação ao levantamento anterior, realizado em 2023, e poucos sinais de melhoria, restritos a iniciativas isoladas. De acordo com os dados, 75,2% dos pontos avaliados apresentaram qualidade regular da água, enquanto 13,8% foram considerados ruins e 3,4% péssimos. Nenhum dos pontos alcançou a classificação "ótima", e apenas 7,6% dos pontos obtiveram qualidade boa.
Fatores que contribuem para a degradação e soluções emergentes

O Índice de Qualidade da Água (IQA) desenvolvido na pesquisa revela que os rios com qualidade "boa" ou "ótima" têm condições adequadas para abastecimento, produção de alimentos e preservação da vida aquática. Já os rios com classificação "regular" indicam impactos ambientais significativos, o que pode comprometer seu uso para consumo ou lazer. Nos casos mais críticos, como os rios com qualidade "ruim" ou "péssima", a poluição atinge níveis alarmantes, prejudicando a biodiversidade e a saúde pública, como é o caso do Rio Pinheiros, em São Paulo, que sofre com décadas de poluição e despejo de esgoto direto.
Atualmente, cerca de 35 milhões de brasileiros ainda não têm acesso à água potável, e metade da população não conta com tratamento adequado de esgoto.
As soluções tradicionais de saneamento, como o processo de privatização das empresas de saneamento, não têm se mostrado eficazes, e especialistas defendem a adoção de alternativas, como o uso de tecnologias de permacultura e soluções baseadas na natureza, para resolver problemas em áreas rurais e periféricas das grandes cidades.
Exemplos positivos e a urgente necessidade de ação governamental
Um exemplo positivo apontado pela pesquisa é o projeto de descontaminação do Córrego da Fonte, no bairro Butantã, em São Paulo. A iniciativa, apoiada pela SOS Mata Atlântica, envolveu a construção de um sistema de tratamento de esgoto local, utilizando um Tanque de Evapotranspiração (Tevap), que evitou que os efluentes de cerca de 30 moradores fossem despejados no parque. Esse modelo de tratamento no local tem se mostrado eficiente e sustentável, oferecendo uma solução para a falta de infraestrutura de saneamento na região.
Apesar de algumas melhorias pontuais, como o Córrego Trapicheiros, no Rio de Janeiro, e os rios Sergipe e do Sal, em Sergipe, o estudo alerta que a expansão desordenada das cidades e a falta de fiscalização são fatores determinantes para a piora da qualidade da água em muitos rios. A pesquisa reforça a necessidade urgente de políticas públicas integradas que abordem a questão da água, clima, meio ambiente e saneamento, com a participação ativa da sociedade civil nos comitês de bacias hidrográficas e na defesa de águas limpas.
A SOS Mata Atlântica conclui que é essencial um esforço coordenado entre governos, empresas e a população para reverter o quadro de degradação e garantir a preservação dos rios da Mata Atlântica, um bioma vital para a biodiversidade e para o abastecimento de água de milhões de brasileiros. As soluções, segundo especialistas, exigem um equilíbrio entre ações urgentes e medidas de longo prazo, como a proteção das nascentes e das margens dos rios, além da restauração de áreas de floresta e do controle do uso de agrotóxicos e outros poluentes.
Referências da notícia
Brasil de Fato. Situação dos rios na Mata Atlântica é preocupante, aponta pesquisa. 2025