Temperaturas mais altas do Oceano Atlântico ajudaram na rápida intensificação do furacão Beryl no sudeste do Caribe

Furacões de categoria 5 são geralmente esperados em setembro, mas o furacão Beryl ocorreu antecipadamente e se intensificou muito rápido, causando estragos no sudeste do Caribe e na Jamaica.

Oceano
Beryl é uma tempestade atípica por atingir a categoria 5 precocemente em julho, quando o esperado é apenas em setembro. Foto: NOAA.

O furacão Beryl atingiu a Jamaica na última quarta-feira (03) depois de matar pelo menos 7 pessoas e causar danos no sudeste do Caribe. É a tempestade mais forte a atingir a costa tão cedo na temporada de furacões, e o motivo está relacionado ao aquecimento global.

O segundo furacão de categoria 5 no mês de julho

O Beryl quebrou vários recordes antes mesmo de seus ventos fortes atingirem a terra, uma vez que estabeleceu o recorde para a primeira tempestade de Categoria 4 com ventos de pelo menos 209 quilômetros por hora, a primeira do mês de junho.

Além disso, também foi a primeira tempestade a se intensificar rapidamente com aumento da velocidade de vento de 102 quilômetros por hora em 24 horas, indo de uma depressão tropical para um evento de Categoria 4 em apenas 48 horas.

Na segunda-feira (01) à noite, a tempestade se fortaleceu para Categoria 5, tornando-se o primeiro furacão dessa intensidade observado na bacia do Oceano Atlântico, e o segundo no mês de julho, depois do furacão Emily em 2005.

A força e a rápida intensificação do Beryl foram incomuns para uma tempestade tão cedo na temporada. Os especialistas vêm alertando para uma temporada de furacões excepcionalmente ativa no Atlântico.

A frequência e a magnitude desses eventos de rápida intensificação no Atlântico têm aumentado nas últimas décadas, colocando em risco as comunidades, pois elas têm menos tempo para se preparar. As causas de tempestades individuais são complexas, o que torna difícil atribuir totalmente casos específicos às mudanças climáticas.

Mas temperaturas excepcionalmente altas da superfície do mar são uma das principais razões pelas quais o furacão Beryl tem sido tão poderoso.

Furacões dessa magnitude são esperados apenas em setembro

Geralmente, furacões precisam que a superfície do mar esteja com temperaturas de pelo menos 27°C para ter chances de se desenvolver, pois essas tempestades são alimentadas, também, por águas quentes que se estendem por mais de 45 metros abaixo da superfície.

O conteúdo de calor do oceano que antecedeu o Beryl foi excepcionalmente alto em comparação com anos anteriores. Normalmente, o calor só começa a alcançar esse nível de calor a partir de setembro, quando a temporada de furacões tende a atingir o pico da atividade.

Oceano Atlântico
Quantidade de calor armazenada no Oceano Atlântico Equatorial. Fonte: Brian McNoldy/Upper Ocean Dynamics Lab.

A maioria dos grandes furacões acontece no final de agosto e setembro, e os anteriores a esse período são muito raros, principalmente quando atingem a Categoria 5, como foi o caso do Beryl. Embora um furacão de categoria cinco seja algo inédito tão cedo na temporada, sua força mostra como essas tempestades estão mudando em um mundo mais aquecido.

Então a mudança climática impulsionou a rápida intensificação das tempestades? À medida que os oceanos se aquecem e a quantidade de calor aumenta com o avanço da mudança climática, é compreensível afirmar que essa rápida intensificação possa estar se tornando mais comum.

Ao comparar os eventos de furacões entre 1971 a 1990 e 2001 a 2020, foi verificado que as taxas de pico de intensificação aumentaram cerca de 30%, associadas a fatores como águas quentes, baixa cisalhamento vertical do vento e a alta disponibilidade de umidade na atmosfera.

Embora seja incerto até que ponto as mudanças climáticas contribuíram para a formação inicial do furacão Beryl, nossos modelos climáticos sugerem que a intensidade média dos furacões aumentará no futuro devido ao aumento do aquecimento global, explica Hiroyuki Murakami, cientista pesquisador do Laboratório de Dinâmica de Fluidos Geofísicos da National Oceanic and Atmospheric Administration (NOAA).