Terras Indígenas da Amazônia influenciam as chuvas que abastecem 80% das áreas produtivas do Brasil
As Terras Indígenas da Amazônia garantem chuvas essenciais ao agronegócio, sustentando 80% das áreas produtivas. Entenda como ocorre essa "irrigação" em boa parte do Brasil.
Um estudo inédito revela que as Terras Indígenas na Amazônia têm um papel crucial no regime de chuvas que beneficia cerca de 80% da área ocupada por atividades agropecuárias no Brasil. Em 2021, as áreas agrícolas mais impactadas positivamente por essa dinâmica hídrica alcançaram uma renda econômica de R$ 338 bilhões, representando 57% do total nacional.
As Terras Indígenas (TIs) contribuíram para uma renda econômica de R$ 338 bilhões, representando 57% da produção agrícola nacional. Ocupando cerca de 23% da Amazônia Legal, esses territórios abrangem mais de 450 áreas protegidas e são o lar de aproximadamente 403,6 mil pessoas.
Historicamente, as TIs têm sido barreiras eficazes contra o desmatamento: entre 2019 e 2023, dos 4,4 milhões de hectares desmatados na Amazônia, apenas 3% (130,2 mil hectares) ocorreram dentro desses territórios.
Dezoito estados brasileiros e o Distrito Federal estão parcial ou totalmente sob a área de influência das Terras Indígenas da Amazônia. A contribuição da chuva originada pela reciclagem de água nesses territórios varia de forma significativa, apresentando um padrão claro: é mais expressiva na direção leste-oeste, alinhada ao fluxo de reciclagem hídrica, e atinge seu ápice na porção ocidental do Brasil.
Em estados como Acre, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e Paraná, a precipitação atribuída à reciclagem de água nas florestas dessas áreas pode representar até um terço do volume total anual em algumas regiões.
De modo geral, até 30% da chuva média que cai sobre as terras agropecuárias do país está diretamente relacionada à eficiente reciclagem de água nesses territórios. Apesar disso, Rondônia e Mato Grosso, que estão entre os nove estados mais impactados por essas chuvas, também lideram entre os que mais desmataram suas florestas desde 1985.
Entenda como é feita a "irrigação" em boa parte do Brasil
Na prática, a Amazônia “irriga” grande parte do país por meio dos chamados “rios voadores”: a umidade reciclada nas florestas das Terras Indígenas amazônicas é transportada pela atmosfera e se torna chuva em outras regiões do Brasil, como o Centro-Oeste e o Sul. Esse mecanismo natural de formação de chuva depende da manutenção de áreas de florestas nativas conservadas, que são responsáveis pelo transporte de umidade para a atmosfera.
As árvores, localmente, desempenham um papel fundamental no ciclo da água, bombeando-a do solo para a atmosfera. O vapor d’água liberado forma nuvens que promovem chuvas na região. A umidade excedente à formação dessas nuvens é transportada pelos ventos alísios de leste para oeste, abastecendo as florestas do interior amazônico com umidade adicional para novas precipitações. Esse processo de reciclagem contínuo se repete até que os ventos encontram a barreira natural da cordilheira dos Andes.
Ao atingir os Andes, os ventos carregados de umidade são redirecionados para o sul e sudeste do continente, formando os chamados “rios voadores”. Esse fluxo de vapor d’água, comparável em magnitude ao rio Amazonas, ocorre na atmosfera e transporta a umidade necessária para chuvas em regiões distantes da Amazônia, como o Pantanal, a bacia do rio da Prata e outras áreas do Sudeste da América do Sul, irrigando-as naturalmente.
Referência da notícia
Mattos, C.; Bernardino, P. N.; Stein, B.; Carneiro, G. P.; Tavares, J.; Esquivel-Muelbert, A.; Barreto, S.; Junqueira, A. B.; Staal, A.; Hirota, M. Manutenção das Terras Indígenas é fundamental para a segurança hídrica e alimentar em grande parte do Brasil. Nota Técnica, 2024.