Terremotos profundos na Amazônia intrigam cientistas, que planejam investigar a sua origem

Sim, há terremotos na região da Amazônia ocidental, mas como eles ocorrem em grandes profundidades, não são destrutivos. Sua origem intriga pesquisadores, que agora vão tentar desvendar os seus mistérios.

sismógrafo
O sismógrafo é um aparelho que detecta os movimentos registrados no solo e mede a magnitude e força dos tremores. Crédito: GettyImages.

Terremotos profundos e muito intensos costumam ocorrer na região da placa de Nazca, que fica sob a Amazônia Ocidental. E os cientistas sabem da existência destes fenômenos, mas o que eles ainda não sabem é a sua origem.

Sendo assim, em um estudo inédito sobre esses terremotos, um grupo de pesquisadores brasileiros irá fazer uma tomografia sísmica para investigar o que causa esses eventos na região.

Estudo inédito sobre os terremotos na Amazônia Ocidental

O estudo que será realizado reúne oito instituições e é coordenado pelo Laboratório Sismológico da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN). O principal objetivo do projeto é determinar a estrutura sísmica detalhada da placa de Nazca sob a Amazônia Ocidental, buscando descobrir a origem dos terremotos profundos.

Os tremores ocorrem entre 550 km e 650 km abaixo do solo no oeste do bioma Amazônico. “Esses terremotos são um fenômeno bem intrigante, pois não deveriam acontecer nessas profundidades. Há apenas uma dúzia de zonas no planeta com esse tipo de terremoto”, comentou Jordi Julià Casas, pesquisador do Departamento de Geofísica da UFRN.

Os terremotos na região da Amazônia ocidental são os de maior magnitude do Brasil, mas por conta das grandes profundidades em que acontecem não são destrutivos.

Para realizar a tomografia sísmica, uma rede está sendo montada com 20 sismógrafos. Esse tipo de tomografia usa registros sísmicos digitais para a construção de imagens do interior da Terra. A ideia é obter imagens da estrutura profunda da área para testar hipóteses sobre os mecanismos geradores dos terremotos.

E até surgiu uma hipótese, como explica Romero Pinheiro, do Laboratório de Geofísica Aplicada da Universidade Federal do Acre (UFAC): “O interessante é que existe uma hipótese que ocorre um mergulho quase vertical [da placa de Nazca] na Amazônia Ocidental, um pouco ao norte do Acre. O ponto de dissipação de energia é bastante profundo, e o terremoto gerado tem característica única em nível mundial”.

Municípios onde serão instaladas as estações sismológicas para o estudo. Crédito: UOL.

Até existem alguns estudos em escala continental que analisaram essa área, porém todos tem resolução baixa. Então, essa nova pesquisa pretende trazer imagens com uma resolução alta.

Terremotos fortes, mas não causam problemas para nós

Jordi explica que a Amazônia Ocidental tem uma atividade sísmica intensa por conta de sua proximidade com a zona dos Andes, onde há colisão de placas tectônicas — que gera terremotos mais fortes.

Essa região é a que registra terremotos de maior magnitude no país, porém, por causa de sua grande profundidade, eles não são destrutivos. “Alguns são perceptíveis na superfície. Tem terremoto profundo de magnitude 7,5, e o Acre e até outras partes do país percebem”, disse ele.

A região da Amazônia registrou no dia 20 de janeiro de 2024 o maior tremor de terra da história do Brasil. O abalo sísmico atingiu 6,6 graus na Escala Richter, segundo informações do Serviço Geológico dos Estados Unidos (USGS).

E segundo os pesquisadores, esses eventos são particularmente interessantes porque, devido às diferentes condições de pressão e temperatura nessas profundidades, o mecanismo físico por trás desses terremotos profundos não pode ser semelhante ao mecanismo dos terremotos rasos.

Quando finalizado, esse estudo deve ajudar as defesas civis a se prepararem para enfrentar possíveis terremotos expressivos, com planos de evacuação, estratégias de resposta e medidas de segurança com base nas informações sísmicas disponíveis.

Referência da notícia:

Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação/Observatório Nacional. “Observatório Nacional contribui para estudo de terremotos profundos na Amazônia por meio da RSBR e do PEG-BR”. 2024.