Um estudo científico da Universidade Politécnica de Valência detecta a maior fuga de metano já registrada
Cientistas da Universidade Politécnica de Valência documentaram a maior fuga de metano, um poderoso gás com efeito de estufa, registrada até à data em um poço de petróleo na região do Cazaquistão.
Uma equipe internacional de cientistas liderada pelo Dr. Luis Guanter, professor da UPV e chefe do Grupo LARS do Instituto de Engenharia da Água e do Ambiente da Universidade Politécnica de Valência (IIAMA-UPV), documentou a maior fuga de metano regisrtada até à data em um poço de petróleo.
O poço está localizado no campo Karaturun East (Cazaquistão). O estudo, publicado na Environmental Science & Technology Letters e selecionado pela Nature como Research Highlight, quantifica e acompanha a evolução desta emissão maciça de metano, graças ao potencial de combinação de dados de satélite de várias missões, como TROPOMI, GHGSat, PRISMA, EnMAP e EMIT, juntamente com o Sentinel-2 e o radiômetro multiespectral Landsat.
A maior fuga de metano em um poço de petróleo
A pesquisa conduzida pelo grupo LARS (IIAMA-UPV) indica que este acidente, que provocou um incêndio de 10 metros de altura e a formação de uma cratera de 15 metros de largura, ultrapassou significativamente os eventos anteriores, como Aliso Canyon em 2015, Ohio em 2018 e Louisiana em 2019.
“A fuga começou em 9 de junho de 2023 e, durante os 205 dias que durou o incidente, foram liberadas para a atmosfera cerca de 131.000 toneladas de metano. Milhares de toneladas de água foram injetadas para selar o poço. Finalmente, o fluxo de gás foi interrompido em 25 de dezembro de 2023 através da injeção de lama de perfuração”, explica Guanter, investigador do IIAMA.
Importância do trabalho efetuado
Os investigadores do grupo LARS-IIAMA, como Javier Roger, Adriana Valverde, Itziar Irakulis e Javier Gorroño, participaram no estudo, juntamente com peritos de várias instituições internacionais, como o SRON Netherlands Institute for Space Research, Kayrros, Environmental Defense Fund e o United Nations Environment Programme.
Essa pesquisa desenvolveu novos métodos de processamento de dados para melhorar a comunicação e a gestão das grandes plumas de metano concentradas detectadas. “Esses métodos otimizados incluem a implementação de um filtro personalizado para detetar colunas e modelos específicos de quantificação de metano para instrumentos hiperespectrais”, explicam os pesquisadores do grupo LARS. Assim, salientam que as tecnologias avançadas de satélite são cruciais para detectar e quantificar as emissões de metano, especialmente em locais remotos onde estes eventos passam frequentemente despercebidos.
“O nosso trabalho demonstra como as ferramentas espaciais avançadas são essenciais para descobrir e gerir estes eventos de superemissões, permitindo uma reconstrução exata e uma quantificação robusta das emissões”, afirmam os membros do grupo LARS. Por fim, os investigadores do IIAMA sublinham a necessidade de um monitoramento contínuo e preciso para mitigar os impactos ambientais de atividades industriais como a extração de petróleo e gás.
"O gás natural, para além de ser uma importante fonte de energia, é também um gás com efeito de estufa responsável por quase um terço do aquecimento global, uma vez que contém mais de 90% de metano. A diferença em relação ao CO2 é que este tem um maior impacto a curto prazo, pelo que é necessário atuar na fonte e reduzir as emissões”, concluem.
Referência da notícia:
Luis Guanter et al, Multisatellite Data Depicts a Record-Breaking Methane Leak from a Well Blowout, Environmental Science & Technology Letters (2024). DOI: 10.1021/acs.estlett.4c00399