"Uma a cada 100 anos": Austrália sofre com inundações severas e históricas
No ano passado o leste da Austrália sofreu com chuvas recordes e grandes inundações. Agora é a vez do noroeste do país sofrer com inundações históricas consideradas “uma a cada 100 anos”. Mais uma vez, seria a La Niña culpada?
Estamos vivenciando um terceiro ano consecutivo de La Niña ativa sobre o Oceano Pacífico Tropical, ou seja, pelo terceiro verão seguido estamos registrando um pico de anomalias negativas de Temperatura da Superfície do Mar (TSM) sobre o Pacífico Tropical. Como sabemos, a La Niña - assim como o El Niño - tem a capacidade de alterar todo o sistema climático global, gerando efeitos locais no clima que podem vir na forma de eventos extremos, como secas severas e chuvas volumosas.
A La Niña deste ano já tem exercido influência na variabilidade do clima em diversas partes do mundo, incluindo o Brasil, onde estamos observando uma maior ocorrência de chuvas volumosas na porção Centro-Norte do país, por conta da formação de Zonas de Convergência do Atlântico Sul (ZCAS,) e condições mais secas sobre a região Sul. Inclusive no estado do Rio Grande do Sul, diversos municípios decretaram situação de emergência devido à estiagem neste ano.
Apesar de seu fim estar cada vez mais próximo de acordo com as previsões climáticas, os efeitos da La Niña ainda continuarão a persistir por meses em diversas partes do mundo e muitas regiões demorarão para se recuperar desses efeitos. Como o caso da Austrália, que por mais um ano seguido vive o drama das inundações e chuvas.
Inundações consideradas “uma a cada século” atingem a Austrália
Após vários dias seguidos de chuvas torrenciais, parte do noroeste da Austrália está coberta pelas águas em um evento de inundação considerado “um a cada 100 anos”! De acordo com as autoridades locais, em algumas partes as águas das enchentes se estenderam por 50 quilômetros, com inundações “até onde a vista alcança”, como disse um dos oficiais de resgate.
Na região de Kimberley - área pouco povoada no estado da Austrália Ocidental que possui o tamanho equivalente ao estado da Califórnia - as graves inundações começaram na semana passada após a passagem do ciclone tropical Ellie, que trouxe fortes chuvas à região. No domingo (8) a agência nacional Bureau of Meteorology (BOM) avisou que a chuva havia diminuído após o ciclone mudar sua trajetória, saindo da Austrália Ocidental e indo em direção ao Território do Norte. Mesmo assim, as grandes inundações permaneceram em Kimberley no início desta semana.
A cidade de Fitzroy Crossing, uma comunidade de cerca de 1300 pessoas, está entre as mais atingidas. O rio Fitzroy, que passa pela cidade, atingiu a cota de 15,81 metros na quarta-feira (4), quebrando seu antigo recorde de 2002 de 13,95 metros. A cidade está completamente isolada devido às inundações, recebendo suprimentos somente através de aviões.
Muitas outras comunidades ficaram isoladas após as estradas ficarem embaixo d’água, mais de 200 pessoas tiveram que ser resgatadas por helicópteros. O primeiro-ministro do país, Anthony Albanese, descreveu a inundação como "devastadora" e prometeu assistência federal.
No ano passado algumas regiões do leste da Austrália também viveram grandes episódios de inundações e chuvas recordes, principalmente devido à atuação da La Niña, que contribuiu para um aumento das chuvas no leste e norte da Austrália. Além disso, a combinação da La Niña ativa com a fase positiva da Oscilação Antártica - que tem persistido desde novembro do ano passado - também contribuem para chuvas acima da média em partes da Austrália, incluindo o noroeste do país.
Essa época do ano é conhecida como a temporada de ciclones tropicais no norte australiano - que se estende de 1° de novembro a 30 de abril - e, de acordo com a BOM, a temporada deste ano deverá ter uma atividade de ciclones acima da média devido aos efeitos da La Niña. Portanto, podemos esperar mais episódios como este nos próximos meses.