UNESCO considera listar Barreira de Corais da Austrália como "em perigo"
Dois terços da Grande Barreira de Corais da Austrália registraram os níveis mais altos de cobertura de corais visto em décadas, mostrando que o frágil Patrimônio Mundial da UNESCO ainda pode se recuperar dos danos. Mas, o Recife permanece vulnerável às mudanças climáticas e ao branqueamento em massa.
A Grande Barreira de Corais da Austrália sofreu branqueamento generalizado e severo devido, principalmente, ao aumento da temperatura do oceano. As regiões central e norte dessa Grande Barreira de Corais apresentaram os níveis mais altos de cobertura de corais desde 1985, ano em que o Instituto Australiano de Ciências Marinhas (AIMS) começou a monitorar o Recife.
A recuperação dos trechos central e norte do Recife, listado como Patrimônio Mundial pela UNESCO, contrastou com a região sul, que perdeu a cobertura de corais devido a surtos contínuos de estrelas-do-mar da coroa de espinhos. De acordo com suas pesquisas acerca do Recife, o AIMS definiu que a cobertura de corais acima de 30% é considerada um valor alto.
Na região central, a cobertura média de corais passou de 12% (2019) para 33% (2022); enquanto na região norte houve um aumento de 13% (2017) para 36% (2022). Em contrapartida, na região sul (que geralmente tem maior cobertura de corais do que as outras regiões) a cobertura caiu de 38% (2021) para 34% (2022). Isso ocorre após o quarto branqueamento em massa em sete anos e o primeiro durante um evento de La Nina, que normalmente está associado a temperaturas mais baixas.
De acordo com o relatório do AIMS, as regiões central e norte apresentaram um rápido retorno aos danos causados, devido a um tipo de coral chamado de Acropora. O CEO da AIMS, Paul Hardisty, afirma que embora essas duas regiões apresentem um sinal de serem um sistema resiliente, por se recuperarem dos danos causados ao longo do tempo, a região sul demonstra como o Recife ainda é vulnerável a “contínuos distúrbios agudos e graves que estão ocorrendo com mais frequência e são mais duradouros”.
O branqueamento em 2020 e 2022 não foi tão prejudicial quanto em 2016 e 2017. Mas a frequência desses eventos de perturbação está aumentando, especialmente os eventos de branqueamento em massa de corais: que ocorre quando o coral, em resposta às condições estressantes como o calor, perde seus pigmentos e algas simbióticas, ficando branco e potencialmente morrendo.
O líder do programa de monitoramento do AIMS, Mike Emslie, afirma que é comum na estação do verão o Recife correr o risco de estresse térmico, branqueamento e potencial mortalidade; mas, a compreensão de como o ecossistema responde a esses fatores ainda está em desenvolvimento e deve ser aprimorada. Pois, o aumento das temperaturas dos oceanos e a extensão dos eventos de branqueamento em massa destacam a ameaça crítica que as mudanças climáticas representam para todos os Recifes.
Em Março de 2022 houve uma visita de especialistas da UNESCO ao local para analisar a possibilidade de listar a Grande Barreira de Corais como “em perigo”. A reunião do Comitê do Patrimônio Mundial para tratar do Recife deveria ser realizada na Rússia em Junho de 2022, mas foi adiada após a invasão à Ucrânia. O governo australiano tem tratado esse assunto com cautela, tentando impedir o Recife de ser rotulado como “em perigo”, pois isso poderia impactar a indústria de turismo multibilionária do país.