Vantablack: a história da cor mais escura já inventada

Não se trata apenas de uma cor, mas de uma experiência sensorial que desafia a perceção, e a sua história é simultaneamente fascinante e controversa. Desvendamos todos os segredos do Vantablack.

Vantablack
Se pensava que sabia tudo sobre as cores, pode ficar surpreendido ao descobrir a existência desta cor preta que tem fascinado tanto os cientistas como os artistas.

Se achava que sabia tudo sobre cores, deixe-me dizer-lhe que há uma que talvez nunca lhe tenha passado pela cabeça. Com um nome curioso, Vantablack, estamos a falar de um material que revolucionou o mundo da arte, da ciência e da tecnologia, gerando admiração e controvérsia em partes iguais.

Vantablack, uma cor que chegou em 2014 para ficar

Esta cor foi criada em 2014 por cientistas da empresa britânica Surrey NanoSystems, e a sua particularidade é o facto de ser capaz de absorver 99,96% da luz visível, gerando uma sensação visual única. Aplicada a uma superfície, parece apagar a forma do objeto e mergulhá-lo no vácuo absoluto.

Não se trata de um pigmento no sentido tradicional, mas sim de uma estrutura de nanotubos de carbono dispostos de forma tão densa que praticamente toda a luz que incide sobre eles é retida e convertida em calor.

Os nanotubos de carbono são mil vezes mais finos do que um fio de cabelo humano e, no caso do Vantablack, estão organizados numa rede que absorve a luz, eliminando o brilho e as sombras.

A ideia inicial de criar um negro absoluto surgiu da necessidade de um material que pudesse eliminar a distorção da luz em câmaras e telescópios, melhorando a precisão das observações astronômicas e óticas.

No entanto, o potencial do Vantablack excedeu as expectativas dos seus criadores, provando ser um material único que é útil não só na ciência e na tecnologia, mas também na arte e no design.

Arte e polémica, a exclusividade de Anish Kapoor

Um dos aspetos mais controversos do Vantablack é a sua utilização exclusiva na arte pelo artista britânico Anish Kapoor, que obteve os direitos de utilização nas suas obras. Esta decisão provocou críticas na comunidade artística, que considera injusto o fato de um material tão único estar limitado a um único criador.

Em resposta, o artista Stuart Semple lançou “o rosa mais cor-de-rosa”, disponível para todos, exceto para Kapoor, como protesto contra esta exclusividade. O Vantablack tornou-se assim um símbolo do debate sobre o acesso e a propriedade dos materiais na arte, sendo uma fonte constante de inspiração e controvérsia.

O futuro do Vantablack: aplicações científicas e restrições

No entanto, apesar da controvérsia no mundo da arte, o Vantablack continua a ser desenvolvido e utilizado em domínios científicos e tecnológicos em que a sua capacidade de absorção de luz é única. A sua utilização em dispositivos militares e óticos avançados também tem sido explorada, embora a sua produção e aplicação sejam extremamente dispendiosas e delicadas devido à complexidade dos nanotubos de carbono.

A sua utilização no setor comercial é, por enquanto, limitada

No setor comercial, a utilização do Vantablack é limitada devido à sua elevada sensibilidade e à complexidade do seu manuseamento. Como se trata de um material que requer condições muito específicas para a sua aplicação e armazenamento, a sua utilização em produtos de consumo não é atualmente permitida.

Em vez disso, a Surrey NanoSystems desenvolveu versões menos complexas do Vantablack, como o VBx2, que permite que o efeito preto profundo seja aplicado em outras superfícies de uma forma mais acessível. Esse material, embora menos denso do que o Vantablack original, continua a oferecer uma experiência visual única ao absorver até 99% da luz.