2050: O plano europeu para acabar com os poluentes em três décadas

A Agência Internacional de Energia publicou uma proposta para anular as emissões líquidas de poluentes até 2050, e diz que será necessário mudar profundamente os sistemas de energia para conter o aquecimento global.

2050: O plano europeu para acabar com os poluentes em três décadas
A Agência Internacional de Energia publicou uma proposta para anular as emissões líquidas até 2050 e, assim, tentar frear o aquecimento global.

Um dos maiores questionamentos das ciências atmosféricas, hoje, é a possibilidade de controlar as mudanças climáticas através da redução da emissão de poluentes. Em um relatório publicado recentemente, a Agência Internacional de Energia (IEA) forneceu uma resposta à pergunta, endossada pela União Européia.

De acordo com a agência, é possível atingir emissões líquidas zero até 2050, e desta maneira limitar o aquecimento médio do planeta a 1,5 °C, taxa menor do que o atualmente previsto. No entanto, isso exigirá uma reforma completa do sistema de energia mundial - já nesta próxima década.

Entre as mudanças necessárias, veículos elétricos, que agora respondem por 5% das vendas globais de automóveis, precisam crescer para 60% do total. As instalações de energia renovável, que hoje chegam a fornecer 280 gigawatts de energia por ano para a população, precisarão exceder os 1000 gigawatts. E o desenvolvimento da eficiência energética precisará crescer 4% ao ano, cerca de três vezes mais do que a taxa atual.

Estas conclusões causam ainda mais impacto por terem sido emitidas pela IEA, uma agência que foi criada em resposta à crise do petróleo e tem sido alvo de críticas dos ambientalistas a décadas. Nesse sentido, o relatório representa um passo importante para a indústria energética, que finalmente conclui ser possível eliminar as emissões do sistema energético mundial nas próximas três décadas.

O fato de que a própria IEA fez esta análise, argumentando que a mudança é possível, é extremamente significativo. - Kingsmill Bond, do Carbon Tracker

O plano de controle é inclusive muito mais viável do que muitos dos cenários modelados pelo Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), pois não depende da chamada emissão negativa, onde poluentes são removidos da atmosfera. Isso se dá, em parte, graças ao rápido avanço das energias renováveis, que tem se tornado cada vez mais baratas e acessíveis.

O relatório também conclui que é possível alcançar grande parte das reduções implantando soluções que já existem, sem depender do desenvolvimento de novas tecnologias - e, ao mesmo tempo, criando empregos locais e melhorando a qualidade de vida das pessoas. O restante das reduções deverá ser atingido através de novas implementações, pesquisa científica e métodos que já estão sendo estudados.

Que tipo de mudanças o relatório sugere?

Algumas das mudanças que precisam entrar em vigor não serão fáceis. As vendas de carros tradicionais movidos a gasolina e diesel precisarão cessar até 2035; as usinas de carvão sem captura de carbono precisarão ser fechadas até 2040; e 85% de todos os domicílios terão de se tornar carbono-zero até 2050.

O relatório estima ainda a instalação de 10 plantas industriais com captura de carbono, três plantas movidas a hidrogênio, mais um número de plantas suficientes para gerar 2 gigawatts de energia limpa através de eletrólise de hidrogênio - tudo isso mensalmente, entre 2030 e 2050, um esforço tão descomunal que precisa ser uma iniciativa global.

A janela para obter emissões líquidas zero até 2050 é estreita, mas - e isso é muito importante - ainda alcançável. - Costa Samaras, do Carnegie Mellon University.

Muitos países têm se comprometido com a ideia de reduzir as emissões nos últimos anos, mas mesmo se todas as promessas já feitas forem cumpridas com sucesso, ainda não será possível atingir os resultados propostos pelo estudo e muito menos a neutralidade climática.

Isso significa que enfrentar o aquecimento global dependerá de uma vontade política muito maior do que estamos mostrando. Se o mundo está pronto para este desafio, só o tempo dirá - Mas o fato da União Européia estar engajada com a ideia de se tornar a primeira potência climaticamente neutra do mundo já é um excelente primeiro passo.