A água está sumindo: novo estudo revela que rios no Brasil podem estar perdendo água para os aquíferos

Um estudo da USP mostra que rios brasileiros estão perdendo água para os aquíferos subterrâneos, especialmente em regiões agrícolas e secas, comprometendo a disponibilidade de água e a saúde dos ecossistemas, e exigindo gestão integrada.

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Rios brasileiros estão enfrentando um esgotamento significativo de suas águas, afetados por perdas para os aquíferos e mudanças climáticas.

Um novo estudo realizado por pesquisadores da Escola de Engenharia de São Carlos da Universidade de São Paulo (USP), em colaboração com diversas universidades internacionais, trouxe à tona um alerta preocupante: muitos rios brasileiros podem estar perdendo água para os aquíferos subterrâneos, um processo que pode comprometer a disponibilidade de água em várias regiões do país. Publicado na Nature Communications, o estudo analisou mais de 17 mil poços distribuídos pelo Brasil e identificou que 55% dos aquíferos estão em níveis abaixo dos rios próximos, sugerindo que as águas dos rios estão infiltrando no solo em grande escala.

O problema da perda de água dos rios

Os pesquisadores mostraram que a interação entre rios e aquíferos é crucial para a disponibilidade de água, tanto para consumo humano quanto para manter ecossistemas saudáveis. Quando o nível de água dos aquíferos está abaixo do nível dos rios, a água do rio pode acabar infiltrando-se no solo para abastecer esses reservatórios subterrâneos, o que resulta em uma diminuição do fluxo de água dos rios, especialmente em regiões com intensa atividade agrícola e grandes extrações de água subterrânea.

Este fenômeno, conhecido como "rios perdedores", pode ter efeitos graves, como a diminuição da disponibilidade de água para irrigação, abastecimento urbano e manutenção de habitats fluviais.

O estudo destaca que áreas como a Bacia do Rio São Francisco e a Bacia do Verde Grande estão entre as mais impactadas, devido ao uso intensivo de água para a agricultura e à exploração dos recursos subterrâneos. Esses rios estão perdendo grandes quantidades de água para os aquíferos, o que pode levar à redução dos níveis dos próprios rios e comprometer tanto o fornecimento de água quanto a biodiversidade local.

O papel da agricultura e das mudanças climáticas

Os autores do estudo ressaltaram que a perda de água dos rios para os aquíferos é especialmente comum em áreas com atividades agrícolas intensivas e em regiões secas, onde a recarga natural dos aquíferos é insuficiente para acompanhar o ritmo das retiradas. A expansão da agricultura e o aumento do uso de água para irrigação estão intensificando esse problema, colocando em risco a sustentabilidade dos recursos hídricos em várias regiões do Brasil.

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O Rio São Francisco é uma das bacias mais afetadas pela perda de água para os aquíferos, comprometendo a disponibilidade hídrica e a biodiversidade em uma região crucial para o Brasil.

Além disso, o estudo aponta que as mudanças climáticas estão agravando a situação, uma vez que as secas prolongadas e as alterações nos padrões de precipitação estão reduzindo a disponibilidade de água superficial e dificultando a recarga dos aquíferos. Em algumas regiões, a expectativa é de que, com o aumento das temperaturas e a diminuição das chuvas, os rios continuem perdendo água de forma ainda mais acentuada, comprometendo o fornecimento de água e a saúde dos ecossistemas.

Soluções e caminhos para o futuro

Os resultados deste estudo chamam atenção para a necessidade urgente de gerenciar de forma integrada os recursos hídricos superficiais e subterrâneos. Isso significa que políticas públicas e estratégias de gestão precisam considerar os rios e os aquíferos como um sistema único e interdependente, adotando medidas para reduzir o uso excessivo de água subterrânea e garantir a recarga natural dos aquíferos.

Entre as possíveis soluções, estão o incentivo ao uso mais eficiente da água na agricultura, a principal usuária dos recursos hídricos no país, e a implementação de tecnologias que permitam a recarga artificial dos aquíferos, especialmente em períodos de chuvas intensas.

Além disso, é fundamental aumentar o monitoramento dos níveis de água dos rios e aquíferos para entender melhor como essas interações ocorrem e poder adotar medidas preventivas antes que a situação se torne irreversível.

O estudo também sugere que o uso de tecnologias de sensoriamento remoto pode ser uma ferramenta importante para avaliar a conectividade entre rios e aquíferos, principalmente em áreas onde há pouca disponibilidade de dados em campo. A combinação de dados de poços e tecnologias de monitoramento remoto pode ajudar a identificar as áreas mais vulneráveis e orientar a tomada de decisões para mitigar a perda de água dos rios e garantir a sustentabilidade dos recursos hídricos.

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Uso de tecnologias de sensoriamento remoto para monitorar a conectividade entre rios e aquíferos no Brasil.

Embora o Brasil possua cerca de 15% das reservas de água doce do mundo, a distribuição desigual e a intensificação do uso desses recursos estão colocando em risco a segurança hídrica do país. Este estudo serve como um alerta importante sobre os riscos de se ignorar as interações entre rios e aquíferos, e ressalta a importância de uma gestão sustentável e integrada da água para garantir a disponibilidade desse recurso essencial para as futuras gerações.


Referência da noticia:

Uchôa, J.G.S.M., Oliveira, P.T.S., Ballarin, A.S. et al. Widespread potential for streamflow leakage across Brazil. Nat Commun 15, 10211 (2024).