A Zona de Convergência do Atlântico Sul
A atividade convectiva nos trópicos e subtrópicos na América do Sul tem um ciclo anual regular. A convecção se inicia sobre a bacia amazônica em meados de agosto e se estende nos meses seguintes em direção ao sudeste do Brasil quando uma banda nebulosidade frequentemente se forma.
O início da estação chuvosa no centro-sul do Brasil se inicia, em média, próximo de meados de outubro. O período de pico dessa estação chuvosa se concentra nos meses de verão e o decaimento da atividade convectiva ocorre entre março e abril. Regularmente, durante o verão austral, uma faixa de nebulosidade com orientação noroeste-sudeste é formada. Esta faixa de nebulosidade, que se estende desde a Amazônia até o sul/sudeste do Brasil, é chamada de Zona de Convergência do Atlântico Sul (ZCAS).
Os mecanismos que formam e modulam a ZCAS ainda não estão completamente definidos, contudo, alguns estudos indicam que a interação entre sistemas locais de mesoescala e escala sinótica, bem como com teleconexões, são responsáveis por influenciarem este sistema. Aparentemente, as influências remotas, como a Zona de Convergência do Pacífico Sul, estão ligadas ao ciclo de vida e localização da ZCAS. Por outro lado, os fatores locais são importantes para a ocorrência deste fenômeno, ou seja, sem eles o sistema provavelmente não existiria.
As primeiras observações da banda de nebulosidade característica dos meses de verão na América do Sul puderam ser feitas a partir do uso de imagens de satélite. Um grande avanço no entendimento de zonas de convergência foi feito por Kodama (1992a, 1992b) que, utilizando imagens de satélite, pode descrever muitas características dinâmicas e termodinâmicas destes sistemas. Kodama (1992a) descreveu a existência de três zonas frontais quase-estacionárias subtropicais: Zona Frontal de Baiu (no leste da Ásia), Zona de Convergência do Pacífico Sul (na região subtropical do Pacífico) e a ZCAS.
Kodama (1992a) notou características semelhantes entre estas 3 zonas de convergência, como por exemplo, formam-se ao longo dos jatos subtropicais a leste de um cavado associado a monção tropical, apresentam um acumulado de chuva de aproximadamente 400mm por mês quando estão ativas e estão localizadas na fronteira de massas de ar tropical úmida, em regiões de forte gradiente de umidade em baixos níveis, espessa e baroclínica.
Embora a ZCAS seja observada anualmente, existem variações no seu posicionamento, intensidade das chuvas e na circulação. Estas variações são importantes, pois estão associadas com alagamentos e deslizamentos de terra. Por outro lado, em anos de supressão das chuvas associadas a ZCAS pode haver longos períodos de secas que afetam fortemente o agronegócio e o setor de energia (dependente de hidroelétricas).
Climatologia da ZCAS
Climatologicamente, a ZCAS pode ser facilmente identificada em imagens de satélite como uma banda de nebulosidade de orientação NW/SE, estendendo-se desde o sul da região Amazônica até a região central do Atlântico Sul (Kousky, 1989), ou ainda em padrões de distribuição de radiação de onda longa (ROL) (Carvalho, 2002). O limiar de ROL utilizado para identificar a distribuição espacial da ZCAS em três áreas (Amazônia, Costa e oceano) é de 200 W.m².
A atividade convectiva da ZCAS tem grande variabilidade espacial, podendo se estender da Amazônia em direção ao norte do sudeste ou em direção ao sul do país. Em outros casos, a ZCAS pode se estender até o oceano Atlântico subtropical e as vezes limitar-se dentro do continente. Temporalmente, a ZCAS é persistente e tem durabilidade de 4 a 10 dias (podendo durar até mais). Quando os padrões que configuram a ocorrência de ZCAS tem durabilidade menor que 4 dias, adota-se o termo Zona de Convergência de Umidade (ZCOU).
Os fatores locais que favorecem a configuração clássica da ZCAS é constituída por:
- Baixa troposfera, o sistema é caracterizado pela convergência de umidade favorecido pelos Jatos de Baixos Níveis. Outro sistema importante para manter a convergência nos baixos níveis é a Alta Subtropical do Atlântico Sul (ASAS), já que seu movimento anticiclônico sobre o oceano transporta vapor d’água em direção à costa sudeste do Brasil, intensificando a convergência de umidade já existente.
- Médios níveis, observa-se um cavado à leste da a Cordilheira dos Andes também orientado NO-SE que dá suporte para a persistência da nebulosidade e da precipitação associada. Consequentemente, é possível identificar valores negativos de ômega que constatam atividade convectiva.
- Altos níveis, observam-se bem marcadas e posicionadas duas circulações típicas do verão da América do Sul: a Alta da Bolívia (AB) e o Cavado do Nordeste (CN) que pode, ou não, ter vórtice associado. O posicionamento e intensidade dos Jatos de Altos Níveis também modulam a formação da convecção associada a ZCAS.
Também em baixos níveis, a incursão de uma frente fria pelo sul do país pode reforçar a atividade convectiva na costa do continente e sobre o oceano Atlântico subtropical.