Água: um recurso cada vez mais valioso no Brasil
O Brasil possui a maior reserva de água doce do mundo, mais do que toda a Europa ou o continente africano. Em contrapartida, é o país em que a população constantemente é afetada pela falta de água.
O Brasil é o país com maior disponibilidade de água, sendo dono de 12% de toda água do planeta! Isso deveria ser motivo de tranquilidade e segurança à população brasileira. Porém, durante os últimos anos, o sentimento da população brasileira é outro, e a constante dúvida é: “Quando ficaremos sem água de novo?”.
De acordo com o relatório de conjuntura dos recursos hídricos, elaborado pela Agência Nacional de Águas (ANA), as secas e estiagens afetaram 48 milhões de pessoas no Brasil entre 2013 e 2016, levando 2.783 municípios a decretarem Situação de Emergência (SE) ou Estado de Calamidade Pública (ECP). Números bem maiores que aqueles associados aos eventos de cheias e enxurradas que ocorreram no mesmo período.
Um total de 83% da população afetada nesse período vive na região Nordeste. Região mais vulnerável a falta de água devido à baixa ocorrência de chuvas ao longo do ano, altas temperaturas e terreno árido. Entre 2003 e 2016, 78.5 % dos municípios da região Nordeste decretaram SE ou ECP devido à seca.
Os eventos de secas geralmente estão associados a variabilidades no clima, como a ocorrência de fenômenos climáticos, um exemplo é o El Niño - Oscilação Sul. Mas a variabilidade climática não é a única responsável pelo o estabelecimento de uma situação de crise hídrica. A crise hídrica é resultado da combinação da falta de chuvas, má gestão hídrica, poluição ou mal uso de fontes de água, desperdício e o aumento da demanda por uso da água.
Nas últimas duas décadas a demanda por água no Brasil aumentou em 80% e projeções indicam que essa demanda pode aumentar em mais 30% até 2030.
Histórico de secas
A seca instaurada no Nordeste brasileiro entre 2012 e 2017 foi a pior já registrada na história do Brasil. Durante esse período, outras regiões do Brasil também foram afetadas por episódios de secas históricas. Como no ano de 2012, quando uma seca excepcional no estado do Rio Grande do Sul fez com que diversos municípios decretassem SE.
Em 2014 e 2015 foi a vez da região Sudeste enfrentar um dos piores episódios de crise hídrica já registrados. Diversos rios do estado de São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro tiveram suas vazões reduzidas, o que fez com que diversos reservatórios beirassem a secura. A maior região metropolitana do país, a região metropolitana de São Paulo, foi a mais prejudicada.
O ano de 2016 foi seco em grande parte do país, com uma redução de 13% na precipitação, reflexo do intenso episódio de El Niño ocorrido nesse ano. Além de grande parte do Nordeste, secas severas foram registradas nos estados do Pará, Maranhão, Tocantins, Goiás e Distrito Federal.
Em 2017, 23% dos municípios do país tiveram que pedir auxílio do Governo Federal devido a problemas com estiagem e seca. Nesse ano a capital do Brasil, Brasília, vivenciou o pior episódio de crise hídrica da sua história. Submetendo a população a um esquema de rodízio e racionamento de água.
O retorno das chuvas
No início de 2018 as chuvas retornaram para grande parte do país, trazendo alívio para muitas cidades em situação de escassez hídrica, principalmente durante o mês de fevereiro.
Agora em abril grandes acumulados de chuva já foram registrados nas regiões Norte, Centro-Oeste, Sudeste e Nordeste do Brasil. Isso colaborou com o tão esperado aumento dos principais reservatórios dessas regiões.
Porém, as chuvas que caíram ainda não foram o suficiente para reverter o quadro de crise em algumas regiões. Alguns estados do Nordeste ainda possuem reservatórios secos ou operando em níveis muito baixos. Os estados mais críticos são: Paraíba, Rio Grande do Norte, Pernambuco e Ceará.
É importante lembrar que estamos no outono, entrando em um período que naturalmente já é mais seco para grande parte do Brasil, e outras fontes de variabilidade climática podem afetar o regime de chuvas do país. Portanto, é necessário manter um consumo consciente e maior cuidado com o recurso mais valioso que temos, a água.