AmazonFACE: um experimento inédito que simulará as mudanças climáticas na Amazônia
As mudanças climáticas causadas pelas emissões de gases de efeito estufa, principalmente o CO2, tem impactos em todo o mundo, mas principalmente nas florestas tropicais, como a Amazônia! Para saber como a Amazônia responderá a essas mudanças, cientistas projetaram o AmazonFACE!
O que acontecerá com a floresta amazônica e toda sua biodiversidade quando os níveis de dióxido de carbono (CO2) - ou gás carbônico - aumentarem drasticamente nas próximas décadas? Essa é uma das maiores incertezas acerca do futuro da floresta tropical mais importante do mundo.
Até então, muitas pesquisas têm sido feitas com base em alguns pequenos experimentos e simulações numéricas a fim de responder essa questão. Mas agora, a fim de sanar de vez essas dúvidas, está sendo preparado um grande experimento científico em meio a floresta, o AmazonFACE!
O AmazonFACE é um projeto de cooperação científica entre o Brasil e o Reino Unido, coordenado pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e o Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), contando com a colaboração do Ministério das Relações Exteriores do Reino Unido e do serviço meteorológico britânico, o Met Office.
Esse projeto conta com mais de R$ 79 milhões investidos por ambas as partes e já é considerado um dos maiores projetos científicos bilaterais e o principal nessa parceria Reino Unido e Brasil. Inclusive, no dia 23 de maio, o chanceler britânico James Cleverly anunciou um investimento de R$ 12 milhões por parte do Reino Unido durante sua visita às instalações do projeto em meio a floresta, acompanhado da ministra Lucinda Santos do MCTI.
“O AmazonFACE é um projeto que materializa a capacidade de excelência da ciência brasileira de prover evidências científicas e contribuir com o combate às mudanças climáticas. É essa competência que nos coloca como potência científica na América Latina e nos coloca como um importante elo na construção das relações internacionais do Brasil”, disse a ministra Luciana Santos durante sua visita.
O principal objetivo do projeto é compreender como a floresta será impactada pelo aumento da concentração de CO2 e quais serão as implicações globais disso, já que a floresta amazônica é uma importante reguladora do clima, desempenhando um importante papel no ciclo de água e carbono, além de influenciar a circulação atmosférica. A seguir veremos como foi projetado o experimento para responder essas questões!
Como funcionará o experimento?
As instalações do projeto ficam em uma estação de pesquisa do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA) que fica a 80 km ao norte de Manaus, no estado do Amazonas. O projeto utiliza a tecnologia “Free- Air CO2 Enrichment” (FACE), tecnologia foi usada no Oak Ridge National Laboratory FACE e no Duke FACE, localizados em florestas temperadas nos Estados Unidos, e atualmente no EucFACE em Sydney, Austrália, e BiFor-FACE em Birmingham, Reino Unido. Agora, com as instalações do projeto na Amazônia, essa é a primeira vez que um experimento FACE é implementado numa floresta tropical.
O FACE consiste na instalação de “anéis de carbono” que são compostos por 16 torres dispostas na forma circular, que estão ligadas a um tanque de CO2 líquido. Cada anel cobre uma área de floresta de 30 metros de diâmetro e 35 metros de altura. As torres que compõem esses anéis serão responsáveis em “borrifar” CO2 na atmosfera, mantendo a concentração de CO2 50% acima dos níveis atuais, que seria cerca de 600 partes por milhão (ppm), já que os níveis atuais estão em 400 ppm.
Serão 6 anéis no total, onde 3 deles receberão esse ar enriquecido com CO2 e os outros 3 serão os “anéis de controle”, que receberão apenas o ar ambiente, ou seja, sem aumento da concentração de CO2. Dessa forma, será possível fazer uma comparação e distinguir as diferenças entre o ambiente enriquecido de CO2 e o ambiente exposto aos níveis atuais.
O experimento deve durar cerca de 10 anos, pois alguns processos a serem estudados - como o crescimento dos troncos das árvores - são lentos e demandam muito tempo de coletas de informações para verificar se realmente teve uma influência em relação ao aumento do CO2. O início do projeto completo, com a construção dos 6 anéis, está previsto para 2024.