Amigos com benefícios: ter amigos “certos” pode ser o segredo para gerar riqueza, segundo estudo

Os autores analisam a relação entre capital social e comportamento econômico, e apontam que pessoas com amigos de maior renda tendem a participar mais do mercado de ações e a economizar dinheiro.

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Segundo os autores, pessoas que têm amigos ricos tendem a investir e poupar mais.

“Diga-me com quem você está e eu lhe direi... quanto você investe”. Aparentemente, o tipo de amizades que temos pode influenciar muito mais do que preferências musicais ou gastronômicas.

Pelo menos é o que sugere uma nova pesquisa que analisou a relação entre os laços sociais das pessoas e o seu comportamento econômico. Especificamente, nos comportamentos de poupança e investimento financeiro.

Os autores de tal trabalho sustentam que as pessoas que têm contatos com pessoas ricas ou com maior poder de compra têm maior probabilidade de investir nos mercados financeiros e de poupar mais.

pessoas falando ao celular
A pesquisa foi realizada por uma equipe de economistas e especialistas em finanças sociais de três universidades americanas.

Segundo os autores, as amizades com pessoas ricas podem funcionar como um fator de motivação chave, especialmente entre famílias de baixa e média rendas que de outra forma não participariam nestes mercados.

Para chegar a estas conclusões, os economistas utilizaram dados do Facebook de 27 milhões de utilizadores, e os cruzaram com informações fiscais da Receita Federal dos Estados Unidos.

A análise revelou que os moradores de condados com maior proporção de amizades com pessoas ricas tendem a investir e a poupar mais em comparação com aqueles que não têm esta rede de contatos.

Segundo a análise, esta “conectividade econômica”, definida como a fração da rede social de uma pessoa com elevado nível socioeconômico, está mais associada ao seu comportamento financeiro do que outras dimensões, como a coesão do grupo de amigos ou compromisso.

“A conectividade econômica está associada a uma participação 2,9% maior no mercado de ações e a uma participação 5,0% maior na poupança. Em comparação com a coesão ou o envolvimento cívico, a conectividade econômica explica mais de 6 vezes a variação na participação no mercado de ações e mais de 4 vezes a variação na participação na poupança”, afirma o estudo.

Capital social e acesso à riqueza

O conceito de capital social refere-se ao valor que obtemos por pertencer a uma comunidade ou rede de contatos. Em termos de finanças pessoais, este capital pode traduzir-se em conhecimento, oportunidades e até apoio para enfrentar os desafios econômicos.

Segundo os autores, sua análise representa uma contribuição para ampliar a compreensão das desigualdades no acesso à riqueza. “Compreender por que algumas pessoas investem e outras não é importante para resolver problemas sociais como a crescente desigualdade”, afirmam.

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Segundo o estudo, o capital social não só tem impacto nos níveis de investimento e poupança, mas também pode ampliar a visão de quem normalmente não corre riscos no mercado de ações.

“Considerando que o retorno total do mercado de ações dos EUA de 1980 a setembro de 2024 foi superior a 12.000% (por exemplo, 1.000 dólares investidos no S&P 500 em 1980 valeriam hoje 121.350 dólares), isto cria uma disparidade na riqueza daqueles que participam no investimento em relação aos que não o fazem", explicam os autores.

Compreender por que razão algumas pessoas optam por investir e outras não é crucial para enfrentar a crescente desigualdade econômica”, explicaram os autores. A falta de participação nos mercados pode dever-se, em parte, ao fato de aqueles que não têm contato com pessoas que investem também não terem conhecimentos financeiros para entrar nestes mercados com confiança.

De acordo com o estudo, ter amigos ricos não significa automaticamente que uma pessoa investirá mais, mas pode tornar mais fácil para uma pessoa ver o investimento e a poupança como opções possíveis e acessíveis. Muitas vezes, a proximidade de pessoas com conhecimentos financeiros ou experiência em investimentos faz com que estas práticas pareçam menos intimidadoras, dizem os autores.

Referência da notícia:

National Bureau of Economic Research. Friends with benefits: social capital and household financial behavior. Working Paper, 2024.