Aquecimento Global poderá atingir o limiar de 1.5°C com retorno do El Niño
Os modelos climáticos estão cada vez mais apostando numa transição para El Niño ainda em 2023! Com isso, especialistas do mundo inteiro acreditam que este ano poderá registrar um calor recorde, muito próximo ao limiar de aquecimento de 1.5°C.
Após três anos de um persistente padrão de La Niña - fase negativa do El Niño-Oscilação Sul (ENOS) - finalmente os modelos climáticos apontam o fim de seu duradouro ciclo e sinalizam uma possível virada para a fase positiva do ENOS, o El Niño, no segundo semestre de 2023, algo que não ocorria desde 2019!
As últimas atualizações das previsões do ENOS indicam que a La Niña provavelmente terminará entre os meses de fevereiro e abril de 2023, passando para uma fase neutra - ou seja, de condições oceânicas e atmosféricas próximas ao normal - do ENOS no meio deste ano. Porém, muitos modelos climáticos apontam para um aquecimento das águas superficiais do Pacifico Tropical a partir do mês de julho. Muitos apontam que esse aquecimento poderá superar o limiar de +0.5°C entre os meses de julho e setembro, o que indicaria o início do El Niño.
Pelas previsões do Climate Prediction Center (CPC) da NOAA, a probabilidade de El Niño é ligeiramente superior a 50% para o trimestre de agosto, setembro e outubro, enquanto a probabilidade de neutralidade é de 38% e de La Niña de 11%. Porém, ainda é preciso ter cautela com essas previsões, afinal estamos mirando num horizonte de muitos meses à frente, e essas previsões carregam muitas incertezas. Dessa forma, o cenário poderá mudar nos próximos meses.
Como sabemos tanto o El Niño quanto a La Niña provocam alterações no clima de todo o planeta, com cada região sendo afetada de uma forma. Durante o El Niño, geralmente são registradas ondas de calor em partes da Ásia e América do Sul; chuvas volumosas e inundações no Sul do Brasil e em partes da Califórnia; condições mais secas que o normal sobre a Amazônia, Austrália e sul da África; entre outros efeitos. Além desses impactos regionais, o ENOS provoca alterações na temperatura média da Terra!
O que o retorno do El Niño implica para as temperaturas globais?
A Terra já está cerca de 1.1°C mais quente que o período pré-industrial, devido ao agravamento do efeito estufa causado pelas emissões de gases estufa gerados pela atividade humana. Os últimos 8 anos foram os mais quentes dos registros históricos!
O ENOS é um padrão climático de variabilidade natural que também contribui com as variações da temperatura global. No ano de 2016 um forte El Niño ajudou a elevar as temperaturas globais a um recorde, sendo o ano mais quente já registrado! Porém, em 2020 as temperaturas globais chegaram ao patamar registrado em 2016, mesmo com a atuação da La Niña, que geralmente tende a resfriar a temperatura média global.
Alguns especialistas acreditam que o retorno do El Niño neste ano, num planeta já superaquecido, poderá colocar a temperatura do planeta em um nível de aquecimento recorde, próxima ou até mesmo acima do limiar de +1.5°C de aquecimento, limiar tão falado nos relatórios do IPCC e nas discussões climáticas, como as COPs, devido ao seu potencial de causar danos irreversíveis em nosso planeta.
Projeções indicam que 2023 e 2024 poderão estabelecer novos recordes globais de calor, isso porque se o El Niño se formar em 2023, provavelmente seu pico de intensidade máxima ocorrerá entre o final de 2023 e início de 2024, causando impactos significativos no clima em 2024.
Algumas agências projetam que ainda não atingiremos o limiar de 1.5°C neste ano, mas vamos chegar perto. A Met Office prevê que o ano de 2023 será um dos mais quentes já registrados, com um aquecimento entre 1,08°C e 1,32°C acima do nível pré-industrial.
Por que o ENOS altera a temperatura média do planeta?
Sabemos que o ENOS é o maior padrão de variabilidade climática natural da Terra, mas como ele tem o poder de alterar a temperatura média do nosso planeta? A resposta está na constante troca de calor que ocorre entre o oceano e a atmosfera!
Durante o El Niño, as águas superficiais do Pacífico Tropical ficam mais quentes que o normal e, como uma forma de se “livrar” desse calor excedente, o oceano libera uma grande quantidade de calor para a atmosfera, o que contribui para aquecer sua temperatura. Já durante a La Niña, o Pacífico Tropical está mais frio que o normal, então, para compensar essa falta de calor, o oceano “retira” calor da atmosfera.