Aquicultura no Brasil cresce e emite menos carbono que a pecuária, mas desafios de sustentabilidade ainda persistem

Aquicultura na Amazônia surge como alternativa sustentável à pecuária, com menor impacto ambiental, potencial de expansão e benefícios econômicos, destacando espécies nativas como tambaqui e pirarucu na produção de proteína.

Pesca do pirarucu é uma das atividades econômicas mais tradicionais da Amazônia. Crédito: Idam
Pesca do pirarucu é uma das atividades econômicas mais tradicionais da Amazônia. Crédito: Idam

A aquicultura, prática de criação de peixes e plantas aquáticas, é apontada como uma alternativa sustentável à pecuária na Amazônia, com uma emissão de gases de efeito estufa dez vezes menor e utilização de até 100 vezes menos terra por tonelada de proteína animal produzida. Essa descoberta foi publicada na revista Nature Sustainability por um estudo conjunto de pesquisadores do Brasil e dos Estados Unidos, com financiamento da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp).

A pesquisa analisou a viabilidade e os impactos ambientais da aquicultura em cinco países da Amazônia (Brasil, Bolívia, Colômbia, Equador e Peru), destacando o Brasil como líder na produção de peixes na região, especialmente em Rondônia. Este estado se destaca na criação de espécies nativas, como o tambaqui (Colossoma macropomum) e o pirarucu (Arapaima gigas), que possuem mercados tradicionais, além de um grande potencial de expansão.

“O tambaqui já possui um mercado consolidado na região Norte. Sua rusticidade, alta taxa de crescimento e eficiência na conversão alimentar ampliam seu potencial para expandir para outras regiões do país e até para mercados internacionais”, afirma Marta Ummus, analista da Embrapa Pesca e Aquicultura, em Palmas (TO), e coautora do estudo.

Manejo de tambaqui e pirarucu acumula benefícios biológicos e econômicos

Crédito: Panorama da Aquicultura
Crédito: Panorama da Aquicultura

O tambaqui, uma espécie que se adapta facilmente ao ambiente amazônico, é especialmente valorizado por sua rusticidade e alta taxa de crescimento. Ele converte eficientemente a alimentação em massa corporal, o que o torna uma excelente opção para ampliação da produção, não apenas no Brasil, mas também para exportação. Esse peixe, que pode crescer até 1,2 metro e pesar até 30 kg, é uma das principais fontes de proteína na região Norte, gerando renda significativa para pescadores locais e sendo altamente valorizado no mercado interno.

Já o pirarucu, considerado um dos maiores peixes de água doce do mundo, pode atingir até 3 metros de comprimento e pesar até 200 kg. Sua carne é muito apreciada tanto no Brasil quanto no exterior, e sua criação tem se mostrado uma alternativa rentável à pesca excessiva dessa espécie, que ameaça a sustentabilidade das populações selvagens. Além disso, o pirarucu é crucial para a biodiversidade da Amazônia, sendo um elo importante nas cadeias alimentares aquáticas.

A criação desses peixes nativos representa uma oportunidade econômica relevante para as comunidades locais, com a possibilidade de diversificar as fontes de renda e aumentar a segurança alimentar na Amazônia.

Desafios e Soluções para a Sustentabilidade da Aquicultura

Embora a aquicultura ofereça uma alternativa sustentável, o estudo alerta para desafios ambientais associados à sua expansão. A prática de barrar igarapés para criar viveiros de peixes, ainda adotada em algumas regiões, pode prejudicar a biodiversidade aquática e a conectividade entre os corpos d'água. Além disso, o uso excessivo de ração pode resultar no acúmulo de matéria orgânica nos fundos dos viveiros, o que eleva a emissão de metano e contamina rios com excesso de nutrientes.

Uma solução sugerida pelos pesquisadores é utilizar áreas de pastagem degradada para instalar tanques de aquicultura, evitando o desmatamento adicional. Essa prática é mais produtiva e emite menos gases de efeito estufa do que deixar essas áreas abandonadas. Comparado à pecuária, a criação de peixes demanda significativamente menos terra para produzir a mesma quantidade de proteína animal.

A Expansão da Aquicultura e o Papel do Governo

A pesquisa também destaca a importância de incentivos públicos para expandir a aquicultura na Amazônia. O apoio a tecnologias de produção sustentáveis e a simplificação do processo de licenciamento ambiental são fundamentais para garantir que o crescimento da aquicultura não repita os erros da pecuária, que tem sido responsável pelo desmatamento de grandes áreas da região.

Embora a produção de peixes nativos como o tambaqui e o pirarucu esteja em expansão, há pressões para liberar o cultivo de espécies exóticas, como a tilápia. Embora a tilápia tenha um mercado consumidor global, sua introdução pode gerar impactos ecológicos negativos, como a competição com espécies locais e a alteração de ecossistemas aquáticos.

A aquicultura representa uma alternativa promissora para a Amazônia, oferecendo um equilíbrio entre a geração de renda, segurança alimentar e a preservação ambiental. Para que essa atividade seja realmente sustentável, é essencial que o governo e os produtores adotem práticas responsáveis, como a utilização de áreas de pastagem degradada e o monitoramento constante dos impactos ambientais.

Referências da notícia

Globo Rural. Aquicultura emite dez vezes menos carbono do que pecuária na Amazônia. 2025