Ar polar: por que é tão difícil acordar quando está frio?
A ciência já tem a explicação do porquê é mais difícil de acordar nas manhãs frias e escuras do inverno. Veja aqui também uma lista de alguns truques para você 'enganar' seus neurônios e poder descansar melhor.
A temperatura ambiente afeta o comportamento de quase todos os seres vivos, existem ligações entre os neurônios sensoriais e os que controlam o ciclo do sono. Ainda há muito a ser investigado sobre o ciclo de sono e vigília. Te contamos aqui algumas descobertas científicas.
De acordo com vários estudos, a temperatura ambiente ideal para dormir seria entre 15 e 20°C. Quando a temperatura do corpo cai um pouco, o cérebro se prepara para dormir, dizem os pesquisadores, concluindo que um ambiente entre esses valores de temperatura permite sonos mais agradáveis.
Razões para seguir dormindo
São várias as razões pelas quais queremos continuar dormindo, apesar de um alarme estar nos avisando há vários minutos que é hora de acordar e sair da cama para começar o dia. Existe a chamada 'inércia do sono', algumas pessoas têm maior predisposição para que o processo de passagem do sono para a vigília seja lento. Em algumas pessoas essa inércia é muito mais exagerada, quem não consegue acordar com estímulos enérgicos e repetidos, sonoros ou motores, sofrerá de um distúrbio do sono como sonolência excessiva.
No cérebro, a atividade dos lobos frontais regula a vontade e, em parte, o julgamento e o raciocínio. Durante o sono eles ficam inativos, mas quando acordamos podem demorar para ativar por alguns instantes. Nesse momento, falta vontade e raciocínio correto, e isso pode levar a tomar a decisão errada de continuar dormindo naquele momento.
O sistema biológico de 'regulação homeostática', cuja missão é manter o equilíbrio do corpo, é responsável por adaptar nosso corpo às mudanças do ambiente para ajudar sua sobrevivência, tanto física quanto mentalmente. No caso da regulação homeostática do sono, esse sistema garante que a pessoa durma o que precisa, funciona de maneira semelhante a outras necessidades do corpo, como apetite ou sede.
Quando tudo funciona corretamente, o corpo acorda depois de ter descansado o suficiente, iniciando naturalmente o estado de vigília; se você não dormiu o suficiente, o sistema homeostático pressiona para manter o estado de sono, e é por isso que temos dificuldade em levantar.
Por que queremos seguir dormindo?
Um estudo científico revelou que temperaturas extremas, tanto quentes quanto frias, modificam nosso comportamento porque afetam nossos neurônios. Pesquisadores da Universidade Northwestern, nos Estados Unidos (EUA), especialistas em neurobiologia, descobriram que o frio (e também o calor excessivo) pode afetar os neurônios responsáveis pela regulação do ritmo circadiano, ou seja, o ciclo do sono.
O professor Marco Gallio e seu grande grupo de pesquisa estudaram o comportamento do inseto 'drosophila', conhecido como 'a mosca da fruta', e assim entenderam como e por que a temperatura é tão crítica para regular o sono. Eles escolheram esse inseto porque "a lógica e a organização do cérebro da mosca podem ser as mesmas para os humanos: eles têm que resolver os mesmos problemas, então geralmente fazem da mesma maneira", dizem eles.
O estudo, publicado em 2020, descreve pela primeira vez os receptores de "frio absoluto" que residem nas antenas dessas moscas, que respondem a temperaturas apenas abaixo da "zona de conforto" do inseto, em torno de 25°C. Os pesquisadores seguiram esse receptor até seus alvos dentro do cérebro e descobriram que os principais receptores dessa informação são um pequeno grupo de neurônios cerebrais que controlam a atividade e os ritmos do sono. Quando o circuito frio que eles descobriram estava ativo, as células-alvo, que normalmente são ativadas pela luz da manhã, desligam!
Embora a detecção de temperaturas ambientais seja crítica para pequenas moscas-das-frutas de "sangue frio", os humanos são criaturas de conforto e estão continuamente em busca de temperaturas ideais. Parte da razão pela qual os humanos buscam temperaturas ideais é porque as temperaturas do núcleo e do cérebro estão intimamente ligadas à indução e manutenção do sono.
O cientista Gallio afirma que “as mudanças sazonais na luz do dia e na temperatura também estão ligadas a mudanças no sono; e a detecção de temperatura é uma das modalidades sensoriais mais fundamentais". "Os princípios que estamos encontrando no cérebro da mosca, lógica e organização, podem ser os mesmos para os humanos. Quer se trate de uma mosca ou de um humano, os sistemas sensoriais têm de resolver os mesmos problemas, por isso costumam fazê-lo da mesma forma", disse.
“As ramificações da percepção do sono são inúmeras: fadiga, concentração reduzida, má aprendizagem e percepção de uma série de parâmetros de saúde. No entanto, ainda não entendemos completamente como o sono é produzido e regulado no cérebro e como as mudanças nas condições externas podem afetar o impulso e a qualidade do sono”, disse Michael H. Alpert, pós-doutorando no Laboratório Gallio Alpert, à uma entrevista.
'Engane' seus neurônios para dormir melhor
Segundo especialistas em saúde, a chave para ter um sono "saudável" é manter, na medida do possível, horários regulares para dormir e acordar. Evite consumir álcool, café e outras bebidas estimulantes à noite, pois eles conspiram contra um bom descanso. Não se automedique com sedativos e/ou estimulantes. E também garanta condições confortáveis para um bom descanso, desde temperatura e umidade adequadas no quarto, bem como colchão e travesseiro confortáveis.
As manhãs de inverno são muito escuras e isso joga contra nós quando queremos sair da cama. Conforme comprovado cientificamente por um estudo da Universidade Sungkyunkwan em Seul, é necessário que o quarto esteja escuro o suficiente para obter um descanso profundo; se tiver claridade, você tenderá a acordar. Acender a luz artificial (luz fluorescente) na hora em que você quer se levantar nas manhãs frias e escuras de inverno, quando ainda não amanheceu, ajuda a enganar os neurônios e a não se atrasar para o trabalho, por exemplo.
Outro estudo, da Faculdade de Medicina de Harvard, nos EUA, aborda os efeitos da luz elétrica em nosso organismo, e concluem que a iluminação artificial diminui os níveis da melatonina, hormônio produzido pela glândula pineal durante o sono noturno, cuja função é fundamental no processo de repouso, regulando a pressão arterial, bem como os níveis de glicose e a temperatura corporal.