As guerras químicas mais ressonantes da história e a atual proibição de armas tóxicas
30 de novembro é o Dia em Memória de Todas as Vítimas da Guerra Química. Revisamos as guerras que envolveram essas armas tóxicas na história e os detalhes de sua proibição atual.
A história de esforços para alcançar o desarmamento químico que culminou na conclusão da Convenção sobre Armas Químicas começou há mais de um século. As armas químicas modernas foram usadas pela primeira vez em larga escala na Primeira Guerra Mundial (1914-1918). No final da guerra, tinham sido utilizadas cerca de 124 toneladas de agentes químicos, causando mais de um milhão de vítimas.
A Conferência dos Estados Partes, na sua vigésima sessão, estabeleceu que o Dia em Memória de Todas as Vítimas da Guerra Química seja comemorado em 30 de novembro de cada ano, ou no primeiro dia da sessão ordinária da Conferência. Esta comemoração é uma oportunidade para prestar homenagem às vítimas da guerra química, bem como para reafirmar o compromisso da Organização para a Proibição das Armas Químicas (OPAQ) em eliminar este tipo de arma, promovendo assim os objetivos de paz, segurança e multilateralismo.
Aprovada em 1993, a Convenção sobre Armas Químicas entrou em vigor em 29 de abril de 1997, exigindo: “Para o bem de toda a humanidade, eliminar completamente a possibilidade do uso de armas químicas”. Aí então, os Estados Partes na Convenção estabeleceram a OPAQ.
A Terceira Conferência de Revisão dos Estados Partes na Convenção sobre Armas Químicas, realizada de 8 a 19 de abril de 2013 em Haya (Países Baixos), adotou por consenso uma declaração política confirmando o “compromisso inequívoco” dos Estados Partes com a proibição global de armas químicas. Lamentavelmente, apesar dos horrores que causam, as armas químicas ainda são frequentemente utilizadas como instrumento de guerra.
O “pai” da Guerra Química
O químico alemão Fritz Haber (1868-1934) foi um salvador e carrasco. Por um lado, revolucionou a agricultura, ganhando o Prêmio Nobel de Química em 1918 por desenvolver a síntese da amônia através do processo que leva seu nome.
Fritz Haber e Carl Bosch desenvolveram o 'processo Haber', que é a síntese catalítica de amônia a partir de di-hidrogênio e di-nitrogênio atmosféricos sob condições de alta temperatura e pressão. Este foi um marco na indústria química, pois tornou independente a síntese da amônia e de produtos nitrogenados, tais como fertilizantes, explosivos e matérias-primas químicas.
Haber também é considerado o pai da guerra química, desenvolvida durante a Primeira Guerra Mundial. O químico desempenhou um papel importante nesta guerra: parte do seu trabalho incluiu o desenvolvimento de máscaras de gás com filtros absorventes. A respeito da guerra e da paz, Haber disse uma vez: “Em tempos de paz, um cientista pertence ao mundo, mas em tempos de guerra ele pertence ao seu país”.
Ataques químicos notáveis na história
Durante a segunda batalha de Ypres, no âmbito da Primeira Guerra Mundial (1914-1918), as armas químicas foram introduzidas pela primeira vez num conflito de guerra. Naquele 22 de abril de 1915, a Alemanha recorreu ao uso de 180 toneladas de clorídrico asfixiante contra as tropas inimigas. Uma névoa verde-amarelada cobriu as tropas aliadas perto da cidade de Ypres, na Bélgica. A liberação dessa substância deixou cerca de 15 mil pessoas gravemente afetadas pelo envenenamento, das quais pelo menos 5 mil morreram.
Alguns anos depois, durante a terceira batalha de Ypres, na noite de 12 para 13 de julho de 1917, usaram pela primeira vez o chamado "gás mostarda", um agente vesicante que causa queimaduras e bolhas na pele e deixa grande suscetibilidade a infecções respiratórias e pneumonia. O saldo deste ataque químico foi de pelo menos 2.500 feridos graves e 87 mortos.
Na Segunda Guerra Sino-Japonesa (julho de 1937 a setembro de 1945), no âmbito da Segunda Guerra Mundial (1939-1945), durante aquela que é conhecida como Batalha de Wuhan (1938), o Japão liberou gases tóxicos como: mostarda, lewisita, fosgênio e cianeto em 375 ocasiões diferentes na província chinesa Hubei. Muitos terão memórias frescas de Wuhan, um local que ganhou grande notoriedade global por ser o local onde se originou o surto epidêmico do SARS-CoV-2, o vírus que deu origem à pandemia da COVID-19.
Durante a Segunda Guerra Mundial, os nazistas usaram gases tóxicos em grande escala nos campos de concentração. Desde 1945, as armas químicas têm sido utilizadas, embora sem testes formais, durante a Guerra da Coreia e em vários conflitos regionais, sobretudo no Iêmen do Norte, pelas tropas egípcias, entre 1963 e 1967, e no Afeganistão, pelo exército soviético, na década de 1980.
Na Guerra do Vietnã (1957-1975), os historiadores mencionam o uso de armas químicas em grandes quantidades pelos EUA em território vietnamita. O chamado “agente laranja” foi aplicado não só nas pessoas, mas também se espalhou nas selvas e nos campos. O Vietnã estima que pelo menos 72 litros deste gás venenoso (herbicidas e desfolhantes utilizados pelos militares como parte do seu programa de guerra química na Operação Ranch Hand) foram utilizados entre 1961 e 1971, causando graves danos ecológicos.
O “Agente Laranja” contém dioxina, uma substância extremamente tóxica que causa doenças e distúrbios genéticos. As dioxinas são poluentes orgânicos persistentes no meio ambiente. Quanto ao balanço, a Cruz Vermelha do Vietnã estima que 3 milhões de pessoas sofrem as consequências causadas pelo 'agente laranja' e 500 mil crianças nasceram com malformações congênitas em consequência do seu uso. Por outro lado, o governo dos Estados Unidos rejeitou estes números, pois não são dados fiáveis.
Na Guerra entre o Irã e o Iraque (1980-1988), os historiadores falam sobre o uso de armas químicas pelos dois países. Entre os episódios mais ressonantes, destaca-se o bombardeio da cidade de Halabja, em março de 1988, quando o Iraque utilizou diversas substâncias tóxicas, entre elas: sarin, tabun, gás mostarda e VX. O saldo estimado é de mais de 5 mil pessoas mortas.
Na Guerra do Iraque (2003-2011), conforme publicado em alguns portais de notícias, os EUA utilizaram armas químicas, apesar de serem proibidas pela Convenção sobre Armas Químicas. Rumores falam do uso de fósforo branco e urânio empobrecido durante os bombardeios da cidade de Fallujah, chamando a atenção para o aumento acelerado de doenças genéticas nos habitantes daquela área.