As mudanças climáticas poderiam estar por trás do esverdeamento do Deserto do Saara?
As chuvas mais a norte do que o normal na África deixaram acúmulos superiores a 400% em comparação com a média dos países subsaarianos, o que pode ser um sinal das mudanças climáticas.
Uma das regiões mais secas do planeta Terra é o Deserto do Saara, porém o panorama em setembro de 2024 é bem diferente do que normalmente se observa por lá. A região sul deste deserto gigante tem recebido mais chuvas do que o normal e a cor verde tomou conta da área.
Do espaço foi possível capturar o esverdeamento na África Subsaariana. Os dados da Administração Nacional Oceânica e Atmosférica (NOAA) indicam que esta região recebeu mais de seis vezes a precipitação normalmente registrada nesta época do ano.
Nos países africanos localizados a norte da linha do equador, a precipitação normalmente aumenta de julho a setembro, mas em 2024 foi excepcional, foram registradas mais tempestades mais a norte do que o normal, causando graves inundações.
Países como o Níger, o Chade, o Sudão e até mesmo o extremo norte da Líbia foram afetados pelas inundações. A chuva acumulada desde meados de julho representa mais de 400% da média climatológica em alguns pontos da região.
Chade, Nigéria e Sudão entre os países mais afetados
As tempestades trouxeram chuvas bem acima da média para o Chade. Este país recebe em média 25 milímetros (mm) de chuva de meados de julho ao início de setembro, e este ano ultrapassou os 200 mm.
De acordo com um relatório das Nações Unidas (ONU), quase 1,5 milhões de pessoas foram afetadas no Chade e mais de 340 morreram devido às inundações. Cerca de 164 mil casas destruídas, 259 mil hectares de culturas devastadas e mais de 66 mil cabeças de gado arrastadas pelas águas.
As graves inundações também mataram mais de 220 pessoas e deslocaram centenas de milhares de pessoas na Nigéria, principalmente na parte norte. Esta região é a mais seca do país.
O que gerou estas tempestades em uma região caracterizada pela aridez?
Ao redor do planeta existe um cinturão de tempestades que se move ao norte e ao sul da linha do equador. Seu movimento ocorre em direção ao hemisfério que está no verão.
Esta faixa de tempestades é conhecida na meteorologia como Zona de Convergência Intertropical (ZCIT), e entre alguns meteorologistas é chamada de “equador meteorológico”.
A ZCIT em sua viagem ao redor do planeta apresenta áreas onde está “interrompida”, isso significa que não há tempestade nessas áreas.
Particularmente no verão de 2024, foi observado um movimento mais a norte da ZCIT sobre a África, trazendo fortes tempestades para áreas que se caracterizam pela sua extrema aridez.
Estarão as mudanças climáticas por trás deste movimento mais a norte da ZCIT?
Ainda é muito cedo para poder garantir que o deslocamento da ZCIT mais para norte do que o normal registrado em 2024 é outra consequência das mudanças climáticas. É necessário coletar mais dados e processá-los em modelos climáticos para descobrir.
Embora a ZCIT apresente oscilações em seu movimento para norte e para sul do equador, uma pesquisa publicada em 2022 na revista Nature constatou que em um cenário de elevadas emissões de gases de efeito estufa, essas oscilações serão mais abrangentes.
Os pesquisadores projetam mais do que o dobro das oscilações extremas para norte, intensificando os eventos de cheias e secas nos países da zona atlântica.