As secas prolongadas estão ameaçando zonas úmidas globais
Os cientistas mostraram como as secas estão ameaçando a saúde das zonas úmidas em todo o mundo. Os cientistas destacam as muitas mudanças físicas e químicas que ocorrem durante as secas que levam à desidratação das zonas úmidas de forma severa e às vezes irreversível.
Em um artigo publicado na revista Earth-Science Reviews, cientistas destacam as muitas mudanças físicas e químicas que ocorrem durante as secas que levam à desumidificarão severa e às vezes irreversível dos solos pantanosos. As áreas úmidas em todo o mundo são extremamente importantes para a manutenção da biodiversidade do nosso planeta e armazenam grandes quantidades de carbono que podem ajudar a combater as mudanças climáticas. Globalmente, as áreas úmidas cobrem uma área superior a 12,1 milhões de quilômetros quadrados e geram pelo menos R$ 147 trilhões em benefícios por ano, como para mitigação de enchentes, produção de alimentos, melhoria da qualidade da água e armazenamento de carbono.
As áreas úmidas podem sofrer com as secas tanto diretamente, pela falta de chuvas locais, quanto indiretamente, pela falta de água nas regiões circunvizinhas que geralmente escoam para as áreas úmidas. A seca faz com que a penetração de oxigênio aumente em solos úmidos, levando a um aumento na oxidação de matéria orgânica e redução de espécies inorgânicas (por exemplo, sulfetos).
A oxidação desses materiais pode levar à acidificação do solo, mobilização de metais e a impactos negativos na qualidade da água. O aumento do oxigênio no perfil do solo também afeta a ciclagem biogeoquímica, com aumento da produção de óxido nitroso e diminuição da produção de metano. Em alguns casos, as secas podem levar a mudanças de solo irreversíveis e de muito longo prazo (> 10 anos), com grandes impactos na qualidade da água quando os solos são umedecidos novamente após o fim da seca.
Os efeitos podem ser diferentes em diferentes tipos de solo e diferentes regiões do mundo. A distribuição espacial dos estudos de seca mostra que houve avaliação limitada em um grande número de regiões, incluindo América do Sul e Central, África, Oriente Médio, Ásia e Oceania. Prevê-se que muitas dessas regiões serão vulneráveis aos impactos da seca devido às mudanças climáticas.
De acordo com o Worldwatch Institute, cerca de 15% da superfície terrestre sofre algum tipo de problema relacionado a secagem de áreas úmidas. Esse fenômeno afeta mais de 110 países, prejudicando a vida de mais de 250 milhões de pessoas. O Brasil também apresenta áreas afetadas pelo processo de desertificação. De acordo com dados do Ministério do Meio Ambiente, cerca de 13% do território brasileiro é vulnerável à desertificação, pois é formado por áreas semiáridas. O processo de desertificação atinge porções da Região Nordeste, o cerrado tocantinense e o norte de Mato Grosso.
Com o intuito de reduzir o processo de desertificação, a Organização das Nações Unidas (ONU) criou, em 1994, a Comissão contra a Desertificação, cujo principal objetivo é elaborar projetos eficazes que possam deter a expansão desse fenômeno, principalmente nos países da África. Segundo um mapeamento realizado pela Universidade Federal do Alagoas, a desertificação do Nordeste brasileiro já atingiu uma área de 230 mil km² em 2013. Tanto a área já desertificada quanto a área mais propícia para o avanço do problema encontram-se no estado do Ceará, principalmente na região do município de Irauçuba. Ao todo, o desequilíbrio ambiental gerado afeta um número estimado próximo a 400 mil pessoas.
As principais causas da desertificação no Brasil envolvem o intensivo desmatamento das áreas já previamente suscetíveis, além da exploração dos nutrientes do solo de maneira não sustentável. O problema agrava-se quando a população padece de infraestrutura econômica, além da falta de investimentos, por parte do Estado, que poderiam evitar o problema, como a criação de reservas, auxílio para a agricultura familiar e o incentivo a técnicas agrícolas que conservem a estrutura superficial do relevo.