Astrônomos observam pela primeira vez um disco estelar "extragaláctico"
Trata-se do primeiro disco estelar extragaláctico observado pelo telescópio ALMA, na Grande Nuvem de Magalhães. Até agora, a existência deste tipo de disco só tinha sido deduzida a partir de observações.
Mecanismos conhecidos levam à formação de uma estrela com seu disco protoestelar. Estes são processos físicos que têm validade universal. Portanto, se esses processos atuam na formação de estrelas em nossa galáxia e em seus discos, presume-se que os mesmos processos também atuam em outras galáxias onde novas estrelas estão nascendo.
Contudo, discos estelares nunca foram observados em outras galáxias até agora. O telescópio ALMA merece crédito pela primeira observação de um disco estelar extragaláctico.
Como nasce uma estrela
Durante as fases de formação, as estrelas ficam rodeadas por poeira e gás (seus materiais constituintes) que, devido à rotação, tendem a se achatar e assumir a forma de um disco. O resultado é uma neoestrela giratória junto com seu disco protoestelar giratório.
Em média, 10 a 15 milhões de anos após o nascimento da estrela, o disco se dispersa completamente, pois parte dele caiu sobre a estrela, boa parte evaporou no espaço interestelar devido ao aquecimento da estrela, e parte foi levada embora pelos seus ventos.
No final, a estrela fica com seu sistema planetário e possivelmente um cinturão de asteroides.
O que o telescópio ALMA observou
ALMA é um telescópio, ou melhor, uma rede de 66 telescópios chamados 'antenas' porque observam comprimentos de onda milimétricos, invisíveis ao olho humano. Seu nome é a sigla de 'Atacama Large Millimeter Array' e está localizado no deserto chileno do Atacama, nos Andes.
A radiação captada por cada antena é enviada para uma estação que, por meio de técnicas interferométricas, é combinada para produzir uma única imagem do objeto observado, mas como se fosse observado por um único telescópio do tamanho de toda a rede.
O telescópio ALMA conseguiu detectar a presença de uma estrutura gasosa que gira em torno da estrela com velocidades mais rápidas em direção ao centro e menos rápidas em direção ao exterior; em outras palavras: um disco estelar giratório. Detectou também a presença de gás que aos poucos continua a precipitar-se sobre a estrela, aumentando a sua massa e confirmando que se trata de uma neoestrela.
A estrela descoberta chama-se HH1177 e está localizada na Grande Nuvem de Magalhães. Ao lado da Pequena Nuvem de Magalhães existem duas galáxias que giram em torno da nossa Galáxia, por isso são chamadas de galáxias satélites. A presença de regiões de formação de estrelas nestas nuvens já era conhecida.
A descoberta do disco em torno da estrela HH1177 pelo ALMA não é acidental. De fato, observações anteriores, realizadas com um instrumento chamado MUSE, montado no VLT (Very Large Telescope) do Telescópio ESO (European Southern Telescope), já tinham descoberto a presença nesta estrela de dois jatos bipolares de material provenientes da estrela (semelhantes aos representados artisticamente na imagem de capa desse artigo). Esses jatos são característicos da formação estelar, então supunha-se que a estrela tivesse um disco protoestelar.
Foi o ALMA, graças à sua elevada capacidade de resolução espacial, quem observou este disco.
A estrela HH 1177 apresenta uma curiosidade em comparação com as estrelas recém-nascidas da nossa galáxia. Na verdade, enquanto estas últimas estão completamente escondidas no seu envelope de gás e poeira e são pouco visíveis no infravermelho, a estrela HH1177 já é visível na banda óptica.
Acredita-se que essa diferença é devido ao fato de ter se formado em um ambiente diferente do nosso, e justamente pobre tanto em metais quanto em poeira. Esta evidência fornece informações úteis para compreender melhor como os processos de formação estelar dependem das características do ambiente em que se formam.