Até o final do século no Ártico precipitará mais chuva do que neve
A transição para um ambiente mais úmido e quente no Ártico ocorrerá mais cedo do que o esperado, e é uma má notícia para o mundo todo, dizem os cientistas.
O rápido aquecimento e a perda de gelo marinho estão levando a uma mudança em direção a um Ártico mais quente e úmido, onde é mais provável que chova do que neve, afirma uma equipe internacional de pesquisadores. Essa mudança pode ser devastadora para a região do Ártico, mas também tem efeitos prejudiciais para o resto do mundo.
As projeções dos modelos climáticos mais recentes sugerem que um forte aumento na precipitação é esperado no Ártico, com a maior parte desta caindo em forma de chuva. Isto não é surpresa - os cientistas já previram há muito tempo que um clima ártico mais quente também será mais úmido.
No entanto, o momento da transição é inesperado. A transição para um Ártico dominado pela chuva está previsto para começar em momentos diferentes, dependendo da estação, com o efeito particularmente forte no outono.
Modelos mais antigos previam que a mudança não ocorreria até o século 22, mas este novo estudo prevê que poderemos ver um Ártico mais úmido na década de 2070.
Sinais indicadores
Os primeiros sinais reveladores já estão se tornando conhecidos, quando os cientistas observaram chuvas, pela primeira vez na história, no ponto mais alto da camada de gelo da Groenlândia.
"O fato de estarmos recebendo chuvas no cume da Groenlândia agora e de talvez termos mais chuvas no futuro – meio que me deixa perplexo,” disse Michelle McCrystall, pesquisadora-chefe e pós-doutoranda no Centro de Ciências de Observação da Terra da Universidade de Manitoba.
O artigo, publicado na Nature Communications, alerta que a redução da cobertura de neve agravará ainda mais o Ártico e aquecimento global por meio de feedbacks do albedo, aumento dos fluxos de CO2 no inverno, liberação de metano do solo e degelo do permafrost.
O aumento da precipitação também afetará a umidade do solo e as águas subterrâneas, e as redes subterrâneas de fungos que sustentam toda a flora acima do solo. As baixas temperaturas também farão com que a chuva congele, criando camadas de gelo que podem impedir que renas e bois-almiscarados alcancem a forragem enterrada sob a neve.
“Existem enormes ramificações dessas mudanças, omo a redução da cobertura de neve, aumento do derretimento do permafrost, mais eventos de chuva na neve e maiores inundações devido ao aumento da vazão de rios, todos os quais têm implicações nas populações de vida selvagem e nos meios de subsistência humana,” acrescenta McCrystall.
A equipe diz que se o aumento da temperatura global permanecer abaixo de 1,5°C, a transição pode não ocorrer em algumas regiões do Ártico, mas se continuarmos na trajetória atual, onde as temperaturas podem aumentar em 3°C até o final do século, a transição provavelmente ocorrerá.
"Os novos modelos não poderiam deixar mais claro que, a menos que o aquecimento global seja interrompido, o futuro Ártico será mais úmido; uma vez que os mares congelados serão águas abertas, a chuva substituirá a neve,” disse o professor James Screen da Universidade de Exeter, também envolvido no trabalho.